Entrevista: Leon Ferraz

Quatro perguntas a Leon Ferraz

[Fabio Antonio Costa] Como você avalia a sociedade atual de seu ponto de vista? O que gostaria de destacar?

[Leon Ferraz] Bom, penso que existem as sociedades, portanto, posso responder à partir da sociedade que estou inserido.

Enxergo uma sociedade desigual por motivos macros, como o papel do Estado que é omisso para a maioria, não é falido porque funciona para uma minoria, então por opção se coloca como omisso. Vejo pessoas perdidas em todos os aspectos, tentando se encontrar no consumo. Ao mesmo tempo também vejo a cultura popular reagindo, como forma de resistência. Vivemos uma crise generalizada, não divulgada pelos grandes meios de comunicação, mas que não poderá ser escondida por muito tempo, afinal mudanças são constantes. Essas mudanças aumentam a minha esperança. Como professor, também estou preso ao sistema, mas posso articular a Educação para a emancipação. A Educação não vai mudar o mundo, mas é importantíssima no processo.

[F.A.C.] Qual sua análise do cidadão comum?

[L.F] Contraditória, mas explicável. A maioria vive sem ter uma noção ampla do mundo que vive. A maioria ainda entende que tudo vai melhorar por causa de uma ideia Deus, aqui ou na vida após a morte. A maioria acredita na mídia. A maioria não quer a mudança, mas a ideia de viver o momento. Marx diz que as contradições do Capitalismo, levarão as seu fim e que em um momento de profunda crise a maioria vai participar da mudança de forma atuante. Quando? Acho que está próximo esse momento. 50, 70 anos, não sei. Agora, fazendo uma análise micro, percebe-se que a certa “conveniência” sobre o mundo, pois entendem o sistema como algo bom, o problema são as pessoas.

[F.A.C.] A partir de sua experiência de atuação profissional como professor, como você define a atual momento da educação no Brasil?

[L.F.] Precária. O cientista Marcelo Gleiser, citou em uma entrevista: Que jovem ambicioso, quer virar professor? Os que querem, são heróis.

Os problemas estão fora dos muros da escola. Vivemos uma desigualdade social, que destrói famílias. Constrói uma cultura tacanha, refletida nos alunos.

Quanto a Educação formal, está falida. Salários, estrutura profissional e física em plena decadência. A luta pela mudança deve ser da sociedade, não só professores, que aliás, boa parte é despolitizado, desunido.

[F.A.C.] Quais as perspectivas para um futuro próximo dentro de uma possível projeção que você possa demonstrar?

[L.F.] As propostas de mudanças estão fragmentas em movimentos. Acredito que devam continuar, mas ao mesmo tempo se unirem. Sendo repetitivo e utópico, uma revolução seria a mudança, não reformas. Brecht dizia que as utopias são as forças das mudanças.

Quatro perguntas a Fabio Antonio Costa

[Leon Ferraz] Qual a sua opinião sobre o academicismo, os dogmas criados dentro do meio acadêmico?

[Fabio Antonio Costa] O academicismo é uma importante área da sociedade, pois, creio eu, é uma das áreas onde os saberes tem um campo interessante para seu desenvolvimento. É inegável, e não sei se teria condições de aprofundar muito, sobre as contribuições do academicismo ao mundo atual. O estudo do universo, por exemplo, me fascina. Um aspecto que poderia considerar negativo do academicismo, talvez, sejam esses dogmas. Não sei se é possível imaginar o academicismo sem dogmas, pois como tal, a sociedade possui vários, mas penso que os dogmas acabam atrapalhando as várias possibilidades que os estudos vindos da academia poderiam proporcionar. Cito um exemplo. Certa vez, estive em contato com uma pessoa que pretendia desenvolver um estudo sobre as igrejas de bairro na Ditadura Civil Militar do Brasil e seu projeto foi recusado em três faculdades, que a desmotivou. O argumento sempre era o mesmo: não se enquadrava nos programas de pós-graduação. Talvez os dogmas sirvam como forma até de limitar esse já limitado círculo.

[L.F.] Qual a sua concepção de História? Qual o sentido social?

[F.A.C.] A História é uma disciplina, ou ramo do conhecimento humano que possibilita o estudo do passado, sendo que existem muitas outras definições do que seria a “história”, e isso é importante pois ela é constantemente reestudada, além de combinada com outros ramos. Posso afirmar que a História ao fazer estudos do passado abre um leque maior de possibilidades, como uma comparação passado/presente, algo já muito debatido, inclusive. Talvez aí esteja o sentido social da História: um tipo de conhecimento do passado, não exato, não real, que amplia os horizontes de seus estudiosos ou simpatizantes.

[L.F.] O meio determina a consciência?

[F.A.C] Creio que o meio possui uma forte participação na consciência, sendo que ambos, o meio e a consciência, dois conceitos bem amplos de possibilidades. Não vejo o meio determinando o social como uma relação inquebrantável, mas direcionando-o. Sabemos de muitos casos que fogem a regra, como pessoas que numa determinada sociedade são taxada de diferentes, apesar de muitas críticas. É possível ver, por exemplo, numa sociedade que os casais têm quatro ou cinco filhos, pessoas solteiras e/ou sem filhos, que por muitos fatores, terem optado por tal escolha.

[L.F.] Qual o sentido da vida?

[F.A.C.] Imagino que ela pode ter vários, conforme talvez o indíviduo em sua unidade ou ao grupo que esteja inserido ou conforme o tipo de direcionamento de vida que tenha. Para um médico talvez seja curar ou tratar doentes, para um professor discutir seus conhecimentos e para uma mãe seja cuidar de seus familiares. Pessoalmente, penso que a vida deve, em algum momento seguir uma ideia de “evolução”, seja no campo pessoal, social, amoroso, econômico, artístico ou filosófico. Igual diria o artista “O melhor desenho deve ser o último, pois é nele que possuo mais experiência”. Viver a vida por viver, apenas se enquadrando nas normas das instituições, como governo ou igreja, é muito pouco dentro das possibilidades que se pode desenvolver.