Nada será capaz de destruí-lo

      Este poema é um sonho de liberdade, de contrição e revolta face à dureza impassível da vida, do destino, da coisificação que raramente percebemos regendo o mundo. E é também um canto de amor cordato a alguém que simboliza a Beleza, o Bem, a Arte...
  
 
 

                       Não Farei Carnavais em Letras!
"verdes palavras" (metonímia) - palavras amenas, de esperança, cândidas, animadoras, que ocultem o seu sentimento de inutilidade, de miserabilidade, de “bicho da terra, vil e tão pequeno” camoniano.
O dístico:

      "Então, deseja receber o que eu sou
       mas sem abraçar os meus infernos?"

 
traz uma metáfora ("sem abraçar os meus infernos"), pois que ninguém quer nem dispõe de infernos para abraçar. 
     E onde ela declara implicitamente que tem virtudes sim, todavia possui também uma alma tormentosa, pecadora, rancorosa, mordaz, impiedosa, inconsequente - tanto que considera essas características habitantes dos seus infernos. E exige ciência e aceitação de todo o seu ser pelo amado.
E na estrofe:

       "Ah, como sou romântica! 
        Sarcástica,
        louca,
        complexa em meu louvor tirano!"

 
ela se expõe inteiramente, sem pudores inúteis a essa altura da vida e do amor.  O parceiro que a entenda e a acolha assim...
      E quanto a "em meu louvor tirano", trata-se de uma expressão plurissignificativa, aberta a várias interpretações; por isso, entendi-a (também) como o jeito soberbo, orgulhoso, endeusante dela, que se elogia, se valoriza fartamente, 'tiranicamente'.
       Personificação:
         
"Eu não pedi olhos que me
         construíssem castelos!"

 
     Ora, olho não constroi, olho olha, auxilia a mente a se admirar ou horrorizar, por exemplo.  Patenteou-se, aí, a sua originalidade, sempre buscando algo além, oculto, miraculoso nos vocábulos da língua.
 
      
  "Apenas almas (...)
        em seus ensaios de seguirem felizes."

 
    Pessoas normais, comuns, alegres e/ou sofredoras, que (permitam-me a paráfrase) "ensaiam a construção diária de sua felicidade".
    O dístico acima demonstra que a ventura, como muitas coisas que nos envolvem e fazem prosseguir, surgem como tentativas, jamais como ações pragmáticas, exatas, acabadas e completas. 
    Temos esboçados aí aspectos filosóficos do “contínuo vir-a-ser” (mudança, devir, rito de passagem)  hegeliano, no qual tudo muda perenemente. E o homem, indefeso perante o Absoluto avassalador, a dialética irrefreável do Tempo, refém dos fatos (realidade), se debate e se agarra a barcos ainda não naufragados, subvivente em desespero. Em suma, ele tenta reter a felicidade e ignorar ou expulsar a dor, a solidão, a desesperança, a finitude.
 
  
 

                                    Não Quero...
     Desabafo primaz, límpido, vívido, perdido, oriundo da sua capitulação, sua renúncia aos prazeres e ilusões da vida.  Reconhecimento incondicional de que falhou como ser humano (não sabe ela que estamos todos fadados a falhar, e que daí emerge a nossa grandeza...)
 
  

 

                          Nem o Tempo Devora a Poesia
     Um desabafo pando, cheio de fé nela e na sua arte. Poema dos bons.
 
  

 

                                     No Cais da Cama 
     O Simbolismo, escola literária surgida na França, em fins do século XIX (1800), teve como principais características o subjetivismo (alma, eu profundo, sonhos, delírios), a musicalidade (uso de recursos estilísticos como a aliteração, a assonância e a sinestesia) e o transcendentalismo (sugestão, alusão - jamais nomeação dos objetos; captação da fantasia, do imaginário; uso da intuição, da sensibilidade, em vez da razão ou da lógica; ênfase na vagueza, na indefinição, na imprecisão lírica).  Presença do espiritualismo e do misticismo.  
    Celebrizou-se através de Charles Baudelaire, Jean-Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Paul Verlaine, Stéphane Mallarmé (França), António Nobre, Camilo Pessanha, Cesário Verde e Eugênio de Castro (Portugal) e Alphonsus de Guimaraens, Emiliano Perneta, Gilka Machado, João da Cruz e Sousa e Raul de Leoni (Brasil). 
Cresce sempre mais esse movimento poético, devido ao surgimento frequente de outros vates, cantando, plangendo temas que merecem mais o segredo da sombra que o anúncio da luz.  E "vatisas" como Lady Laura Noturna, em trabalhos como este, que para os ventos e impede a tempestade.
 
  
 

                                    
Noturna 
Li-o atentamente.
  

 
 
                  
Nos quintais sombrios da palavra
Eis um poema que resume, abarca, absorve toda a arte da Lady.
  
 

 

                                 Noturnos Lemes
   Nítida noção de mar, de extensão infinita, de transcendência enfim. Olhos-presentes. Título: tudo a ver.
    Presença da anáfora. Talento ímpar. Originalidade.  Inspiração.
    Absoluto! Grandioso! Rompedor!

 
  
 

                     O Caminho da Semente é a Árvore
     Mais uma produção sobre o fazer poético e a figura do poeta. Bem concebida, consegue vitoriosamente fazer-nos meditar, meditar.
 
       
 

                                O Delírio da Flor
     Esta mensagem, um brinde em palavras, contém um conselho, um parecer, um desejo: de que alguém preserve a inocência, os sonhos, a jovialidade. Trata-se de um aforismo, portanto, atemporal e a-espacial. É a universalidade da Literatura.
 
  

 

                    O Gosto pela Terra – a Pa(lavra) 
           "A pátria do poeta é a palavra,
            outrora impronunciada."


     E por que a sua pátria não é o seu país, ou qualquer país, ou uma nação predileta?
     Porque, ao eleger a Poesia, o poeta se indispõe com seus concidadãos, que o empurram para fora do conceito nacional de cidadania. E por que isto? Porque esse artista, ao escolher a Literatura para se dizer e dizer dos outros, escolhe também necessariamente temas e assuntos que desagradará ao seu povo, que procurará se livrar dele, exilando-o ainda que espiritualmente. Maldição eleita.
    Este poema movimenta o roteiro da criação e algumas de suas características, como a solidão social (ilha) e visões bíblicas, místicas (apocalipses).
 
  
 

                    O Homem Finge Ser a Eternidade!
     Um poema maduro, sem ilusões. Outono frágil ante a perene primavera.
 
  

 
                             
O Mar e a Sereia - I
     Resumindo neste comentário a série Sereias, toda escrita com incomum sentimento e competência pela poetisa, declaro-me encantado.
  
 
 

                              
O meu Coração
    Sobre o poema: vigor criativo, expansão lírica, o diabo. Vulcão interior. Tocante, brilhante, excelso.
     Sobre a poetisa: Lady, para mim tu és: tormento, felicidade, perdição, esperança, bonomia, loucura, amálgama, voo, pouso, terra, sal, mel, céu azul, verde chão, mar para sempre, bonança, bagunça, arrumação, corva, gárgula, anjo, silêncio, canto, rosa...
     Logo, continua discreta, laboriosa, solidária, loquaz (mas moderada), gracinha, mocinha, educadinha... E serás cada vez mais querida entre todos. Beijos.
 
  O poema contém (superficialmente falando): metáforas, sinestesia, paralelismo e animização. Pena alguns versos banais. Esse teu coração, torrente que não se domina, também nos arrasta.
(Aguarde outras críticas a este trabalho via 
e-mail, Lady).
 
  
 

                        O Poeta é a Alma Lançada!
    Com palavras simples, sem qualquer pompa ou circunstância, Lady conseguiu criar uma imagem verdadeira, real do artista do verso.
 
  
 
                             
O que eu sou é Poesia!
    Numa terceira leitura, comecei a entender seus versos. Seguem sugestões via e-mail.
 

  
 

                                O Rei Está Morto!
     Ela crê menos em Deus que no Diabo.  Deixa óbvia a sua preocupação com o tempo e o destino.  E não se abate:
      "Eu já beijei os lábios quentes da morte,
       já me sentei à beira do abismo,
       senti as paredes me enterrarem
       e apesar de tudo isso
       não me rendi ao demônio dos maus dias,
       nem vesti um manto de espinhos."

 
     Procura consolar, animar e liderar o leitor na sua luta contra as adversidades, a inexorabilidade das coisas que passam e tentam levá-lo:
       "Vamos lamber as cicatrizes,
        como um rio ao beirar a margem,
        vamos acreditar em dias felizes,
        vamos crer na verdade...
        vamos construir abrigo na liberdade!"
 

     O ser humano tem sempre uma última esperança - e sonha democratizá-la, fazê-la útil aos seus semelhantes, salvando-os do abismo da tristeza do fim. Lady faz isso, embora sitiada de hostes inimigas.
    A escritora procura, sempre que pode, desfazer, ridicularizar a imagem de um Cristo mártir, sofredor pelo Mundo, dócil, salvador, lhano, perdoador.  Segundo ela, as palavras finais do Mestre deveriam ser:
"Pai, não os perdoai, porque eles SABEM o que fazem!"
 
    Quanto aos demais mitos do Cristianismo, ela os desdenha pelo silêncio: ignora Maria, José, as figuras bíblicas em geral, o Natal... Enfim, exerce o seu sagrado direito de discordar de tantas vozes e ordens mostrando um só caminho!
 
  
 

                              O Sangue, Alma Rubra
     Contundente descrição da alma, em versos navalhais, fechando a composição com um dístico ímpar, cativante, irresistível:
             
"Ah! Alma!
            Íntimo fantasma!"
 

     Perdoem-te os Céus por mais este poema, em que amaldiçoas a própria alma...

  
 

 

                                          Olhares
      Um poema símplice, delicado, leve e puro como as estações. A escritora deixou falar aí o coração, pátria de ais e canções. A propósito, ele pertenceria vaidosamente a algum cancioneiro medieval, tal a sua suavidade ingênua.
 
  
 

                                   Olhos-corvos
       Valho-me de Koch (2007), com sua lapidar definição de coerência, ao abordar esse econômico poema:
“O simples cotejo das ideias, das expressões linguísticas que as ativam e das suas posições no texto deixam evidente o caráter não linear, reticulado, tentacular da coerência, que se liga à organização subjacente do texto e não à sua organização superficial, linguística, linear [coesão].”
 
     Aparentemente desconexa, a construção do poema possui uma limpidez vivaz, uma inocente claridade, transpassada de entendimento. Coerência - área conceitual, dimensão intelectual do texto; coesão - produção de uma mensagem com palavras que expandem, estendem seu sentido de forma lógica, interpretável.
      As imagens que o sustentam foram esculpidas com um carinho bem feminino, uma inteligência sensível, um saber crítico construído pelos anos, uma capacidade de síntese espantosa. A poetisa não se alongou em vocábulos tentadores: tratou de limitá-los no papel para que crescessem inteiros no espírito do enunciatário.  Funcionou.
     Expressões como "seus olhos, dois corvos", "olhos vestidos de sombra", "olhos ciganos" e "aves aflitas" não abundam por aí, nem cabe, em seu caso mágico, a imitação, a repetição, a multiplicação: ponte perfeita, possibilitam a passagem de autor a leitor, e vice-versa.  Sem facilitadores desnecessários, já que vitoriosa a “intenção comunicativa da produtora do texto”. (Koch, idem).
 

            Fonte de consulta:
       A Coerência Textual, de Ingedore
       Koch. Editora Contexto, SP, 2007.

 

  
 

                                 Ora! Onde está Deus?
"Deus é a solidão que há na escolha!" - grande verso num admirável poema.
     Tenho quase certeza de que Lady começou a escrever este trabalho com outras ideias na cabeça pedindo papel e caneta.  Aí a coisa (inspiração) tomou um rumo diverso e talvez adverso (avesso) do que ela desejava ou tencionava.
     Deus é o momento que se desprende da Eternidade.
  

 
 
                      
Os meus Olhos, Noturnas Flores
   Presença de metáforas, comparação, apostos, inversão, animização e - quem diria - "vegetalização" (quando, no último verso, a poetisa afirma que seus olhos se enraízam no peito).
     Crime crítico seria não retornar com mais vagar, mais calma a este poema.
     Beijos e parabéns.

 
  
 

                                Ovelha Desgarrada
 Reli-o sob encantamento, arrebatado, num florescimento súbito e inevitável.
     Há neste poema faíscas da sabedoria e contemplação de Walt Whitman, poeta norte-americano, autor de 
Leaves of Grass
um canto épico à existência. 
     Aproximo neste poema o estilo de Lady ao dele, pois ambos se expressam por generosas, abundantes palavras, e nenhuma deslocada do foco da mensagem. 
     Uma das diferenças de estilo se acha, por exemplo, em "todo este ambiente sem poesia".  Isto porque Walt celebrou novidades e velharias, campo e cidade, guerra e paz, multidões e solidão, transfigurando tudo...  Já Lady ouve de fantasmas ocultos na memória "um aviso mórbido e cruel, um medonho réquiem", exortando-a a abandonar o seu 
modus vivendi e seguir rumo às pradarias repletas de flores, perfumes, caça e aventuras. 

     Inteligente, racional, ela sublima tudo e permanece nos negócios da cidade, poetificando porém o silêncio e a paz bucólicos e anatematizando os compromissos formais.
      Deus te perdoe por este poema.
  

 
 
              
Palavras Rompem a Medicação das Horas!
     Poema pleno de filosofia, mistério, encantamento e cruel suavidade. Vida desnudada das palavras.
 
  
 

                                         Pandora!
    Poema hermético, com imagens enigmáticas, palavras "sem sentido" que fazem um sentido especial, próprio.
    Poema sem ilusões, despido de beatitude, de paz, de crença no gênero humano. Poema de quem chegou a um patamar de silêncio e observação acres, ácidos, agudos e que já se recusa a crer em algo ou alguém.
Vozes em amargura permanente.  Exemplo:

      "No coração,
       uma serpente!"

 
bem diverso, por exemplo, de "No coração, / um anjo!".
Outro exemplo:
       "À beira do abismo,
        alva lua!
        Bela
        porque adormecida!"
 
     Esta estrofe dá a entender que se a lua se achasse desperta, atrairia aleivosamente seus contempladores para o abismo.
 
                                     ***

 
      "No peito,
       uma caixa, altar de segredos latentes!"
 
     Trata-se da Caixa de Pandora, de inumeráveis  males que acometerão o mundo, se aberta. E não só isto, mas todo o poema se faz de pureza e se desfaz em horror - horror que quase toca a Humanidade, de tão latente.
    Tais as considerações que de início me ocorreram, lendo pela 12ª vez esta peça literária, que nos desperta, após cada leitura, inquietantes indagações.
 
  
 

                          Para o Poeta em Primavera
"poeta em primavera" - soa como "artista em estado de graça", "poeta em êxtase".  Que metáfora!!
 
"olhos corvos" - não mude isto, menina!
  

 
 
                            
Pequenas Estrelas
"Leit-motiv" (motivo habitual de tão recorrente): corpo, coração, flor, jardim, estrelas, alma, raízes). Isso em toda a sua obra.
  

 
 

                            Poesia, Ave no Cais
      A escritora deu asas e horizonte à poesia.  Ao poema deu liberdade e estranhamento, provocando os acomodados com as coisas e pessoas, fazendo-os exclamar: "Não és bem-vinda!"
    Ocorre que bem-vinda ou não ela conquistará, ocupará o seu espaço nas mentes e atitudes. Dos autênticos versos ressurgirá, então, a vontade sublime de todos sonharem, se concertarem e consertarem. Ave que restaura e reconduz silêncios à condição de música.
    Na última estrofe, carregada de expressões simbólicas iluminadas pelo seu límpido estilo, há um anacoluto: "zumbir dos versos".


 
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 09/08/2013
Reeditado em 29/08/2013
Código do texto: T4427311
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