De grão em grão [16]

“Escrevo na solidão do meu escritório. Sozinho,

não sinto vergonha porque não há olhos

que me vejam. Confessada como literatura,

a vergonha se torna suportável. A literatura

é a ‘feiticeira curante’ que pode transformar

a vergonha em arte.” (Rubem Alves)

Sofro de um mal chamado solidão. E ela me acompanha constantemente. Tento escapar dela refugiando-me com outras companhias. Mas ela fica de espreita, de plantão, e me abocanha sempre quando menos percebo.

Já escrevi muito sobre a maldita praga inescapável. Muito poema, muito texto aliviador. Mas ela insiste, persiste, não me abandona nunca. Mesmo cansado. Mesmo enjoado. Não há o que fazer...

A pior solidão é aquela que se sente em meio a uma multidão – de pessoas, de amigos, de e-mails, de lembranças, de coisas para fazer. Aquela solidão que sentimos quando nos perdemos dentro da gente mesmo. Aí parece que nenhuma companhia externa é capaz de espantar a solidão...

Ponho-me então a escrever. Uma multidão de palavras soltas, ao vento, sem sentido, mas muito sentido.

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 18/07/2014
Código do texto: T4886599
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