POESIA É VOO

Luciana Carrero*

“Essas lições que chamo didáticas do Poeta Moncks ajudam a ampliar nosso conhecimento, não só na poétíca, como em outros tipos de escrita também!”

Com este comentário acima, uma leitora do escritor e crítico literário brasileiro Joaquim Moncks, instigou-me a pronunciar-me sobre o assunto importante no contexto das letras. Este acontecimento vem do meu Facebook. Trago-o aqui como colaboração dentro da minha missão de trabalhar institucionalmente nos caminhos da Poesia.

Acho bastante interessante a visão da interlocutora que introduziu um feedback, que aproveito para explorar mais fundo e para dizer que ela está correta, ao olharmos do ponto de vista genérico de que ensinar é didática. Mas quero acrescentar, para abrilhantar a oportuna e importante visão da interlocutora, que a didática não se coaduna à Poesia pura, como inspiração, essência. Tenho acompanhado com bastante atenção, esta senhora, e vejo que tem uma visão bastante aguçada do universo da poesia. Inferi, ainda, que possui o conhecimento desta ideia que inseri como plus, mas não a abordou porque não estava fazendo uma análise profunda e sim um comentário rápido. Agradeço a ela que nos acompanha, sempre atenta e participativa em nossos estudos. E nos instiga ao aprofundamento.

Aprecio muito o esforço sempre bem sucedido e norteador do escritor Joaquim Moncks em traçar parâmetros institucionais dentro da arte poética. Considero que sua atitude visa abrir caminhos para o estudo e o raciocínio de quem se interessa por ela, ou por andar neste meio. Mas o poeta tem de ser autodidata. Poesia essencial não suporta bacharelado. Por isso eu não chegaria ao ponto de considerar a atuação Monckiana como didática. O didatismo seria uma espécie de censura ao elemento criador. Didática na poesia nenhum poeta aceitaria. O escritor mineiro Rubem Alves diz, sobre o ensino convencional, algo que podemos transportar para cá, ao analisar nosso contexto: “Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Seu dono pode levá-los para onde quiser. Deixaram de ser pássaros. Porque sua essência é o voo. Escolas que são asas amam pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros". Joaquim Moncks tem plena consciência disso e o que ele faz é mostrar o panorama. Não há nele o sentido de engaiolar, impor didaticamente, mas instigar. Aí reside a aceitação que damos ao Moncks nos meios literários, na missão que tomou para, de ofício, ser um norte, farol, exemplo. Pode ensinar técnicas do verso, mostrar o que é poesia e todo o seu universo, mas a Poesia mesmo, já vem dentro do poeta, como nasce o voo dentro dos pássaros. Não há didática para ensinar a ser poeta.

* Produtora Cultural, reg. 3523, LIC/SEC/RS