PREGADO NA CRUZ

Joãozinho era um preá muito sabido. Apendia tudo com muita facilidade. Às vezes, tornava-se inconveniente com suas historinhas cabeludas. Vivia arrodeado de amiguinhos roedores e juntos aprontavam todas no roçado de batata de seu Manoel, um roedor sertanejo, simples, trabalhador e muito dedicado a sua família.

Joãozinho, no entanto, era criado num regime familiar muito rígido. Seus pais não admitiam traquinices sem que, logo que descobertas, fossem acompanhadas da devida correção. Eles apenas queriam o bem de sua prole.

Certo dia, estava seu pai almoçando, desfrutando uma saborosa ramagem de batata e de repente chega Joãozinho todo choroso e envergonhado. O que foi, meu filho, perguntou o velho roedor. Mamãe bateu em mim na frente dos meus colegas, disse o acabrunhado preazinho. Tenho certeza que você fez algo de errado, disse seu pai.

Noutra ocasião, aparece o travesso chorando e se agarrando na saia de sua mãe. O que foi Joãozinho? Papai que me deu uma surra de palha de milho, disse o pequeno. E o que era que você estava fazendo? Ele não ia bater se você nada tivesse feito de errado, disse a mãe com a certeza habitual das ruindades aprontadas pelo filho.

Triste, cabisbaixo e incompreendido, o inocente resolve ir passar o dia na toca da sua avó, uma roedora compreensiva, religiosa e muito carinhosa.

Autorizado pela avó, Joãozinho foi jogar bola com os amiguinhos da vizinhança e sem querer chutou a bola com tanta força que ela caiu dentro do quarto da boa velhinha.

Pedindo mil desculpas, foi lá pegar de volta a bola para reiniciar a brincadeira. Ao chegar no quarto, Joãozinho observa na parede um preá todo ensanguentado, pregado e crucificado numa pesada cruz. Curioso como sempre e ávido por conhecimento, perguntou para sua amada avó: quem é madrinha? O que houve com ele? -Ah, meu filho, ele era um dos nossos e faz algum tempo que ele foi humilhado, pisoteado e pregado nesta cruz.

Sem pestanejar, Joãozinho compreendendo tudo, diz para acalmar aquele velho coração: fique tranquila, vovó, COM CERTEZA ele fez alguma coisa de errado para ter sofrido tanto assim!