De grão em grão [81]

Dedico ao amigo e psicólogo,

Leo Machado do Nascimento

A psicoterapia é para mim como se fosse a consulta a um oráculo, detentor de sabedoria e conhecimentos insondáveis.

Originalmente, se atribuía a alguma divindade a resposta dada por um oráculo a alguma pergunta geralmente relacionada ao futuro. Atualmente, é possível encontrar teorias baseadas em oráculos definidas como a busca por uma compreensão inspirada em si mesmo ou no próprio inconsciente.

Várias civilizações antigas, como a grega, chinesa e escandinava, consultavam oráculos para diversas finalidades. Para os gregos, eram de fundamental importância na religião e na cultura. Constituíam locais determinados, em que se realizavam cultos para que se ouvisse a resposta almejada. Entretanto, tais respostas dos deuses eram expressas de várias formas, exigindo habilidade de interpretação.

Por exemplo, quando Creso, rei da Lídia, consultou o oráculo antes de atacar o Império Aquemênida, recebeu a seguinte resposta: “Se lançares a guerra um império cairá.” Creso atacou entendendo que seu inimigo cairia, mas foi derrotado e seu império caiu. Interpretações de acordo com a conveniência são mesmo muito perigosas.

Talvez o mais famoso seja o Oráculo de Delfos, em que havia a inscrição logo na entrada “Conhece-te a ti mesmo”. Esta frase encerra em si ao mesmo tempo o objetivo e o mecanismo da psicologia.

Na psicoterapia, diante do oráculo, expomos nossas aflições e angústias em busca de respostas, que raramente nos são dadas explicitamente. Ouvimos reverberações na nossa alma, verdadeiros ecos da nossa própria fala. Acreditando termos ouvido a pronúncia da boca muda do oráculo, ou por meio de expressões enigmáticas cuja interpretação fica a nosso cargo, tiramos nossas próprias conclusões.

A meu ver, a psicoterapia não é para resolver problemas, mas para se aprender a resolver os problemas. Diferença sutil.

Este trabalho de falar e ouvir a nossa própria voz nos faz dialogar com nosso inconsciente, trazendo a tona aspectos escondidos, esquecidos, renegados e importantes, que mesmo sem sabermos estão influenciando muitos outros da nossa vida.

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 11/02/2015
Reeditado em 11/02/2015
Código do texto: T5133431
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