CACHORRINHA DE MADAME

A cachorrinha da madame andava toda perfumada, com lacinho de fita, tão bonitinha.

Era freguesa assídua do pet shop e, pasmem, até as unhas eram cuidadas por uma profissional canina.

Seu pelo branquinho era sedoso, efeito da ração especial que lhe serviam, do shampoo importado e da escovação diária.

Aquele focinho preto parecia ter recebido um jato de spray de tinta brilhante; reluzia aos raios de sol.

Nos passeios pelo parque usava botinhas vermelhas, para que suas patinhas delicadas não sofressem com o atrito do asfalto, ou com a sujeira da grama.

Andavam procurando um cãozinho para cruzar com ela, mas estava difícil encontrar um com pedigree suficiente e que lhe merecesse tamanha atenção. Chegaram a colocar um anúncio no jornal, à procura de um candidato, mas nenhum foi aprovado.

Numa noite fria de um mês de julho aconteceu o inevitável. Ela sentiu o cheiro da beleza da noite, latiu para a lua e escorregou por uma fresta do portão.

“Vou ali ser feliz e volto quando a lua me trouxer”, pensou.

Dizem que a noite é uma menina, mas dessa vez ela foi longa e cheia de surpresas! Uma noite com jeito de mulher madura e sensual.

Sim... É isso mesmo que você está pensando, querido leitor: A cachorrinha da madame acabou encontrando um vira-lata, um desses cachorros envolventes, cheios de manha, que sabem conquistar uma cachorrinha perdida e sem rumo, procurando uma aventura, ou quem sabe até um amor verdadeiro.

Ao invés da caixinha de veludo grená, a poodlezinha acordou no cafofo do vira-lata, depois de uma noite cheia de beijos, lambidas, rosnados e muito amor.

Naquela manhã fria e chuvosa a pequena poodle teve um café da manhã com pão e manteiga, ao invés da ração importada das outras manhãs, mas seu coração pulsava forte, impulsionado pelas lembranças de uma noite muito movimentada e cheia de amor, ao lado de seu adorável vira-lata.