De grão em grão [91]

MUDANÇA

Quando a gente faz mudança, precisa tirar tudo do lugar. Movimentar, desencostar, arrastar, separar, juntar. Fazemos uma bagunça danada, pra depois arrumar tudo de novo. Só que não nos mesmos lugares...

Um trabalho interminável. Demora meses pra acabar. Isto, SE acabar antes de ficarmos acabados. Custa caro, quebram coisas, precisa ajustes, novos móveis, não cabem alguns antigos. Vira daqui, revira dali, estica e puxa. Vai dando-se o jeito que seja possível.

Deveria ter uma forma de nos mudarmos simplesmente apertando um botão. Controle remoto? Ou por e-mail, já pensou? A dois cliques de distância. Eu penso é no preço que isso custaria...

Nesse processo todo (o físico mesmo, não o virtual, pelo menos por enquanto), encontramos alguns objetos perdidos ou esquecidos e perdemos outros... Inevitavelmente.

Além disso, encontramos tanta sujeira atrás das coisas e nos vãos sempre encostados, que não sabemos de onde terá surgido tanta imundície... nunca imaginamos que nossa casa teria tanto lixo escondido.

Não digo só da poeira intrometida, das teias de aranha, do bolor. Tem muita coisa que vamos guardando, acumulando, mantendo lá, mesmo sem ser vista mas que nos faz muito mal. E nos damos a desculpa que não temos tempo de jogar fora.

Aí, só quando a mudança nos obriga a tirar tudo do lugar, limpamos, organizamos, selecionamos, descartamos. E nos renovamos. Porque mudança gera vida nova. Um novo processo de acúmulos...

PS: Escrevi este texto a propósito da mudança de residência que fiz recentemente, porém ele pode ser lido pensando-se em outros tipos de mudanças e acúmulos, por exemplo, de sentimentos-lixo que vamos guardando... Sugiro que releia-o pensando nisso.