Opinando e Transformando - Edival Lourenço de Oliveira

Nome: Edival Lourenço de Oliveira

Breve Currículo: Edival Lourenço (1952), natural de Iporá (GO), vive em Goiânia, Goiás, Brasil. Advogado, aposentado da Caixa Econômica Federal, atual presidente da União Brasileira de Escritores – Seção de Goiás ocupa a cadeira 22 da Academia Goiana de Letras, colunista do Jornal O Popular e da Revista Bula. Membro do Conselho Municipal de Cultura e Co-apresentador do programas Raízes Jornalismo Cultural, pela PUC TV. Autor dos livros: poemas (6), crônicas (3), contos (2), romance (2). Todos receberam prêmios regionais. A centopéia de neon recebeu o prêmio nacional de romance do Paraná e Naqueles morros, depois da chuva recebeu os prêmio Jaburu e Jabuti (2º lugar)– 2012. Recebeu o prêmio Nacional de Crônicas do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Lançou em março de 2015 o volume de Poesia Reunida.

Reside: Goiânia

Em sua opinião, o que é cultura?

Cultura no conceito antropológico é toda atividade humana. Tudo o que produzimos, tudo o que fazemos, tudo o que falamos, tudo o que gesticulamos, comemos, vestimos, julgamos como certo ou errado, tudo o que pensamos tudo o que se revela de alguma forma simbólico e nos faz humanos, sui generis, diferente de toda a fauna que habita ao planeta é cultura.

Já do ponto de vista estético, arte é tudo o que fazemos com um propósito simbólico, estético, não-utilitário. São as artes de um modo geral, como a música, a literatura, a dança, a pintura, o teatro etc.

Esses conceitos causam muita confusão. A cultura que merece um ministério, uma secretária com orçamento, uma estrutura de estado para ser cuidada é a cultura do segundo conceito. São as artes. Mas o ministério da cultura do Brasil tende a adotar o conceito antropológico e aí o ministério se esgarça. Se tudo é cultura, o minc seria responsável por tudo. Chegaríamos a uma situação teratológica (monstruosa) que a escolha do presidente da república, que é uma atitude cultural, teria que passar pelo minc. Claro que isso é só um exagero para mostrar aonde poderia, em tese, levar o equívoco. Mas por erro conceitual, o minc não tem foco, financia coisas como alta costura, como cultura (que é no sentido antropológico). Costura já tem o ministério da indústria e comércio para financiar.

Você se considera um difusor cultural?

Me considero sim. Na medida em que publico livros. Na medida em que dirijo uma entidade cultural com mais de 500 associados, que repasso diariamente informações culturais a esse grupo. Na medida em que escrevo para veículos de comunicação como O Popular e Revista Bula, que participo de um programa semanal de entrevista na PUCTV, na medida em que publico assuntos culturais nas redes sociais. Na medida em que discuto cultura pessoalmente com diversos interlocutores.

Qual é o seu papel neste vasto campo da transformação mental, intelectual e filosófica?

Tenho dois papéis. Um de consumidor de ideias e outro de produtor e difusor de ideias. Tenho um papel passivo e outro ativo. Na digestão desses dois papéis é que me faço difusor de cultura, um transformador social, um resistente á pasteorização cultural do mundo, como é a intenção do capital em sua ação globalizante.

Como você descreve o processo de aculturação, ao longo da formação da sociedade brasileira?

Sempre fomos dominados por uma elite perversa, preocupada em manter o povo no maior grau de ignorância possível. Basta olhar a política ao longo da história e o estágio em que ainda estamos. Fomos o último país ocidental a promover a liberação dos escravos. O último a fazer a universalização legal do ensino primário, que só aconteceu no segundo governo de FHC. Mas na prática ainda não aconteceu. A sociedade não valoriza a leitura nem apreciação de qualquer manifestação artística mais elaborada. O nosso ensino é um horror, com quase 70% da população vivendo no analfabetismo funcional. Existe um grande número de pessoas pós-graduadas que não conseguem ler (e entender minimamente) um simples artigo de jornal. Nossa auto-imagem é pálida. Nossa identidade cultural ainda está num processo incipiente de formação. Temos muito trabalho pela frente.

A cultura liberta ou aprisiona os indivíduos?

Depende de suas referências filosóficas. Hoje, o sujeito mais culto é prisioneiro de uma preocupação e até de uma revolta por assistir a tanta baixaria e barbaridade sem fim. O sujeito mais tosco consome o lixo cultural numa boa, com total liberdade. Mas essa liberdade aliena e aprisiona ao longo do tempo. O aprisionamento do culto esclarece e liberta em longo prazo. É isso.

Que problemática você destaca na prática da difusão cultural?

Vivemos uma espécie de impasse: Como não nos refinamos antes, quando a maioria dos países se refinou, agora temos uma ignorância cristalizada e bruta que impõe o mau gosto como sendo o supra-sumo da bossa. A cultura elaborada vem perdendo espaço. Por isso nos cabe promover atos de resistência.

Comente sobre o espaço digital, destacando sua importância no cenário cultural brasileiro e mundial?

O espaço digital é importante em razão da velocidade e da abrangência. Por retirar o monopólio de grandes grupos pela difusão cultural. No entanto, por outro lado, como disse recentemente o escritor Umberto Eco, qualquer idiota pode dar sua opinião sobre qualquer assunto. Como, de um modo geral as pessoas não têm senso crítico para fazer distinção do que é razoável do que não é, a besteira rola solta hoje em dia, muito mais do que em qualquer outro tempo anterior.

Qual mensagem você deixa para todos os fazedores culturais?

Fazer cultura é um trabalho longo, árduo e imprescindível para a melhor condução da espécie humana. O verdadeiro artista não desiste nunca.

Dhiogo J Caetano
Enviado por Dhiogo J Caetano em 24/09/2015
Código do texto: T5392947
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