Lembranças D’um Amanhecer

"Pensar é mover-se no infinito" - Lacordaire

... e lá estava ele parado naquela praia deserta, distraído – conversando coisas bobas com o mar –, quando algo – mais na alma que nos sentidos – chamou sua atenção. Olhou para o alto e sobre ele, a três ou quatro metros, um pássaro pairava, asas completamente estendidas, talvez voando ou talvez, quem sabe, apenas descansando serenamente em alguma corrente de vento. Tudo assim, desse jeito mesmo: Sem nenhum esforço: muito simples e muito natural.

Se acaso para aquela cena houvesse em nuvem próxima, naqueles segundos congelados pelo Eterno, algum anjo como testemunha, a ele seria dado ver um homem extasiado olhando para cima enquanto um pássaro exemplificava simplicidade para baixo.

O homem, como só os humanos sabem fazer quando ocultos estão aos olhos do mundo, lembrando da fábula, disfarçou a vergonha e gritou para a ave: És tu, Fernão?

E como se o entendesse, o pássaro, abandonando o coçar preguiçoso de uma de suas asas, respondeu com breve olhadela, onde pode mesmo ter havido o rápido piscar de um olho.

Então, como se tivesse cumprido sua tarefa, com um pio que pareceu um sorriso, o pássaro despediu-se e, sem evidenciar qualquer gesto que o impulsionasse, seguiu em frente escorregando mansamente por sobre os infindáveis braços vento.

...

e lá, naquela praia deserta, enquanto sua alma mansamente seguia um pássaro escorregando nos braços do vento, um homem distraído ouvia uma canção cantada pelas ondas do mar.

***

Sykranno
Enviado por Sykranno em 23/07/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T3113295
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