Entrevista com o Poeta Popular Zé Bezerra, o "Águia de Prata"

 

 

 

Entrevista com o poeta popular José Bezerra de Carvalho,
poeta Zé Bezerra, o “Águia de Prata”



- Seu Zé Bezerra, por que e como o senhor começou a se interessar por literatura e poesia ? Qual o seu primeiro contato com a literatura?

- Assim que aprendi a ler, eu comecei a comprar folhetos de cordel e lê-los aos domingos para amigos e vizinhos.


- Qual é a função da literatura e, mais especificamente, da poesia? Poesia e literatura servem para quê?

- A literatura tem como função transmitir um fato ou uma estória com espaço e personagens sólidos; a poesia é algo que divulga o que não se sabe, mostra o que não se pode ver, é a expressão do intangível, invisível e inaudível, uma coisa que mexe com o que você sente.


- Para o senhor, o que é e o que não é literatura ou poesia?

- A literatura é tudo que expressa uma informação, um conto, uma estória, a própria história com o objetivo de apenas informar sem estar obrigada a expressar um sentimento ou induzir alguém a sentir algo, a poesia tem forma de escrita diferente e se preocupa em transmitir principalmente um sentimento ou induzir alguém a sentir algo em ocasião desta.


- Quais os autores que mais o influenciaram? Cite alguns poetas e/ou escritores pelos quais o senhor tem admiração.

Eugênio Gomes de Barros, João Martins de Ataíde, e José Bernardes da Silva, que foram poetas pelos quais iniciei minhas primeiras leituras de poesia. Rui Barbosa, José do Patrocínio, José de Alencar, escritores e romancistas.


- Hoje em dia, com as facilidades do mundo moderno, cheio de mil e uma opções, ainda há espaço para a poesia, diante da variedade de coisas, muitas delas de qualidade duvidosa, oferecidas diariamente para as pessoas?

- Com tudo isso, o espaço é pouco, mas ainda pode-se tirar proveito dessa situação; é uma pena que há a vulgarização da poesia com expressões chulas, às quais a juventude tem acesso facilitado


- Existe algum poema, frase ou pensamento que sempre o acompanhou ou acompanha por toda a vida? Qual ou quais?

- Tenho. “Querer é poder; trabalhar é vencer”. “O fracasso faz parte da luta, e nos empurra para a vitória”. “Não há duvidamos que possamos dissipar, mas quando dissipamos vencemos a timidez”. “Mais sábio é aquele que sabe uma só verdade do que um milhão de mentiras”; “Com um pequeno gesto dizemos o que com muitas palavras não conseguimos dizer”. Entre muitos outros.


- O senhor mantém há algum tempo a Biblioteca da Literatura Popular “A Voz da Poesia”. Qual o objetivo dela? O público tem procurado muito por ela? Qual a sua frequência de visitas habitual? Quem são as pessoas que a procuram? Vale a pena lutar pela cultura e literatura populares?

- O objetivo da Biblioteca é proporcionar um espaço para a exibição de trabalhos de literatura de cordel, há trabalhos não somente meus como também de outros autores, foi uma iniciativa minha e tenho mantido com recursos próprios, embora precise de uma estrutura mais adequada o espaço tem servido muito, a finalidade da biblioteca é tornar viável ao público, apesar de não ser muito freqüente a sua participação. Os freqüentadores da biblioteca são pessoas ligadas à área educacional como estudantes de diversos níveis, do infantil ao ensino superior e profissionais da educação. Dedicação à cultura é valorização de si próprio, a cultura é tudo o que o homem expressa de si mesmo e com a sua comunidade e isso é muito importante, correr atrás disso e preservá-la.


- Qual(is) o senhor considera que seja(m) o(s) seu(s) melhor(es) poema(s)? Cite um trecho dele(s).

- Um dos poemas que mais gosto de recitar é “Eu não lhe conheci” e ele diz assim:
“Aquele que me conforta
Já bateu em minha porta
Ficou ali de per si
Fiquei para ele olhando
Ele comigo falando
E eu não lhe conheci”.


- O que o senhor acha da utilização da internet e de outros meios ditos modernos para a divulgação de obras e autores? O livro corre algum perigo de extinção?

- Todo meio que facilite a comunicação entre as pessoas, desde que usado com responsabilidade e respeito ao outro é de total importância para se transmitir conhecimento. Não vejo a internet como algo que possa acabar com o livro, não creio nessa extinção tão iminentemente.


- Quais as dificuldades enfrentadas por um escritor poeta para publicar sua(s) obra(s)?

- As dificuldades são mais de incentivos, patrocínios e financeiras. A publicação de um livro é muito cara.


- Qual o tipo de público que mais aprecia as suas obras? Há interesse das novas gerações pela literatura de cordel e cultura popular?

- Como já havia dito, o público que mais aprecia são pessoas ligadas à educação como professores, alunos entre outros profissionais da educação que vêm aqui com o objetivo de pesquisa, os jovens por esse motivo são os que mais procuram.


- Como o senhor vê a situação atual da literatura no Piauí? E no Brasil? Existe apoio de algum tipo ou mesmo incentivo para a produção cultural, literária e, especialmente, de poesia?

- A literatura piauiense apesar de ser bastante rica está sendo suprimida pela falta ou mesmo pelo fraco incentivo e a literatura popular enfraquecida em parte pela obsessão dos jovens pela literatura estrangeira, embora não seja isso realmente o problema, mas sim a forma como essa literatura aborda nossos jovens com modismos e, apesar de ser uma literatura que aborda temas interioranos reais, a mística parece ser mais do gosto da juventude.


- Que conselhos o senhor daria para quem está iniciando na área da literatura e de poesia?

- Aconselho que siga em frente, é uma caminhada árdua, mas bastante recompensadora, não desanime pelos empecilhos, tudo feito com esforço será recompensado.


- Para finalizar, expresse algo que deseja tornar público

( sem resposta)



Grato.