NOVO ESTILO LITERÁRIO - TRITROVIN

COMO E PORQUE SURGIU O ESTILO TRITROVIN

A princípio queria salientar que o estilo TRITROVIN não surgiu por uma questão de aventura ou de vaidade por querer aparecer ou criar mais um estilo poético entre tantos já existentes no Brasil e no mundo afora. É importante que exista essa clareza explicativa para pontuar a razão de essa quão extraordinária criação poética.

Há quase 40 anos que eu escrevo e a mais de 30 anos que lancei o meu primeiro livro de poesias. A poesia surgiu em minha vida, assim como o ar que respiro, sem esforço algum respiro e vivo, esta é a natureza de todo mundo. Comecei a escrever já acima dos meus 20 anos de idade, e ela (a poesia) surgiu em minha vida como uma necessidade existencial. Em São Paulo, morando sozinho, foi quando e como comecei a escrever poesia. Digo, comecei a escrever antes de conhecer qualquer forma ou técnica poética. Utilizava-me da técnica do simples falar. Só após ter lançado o meu primeiro livro em 1988, intitulado DENDROCLASTA, versos livres, foi que decidiu fazer Letras para saber como escrever melhor as minhas prosas e acima de tudo as minhas poesias.

Durante todo esse tempo escrevi muitos textos em prosas e em versos e até hoje tenho comigo um baú de alfarrábios, desde a década de oitenta, que de vez em quando, releio e passo a limpo para o computador.

Em 1997, formei-me em Letras, conheci as regras gramaticais mais tecnicamente e também as regras e os estilos poéticos da nossa literatura brasileira e portuguesa. Acima de tudo, estudei as métricas (cesuras) quão utilizadas pelos parnasianos, como fazedores de sonetos. No entanto, me recusei a fazer ou a utilizar o rigor parnasiano nas minhas poesias, ou seja, as métricas (cesuras) em redondilha maior (sete sílabas poéticas), em redondilha menor (cinco sílabas poéticas), em decassílabo ou em versos alexandrinos (doze sílabas poéticas). E assim, continuei a escrever meus versos livres, preso ao estilo e ao movimento modernista, quando em 1997, lancei meu segundo livro de poesias livres, intitulado PARADOXO EUNIVERSAL, exatamente, no dia da minha formatura em Letras.

Dez anos após, fazendo o curso de Filosofia na UFRN, conheci uma poetisa (Rosa Regis) que também fazia Filosofia e escrevia todos os seus trabalhos em cordel. Até então, eu não me interessava por esta “literatura menor”, como assim era apregoada por algumas Academias do Brasil. Até que, certo dia, na Biblioteca Zila Mamede, fui assistir a uma palestra de o cordelista Antônio Francisco, poeta potiguar, e quando o ouvi declamar AQUELA DOSE DE AMOR e OS SETE CONSTITUINTES do seu livro DEZ CORDÉIS NUM CORDEL SÓ, passei a sentir na alma o poder da poesia cordelistica, o ritmo a rima, e a riqueza de enredo que o cordel poderia conter... Eu me emocionei, com esses dois poemas. A partir daí, a mesma poeta me convidou para participar da SPVA-RN (Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN), depois para uma associação de cordelistas; só então que me debrucei para realmente aprender a técnica do cordel e passei a fazê-lo. Quando o aprendi era como se tivesse desvendado o verdadeiro enigma da poesia como um todo e não apenas a técnica do cordel em si. Foi então que, numa semana apenas, escrevi mais de dez cordéis de um fôlego só. Daí, eu fui a minha primeira Bienal do Livro, em Natal, como cordelista naquele mesmo ano.

Agora, sabedor da metrificação (cesuração) de um poema na forma fixa, passei fazer trovas tradicionais, haicai, sonetos como todo e qualquer Parnasiano, e também fui observando que os próprios poetas ditos Modernistas, tais como, Manoel Bandeira (VOU-ME EMBORA PARA PASÁRGADA, em redondilha maior), Carlos Drummond de Andrade (MEMÓRIA, em redondilha menor) Vinícius de Morais (SONETO DE FIDELIDADE, em decassílabo), João Cabral de Melo Neto(MORTE E VIDA SEVERINA, em redondilha maior); Fernando Pessoa (AUTOPSICOGRAFIA, em redondilha maior); Florbela Espanca (SONETO FANATISMO, em decassílabo) e tantos outros, que jamais abandonaram a técnica da poesia clássica. Inclusive, o poeta Mário Quintana, tem um texto: CARTA (a um poeta) que aconselha todo poeta a conhecer ou fazer um soneto clássico.

Pois bem, feito a explanação acima; de vez e sempre, revejo os meus primeiros poemas escritos, ainda no auge da minha vaidade de poeta modernista, sabedor e vivente da liberdade de escrever livremente os meus versos, por sinal, muitos poemas longos e com diversas abordagens temáticas. Foi justamente aí, que nasceu a inspiração do TRITROVIN; e, de posse de um poema escrito, ainda nos idos dos anos noventa, de forma livre, mas com o seu ritmo próprio e a liberdade que a poesia moderna nos dá. Li e reli... Li e reli... Isso aconteceu por centenas de vezes. Até que, ouvindo na memória o poema A TRISTE PARTIDA de Patativa do Assaré, na voz de Luiz Gonzaga, surgiu o insight, ou seja, a necessidade gritante e desesperadora de criar o TRITROVIN. Não digo criar, exatamente, mas de deixar fluir naturalmente, assim como um rio que sai transpondo barreiras, pedregulhos e lamaçais, até encontrar a sua trilha e seguir o seu fluxo conforme a natureza lhe vai guiando... Assim foi, é, e será o estilo TRITROVIN, sempre uma experiência poética vivida intensamente pela necessidade de se ser poeta, com ritmo, musicalidade que toda poesia É. Sim, é bom lembrar que as estrofes, o ritmo e a criação em si, sugiram primeiro, depois foi que veio o nome da criação em si, como é a própria origem de um ser quando gerado. Para mim foi uma gestação puramente poética!

A propósito, isso se deu em 2018, e o livro A ESTAÇÃO ZERO: A LEI DO VAGÃO, com 87 estrofes, já está editando e pronto para ser lançado desde 2019. E 2020 seria o ano de seu lançamento, porém ainda não aconteceu. E assim como este poema em versos livres foi transformado em versos metrificados no estilo TRITROVIN, muitos outros poemas da década de oitenta e noventa estão se transformando em poemas fixos de redondilha menor, que é a característica essencial do TRITROVIN. Certamente o TRITROVIN pode ser considerado o filho mais novo do cordel, por isso, também pode ser chamado de cordelzinho, não para diminuí-lo, mas por humildade da redondilha menor; e, sim, para enaltecê-lo; posto que ele se origine de trovinhas e de quadrinhas em redondilha menor, eis então, a grandeza em humildade do estilo TRITROVIN.

FLUIDEZ TEXTUAL

Atualmente vivo num processo de evolução artística e me deixando levar pela fluidez textual. Oriundo da Corrente Literária Moderna influenciado pela Semana de Arte de 1922, escrevi cinco livros nesse estilo: O Recado, São Paulo – 1987; Dendroclasta, São Paulo/SP - 1988; Paradoxo Euniversal, Natal/RN – 1997; Pensariando Livromente – Natal/RN - 2012; e Amorteamo, Natal/RN – 2014.

O Modernismo me fez navegar por muitos anos nas suas águas suaves e calmas na liberdade de escrever em versos livres.

Assim sendo, decorridos mais de 30 anos, relendo os meus escritos em prosas e em versos modernistas, fluiu em mim, a necessidade de escrever o estilo TRITROVIN influenciado principalmente pela poesia de forma fixa, em métrica (cesura); assim como, o soneto, a trova, o haicai e acima de tudo, a Literatura de Cordel. Esta me fez enveredar para o inusitado mundo da poesia de forma fixa, para a criação de variados títulos de cordéis com temáticas diversas, onde atualmente já escrevi uma centena deles; no entanto, tudo surgiu necessariamente como uma forma natural de justificar a necessidade de criar algo novo. Digo novo por me deixar levar pela necessidade da fluidez e da evolução da palavra e da forma textual.

Então levado por essa fluidez textual, em 2018, escrevi dois livros intitulados: Poesiflorando Amor e O Pássaro Beijamores. Estes dois livros tratam da evolução e fluidez textual da qual eu me referi anteriormente; isto porque, o Poesiflorando Amor trata-se de um livro em prosa e verso, diga-se de passagem, em versos livres, porém totalmente metrificados em sete sílabas poéticas, tanto a prosa quanto o texto em poesia livre.

Portanto, O Pássaro Beijamores de Literatura de Cordel, trata-se de um romance poético que foi escrito totalmente em septilhas (estrofes com sete versos) e em sete sílabas poéticas (redondilha maior), com total de 345 estrofes.

Ainda seguindo a linha da Literatura de Cordel, escrevi o livro intitulado Contos Femininos, em 2014, e transformei, digo, a narrativa em prosa fluiu, evoluiu textualmente e vários desses contos se transformaram em cordéis, cito aqui, apenas alguns títulos: As Três Marias; As Traições de Lindalva; As confissões de Jovelina; A Mulher Toda Coração; Os Desafios de Evaneide, entre outros.

Deixando me levar pela natureza de ser poeta e de criador da arte poética em sim, pego os meus alfarrábios, ainda escritos nas décadas de oitenta e noventa. E me debruço sobre o poema Estação Zero: A Lei do Vagão, escrito em versos livres nos primórdios do ano noventa, quando vi pela primeira vez, um presidente eleito democraticamente ser tirado do seu cargo através de impeachment. Esse longo poema moderno ficou a hibernar por 26 anos, que fala do abandono do Brasil em 1992, com se fosse um trem à deriva. Por muitas vezes o li e o reli, mas não me sentia bem com a leitura que fazia. Acreditava que faltava sempre algo nele. Alguma coisa mais impactante, mais dinâmica e cativante. Cheguei a refazê-lo por várias vezes, até que em 2018, vi fluir o insight, a luz da inspiração e comecei a mudar tudo que já havia feito por muitas vezes nele. Quando percebi, eu me vi cantando A Triste Partida de Patativa do Assaré na voz de Luiz Gonzaga e nascendo, ao mesmo tempo, o ritmo cantante da redondilha menor e fechando exatamente com doze versos, (diga-se de passagem, uma raridade de estrofe), formando uma estrofe em dodecaverso; aí, senti que algo inusitado estava emanando das entranhas do meu âmago poético. Fiz a primeira estrofe, a segunda, a terceira... E por fim, concluí a epopeia com o somatório de 87 estrofes. Li e reli, daí comecei a lapidar o poema, aparando suas arestas e inserindo alguns detalhes mais relevantes para o poema se tornar um filho legítimo e autêntico do cordel.

Para não ser igualmente ao cordel e nem se confundir com ele, à trova nem à quadra, o TRITOVIN tem como peculiaridade a redondilha menor, ou seja, ele tem como característica principal, as cinco sílabas poéticas. Posto que a trova, a quadra e o cordel, na sua maioria são escritos em sete sílabas poéticas.

O TRITOVIN para ser autêntico tem de ser em redondilha menor e ter sempre na última trovinha, a rima do penúltimo verso, iniciando o último verso e assim fechar a completude do TRITROVIN com seu conteúdo e a sua mensagem concisa, apenas em uma única estrofe, ou quantas estrofes o poeta sentir necessidade em fazer... Porém, sempre tem que ter um título.

Eis aqui, alguns títulos dos poemas recém-criados oriundos da fluidez textual e da evolução, e da necessidade criativa... Todos os textos foram outrora escritos em versos livres, nas décadas de oitenta e noventa, que estão no prelo para serem lançados ainda este ano. BAÚ DE MISTÉRIO; TEU CHARME PERENE; ÊXTASE AMARGO; MENINA MISTÉRIO; UM HOMEM COMUM; e VIVENDO O PRETÉRITO. Certamente, muitos ainda irão surgir, porque o baú de alfarrábios ainda continua cheio de poesias modernas querendo se transformar em TRITROVIN. Sou um modernista parnasiano, como assim é, todo estilo cantante e ritmado da própria fala.

UMA PROPOSTA DO ESTILO POÉTICO: TRITROVIN

TRITROVIN é um estilo poético de forma fixa, metrificado (cesurado), criado pelo poeta, professor, filósofo Emecê Garcia, em 2018, Natal RN, com a obra título inicial: A ESTAÇÃO ZERO: A LEI DO VAGÃO, que contém uma totalidade de 87 estrofes em dodecaversos.

Trata-se de um poema com uma estrofe de doze versos (dodecaverso). Ou seja, três trovinhas, DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABAB / CDCD/ EFEF; mas também, pode ser composta de 1(uma) quadrinha e 2(duas) trovinhas DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABCB / DEDE/ FGFG; ou, de 2(duas) quadrinhas e 1(uma) trovinha DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABCB / DEFE/ GHGH, sendo esta trovinha, sempre a última, formando a estrofe em dodecaverso; ou seja, de doze linhas ou doze versos, onde sempre o último verso, inicia com a rima do penúltimo verso. Perceba que há uma independência das rimas entre as quadrinhas e/ou as trovinhas, ou seja, são todas independentes. Mas elas também podem se entrerelacionarem, ficando a critério do poeta. Eis aqui a peculiaridade do TRITROVIN e o diferencial de outras formas poéticas. Portanto, tem que ser uma estrofe completamente, em redondilha menor, ou seja, cinco sílabas poéticas! Por isso, a denominação de trovinha ou quadrinha. Porque a Trova tradicional e a quadra tradicional, ambas são, em sete sílabas poéticas, ou seja, em redondilha maior. Eis aqui a diferença entre elas.

O poema TRITROVIN pode ser feito com uma única estrofe ou com quantas estrofes o poeta quiser, desde que seja criado um enredo coerente; uma narrativa poética, ritmicamente com a sua musicalidade proporcionada através da redondilha menor (cinco sílabas poéticas). As rimas são dispostas com a mesma natureza da trova, do soneto e do cordel, mas sem o rigor das rimas (mel/fel); (amor/primor) e todas as demais; podendo rimar (céu/fel); (amor/estou) e todas as demais rimas. Ou seja, as rimas tanto podem ser foneticamente, quanto morfologicamente. No que tange à pontuação, esta é livre, ficando a critério do poeta fazê-la ou não, porém para encerrar a estrofe em dodecaverso tem de ser pontuada. É necessário ter um título, mesmo que seja um poema de uma única estrofe, ou seja, em dodecaverso. E ainda, no TRITROVIN é aceito no máximo 25% de quebra do verso, ou de pé quebrado, isto é, desde que não seja menor que 4 nem maior que 6, sílabas poéticas ou na contagem da métrica (da cesura), apenas com uma única exceção dos 4 versos últimos, em que forma a última trovinha, nesta não devem existir pé quebrado, tem de ser uma trovinha perfeita. Seguem os exemplos da estrutura de como fazer, o TRITROVIN:

1 - EXEMPLO DE ESTROFE COM 3 TROVAS

NO MESMINHO BARCO

Estamos no barco

Em busca dum norte

Partindo dum marco

Desejo bem forte...

Mas todo futuro

Depende de Deus

Um Porto Seguro

Bem maduro dos eus...

Grandeza do ENSINO:

Viver com louvor

No poder DIVINO

DESTINO, só o amor!...

DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABAB / CDCD/ EFEF

2 - EXEMPLO DE ESTROFE COM 1(UMA) QUADRA E 2(DUAS) TROVAS

BEIJA-FLOR AMIGO

Beija-flor não pode

Deixar carecer

A flor do Jardim

Senão vai morrer...

E se ela lhe chama

Com sua chama de ardor

O seu afã se inflama

Deveras só de amor!

Sendo COLIBRI

Poderá doar

O pólen GERIR

PARTIR, germinar!

DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABCB / DEDE/ FGFG

3 - EXEMPLO DE ESTROFE COM 2(DUAS) QUADRAS E 1(UMA) TROVA

AMIGO DILETO

Presente maior

Neste grande dia

É ter teus amigos

Cantando poesia!

Com teu violão

Amigo dileto

Tu és menestrel

Seguro e concreto!

E rimando FAZ

Com muita virtude

Tu semeias a PAZ

VORAZ com saúde!...

DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABCA / DEFE/ GHGH

4 – EXEMPLO DE QUEBRA DE VERSOS EM 25% COM EXCEÇÃO DOS 4 VERSOS FINAIS.

BUSCANDO O PRETÉRITO

1 - Meu/ de/sa/sso/SSE/go 5

2 - A/pos/sa/-se/ de/ MIM/; 6

3 - Dis/trói/ meu/ a/PE/go 5

4 - Se/rá o/ meu/ FIM/?... 4

5 - Mu/ti/la o/ meu/ SER / 5

6 - De ho/mem/ dis/TIN/to; 4

7- Es/tra/nho/ vi/VER/ 5

8 - De/ve/ras/ não/ MIN/to! 5

9 - Me/xe/ min/ha/ MEN/te 5

10 - E o /meu/ co/ra/ÇÃO/; 5

11 - Não/ fi/co /de/MEN/te 5

12 - Men/te a/ de/pres/SÃO!/ 5

DISPOSIÇÃO DAS ESTROFES: ABAB / CDCD/ EFEF

Natal, 12 de julho de 2020.

Emecê Garcia é poeta, filósofo e professor pós graduado em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

EMECÊ GARCIA
Enviado por EMECÊ GARCIA em 01/10/2020
Reeditado em 03/04/2022
Código do texto: T7077302
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