..:: ANTONIO CEDRAZ, Criador da Turma do Xaxado ::..
Entrevista com: ANTONIO CEDRAZ
Por Michelle Ramos
Antonio Luiz Ramos Cedraz, mais conhecido como Antonio Cedraz, nasceu numa fazenda no município de Miguel calmon, na Bahia, formado em Magistério, trabalhava como professor primário, e na cidade de Jacobina exercendo esta profissão, teve seus primeiros contatos com as histórias em quadrinhos.
Em 1998 teve a idéia de criar a Turma do Xaxado, personagens com os pés fincados no chão de nosso Brasil, retratando com suas aventuras e experiências infantis a dura realidade do Nordeste Brasileiro, a descriminação racial e nossos costumes e lendas tão admirados em todo o mundo.
Não sabia ele que hoje sua turminha seria um trabalho reconhecido, admirado, ganhador de vários prêmios e comparado a grandes personagens dos quadrinhos mundiais.
Reconhecido como Mestre do Quadrinho Nacional pelo Prêmio Ângelo Agostine, e colecionador já de cinco prêmios HQMIX, Cedraz demonstra três características muito raras de se encontrar num único quadrinista brasileiro, humildade, paciência e profissionalismo. Agradeço novamente a ele, a honra de ter nos cedido esta maravilhosa entrevista.
Então deixando de papo, conheçam (se ainda não) Antonio Cedraz!
>>> Quando e Como foi seu primeiro envolvimento com os quadrinhos?
Quando eu tinha cerca de 16 anos, vi um rapaz desenhando e quis também fazer um desenho. Gostei da experiência e não parei mais.
>> Como surgiu a idéia de criar a Turma do Xaxado?
Quando me aposentei do banco onde trabalhava, pensei em dar continuidade as minhas idéias e procurei formar uma turma que tivesse muita coisa do Brasil. Comecei com o Chapéu do Xaxado que representa o nosso nordeste e depois, já com a equipe pronta fui formando os demais personagens.
Qual a repercussão da Turma com relação às crianças?
É impressionante a resposta dos leitores. Hoje mesmo recebi um e-mail de um professor que estudou as tiras do Xaxado em um curso de “Semiótica e Semiologia”. Todos os dias recebo diversos e-mail de leitores de todas as idades. Costumo dizer que quem ler os historias do Xaxado fica viciado.
Ao que parece o Governo da Bahia apóia a produção de quadrinhos no Estado, isto está certo ou só parece?
O Governo da Bahia tem um programa muito bom para a cultura local, o Fazcultura. Ele nos apóia aprovando os nossos projetos o que nos ajudado muito.
Você VIVE, financeiramente falando, dos seus quadrinhos?
Não! Digamos; eu sou aposentado do ex-Banco Econômico. O estúdio Cedraz se mantém, às vezes com dificuldades, com os trabalhos de quadrinhos institucionais, ilustrações e a venda dos livros do Xaxado. Na verdade o Xaxado é o meu sonho de vida e logo, se Deus quiser, vai dar para ter uma situação mais confortável. Quando o Xaxado puder se manter sozinho, eu deixo de fazer esses trabalhos.
Quantas Revistas da Turma do Xaxado já foram publicadas?
Atualmente temos 15 livros e duas revistas com edição própria. Mas já foram publicadas cerca de 35 revistas pela Editora Escala (4 de quadrinhos e as demais de colorir e brincadeiras). Este ano vamos ter muito mais publicações e até algumas surpresas.
Por enquanto as publicações do Xaxado são vendidas aqui em feiras de livros dos colégios e através da Internet no www.xaxado.com.br.
Existe a possibilidade de vermos uma produção animada da Turma do Xaxado?
Tem algumas pessoas estudando alguns projetos de animação. Se Deus der mais uma forcinha...
Você é o responsável por todos os roteiros e desenhos da Turminha? Quanto tempo do dia você se dedica a Turma do Xaxado para dar conta de tanta produção?
Não! Eu tenho uma equipe muito boa que cuida de boa parte da produção. Sidney que faz os desenhos e Mariel as artes-finais. Tom Figueiredo faz argumentos e Victor às cores. Atualmente eu sou o técnico que fiscaliza para que tudo saia como eu sempre pensei.
Nós costumamos fazer de 2 a 3 páginas de quadrinhos por dia, ou 4 tiras.
>> Qual o maior objetivo que você tem ao escrever uma HQ da Turma do Xaxado?
Mostrar que podemos fazer histórias genuinamente brasileiras. Que temos tipos e gentes que podem ser retratados com dignidade e que podem contribuir na difusão da nossa cultura e cidadania.
>> Existe algum outro projeto com relação à Turma do Xaxado que você gostaria de comentar previamente conosco?
Tenho proposta de fazer desenho animado e teatro. Mas isso é ainda estudo.
>> Recentemente você criou um fotolog para apresentar várias ilustrações da Turma do Xaxado, feitas por diferentes artistas brasileiros; Qual foi a sua sensação ao ver sua Turminha nas mãos de outros artistas?
Muito boa, a cada dia surge um novo artista querendo participar dessa brincadeira. Como pode ver no fotolog, as possibilidades e o carinho dos colegas com minha turminha são grandes. Muito obrigado a todos.
>> Existe alguma possibilidade de vermos outros artistas quadrinizando as histórias da Turma do Xaxado?
Quem sabe? É bem provável que sim.
>> Você e a Turma do Xaxado já receberam diversas premiações e menções honrosas em concurso e exposições tanto no Brasil como no Exterior, inclusive o Prêmio Ângelo Agostine de “Mestre do quadrinho Nacional”. Qual a repercussão destas premiações com relação às Editoras Brasileiras?
Nenhuma. Elas simplesmente ignoram. Não sei o que se passa na cabeça desses editores. Eles preferem investir no que é estrangeiro ou do eixo Rio/S. Paulo (com poucas opções). Também tem razão, os leitores, na maioria, não gostam do que é produzido no Brasil verdadeiro.
Veja o exemplo da Globo, depois que perdeu o contrato do da Turma da Mônica preferiu investir no Sítio. Tem tantos bons quadrinhos feitos no Brasil e eles simplesmente ignoraram. Não tem coragem para investir, para arriscar a descobrir novos Maurício.
>> Existem projetos que visam à publicação mensal da Turma do Xaxado nas Bancas Brasileiras?
Infelizmente não. Eu tenho um projeto aprovado na Lei Rouanet (Ministério da Cultura) mas, está difícil de conseguir patrocinadores.
>> Em sua opinião, por quais motivos, é tão difícil encontrar Patrocinadores para investir em Quadrinhos Nacionais?
Não é tão difícil assim. O negócio é fazer um bom projeto (de preferência contratar um produtor cultural) e batalhar. Os patrocinadores não estão interessados em quadrinhos (a maioria não sabe o que é isso). A gente tem que falar que é cultura etc.
>> O que o artista brasileiro pode fazer para reverter a atual situação do nosso apático Mercado de Quadrinhos?
Procurar insistir e mostrar que faz quadrinhos e tem produção. Não adianta o cara fazer uma só historinha e dizer que já é artista. Tem que mostrar serviço.
>> Você sempre envia seus projetos e histórias para as editoras em busca de possível interesse na publicação? Se sim, qual a resposta que elas dão para não publicar?
>> Já enviei muito. Agora procuro selecionar as editoras. Mas está muito difícil! A maioria nem responde. Com a saída do Maurício da Globo, um amigo me incentivou para que eu enviasse material. Preparei um bom material (revista, livros, folhetos material de apoio etc) e enviei. Mostrei que estava preparado para ter uma chance. Os caras nem responderam.
>> Você acompanha as publicações Independentes? Quais fanzines você já leu e os indicaria como exemplos de material de qualidade entre eles?
Fui, sou e sempre serei fanzineiro. O fanzine é uma boa mídia para se publicar. O pessoal de Pernambuco tem uma excelente material (Prismate, por exemplo). Na verdade em todo o Brasil tem surgido bons fanzines que já merecem o título de revista, pelo material profissional e como eles encaram a coisa. O QI, do Edgar Guimarães, é um destaque, e referência.
>> De forma geral, existe algum quadrinho que você esteja acompanhando ultimamente?
Tenho comprado pouco quadrinho em banca. Prefiro comprar os independentes que estão, a cada dia, surgindo no Brasil. Vamos prestigiar esses caras.
>> O que motiva você a continuar com seu trabalho todo dia, mesmo com todas as dificuldades impostas pelo mercado brasileiro de quadrinhos?
O sonho de vencer. Se eu desistir vou ter a sensação de derrota. Confesso que está difícil. Tem mês que chego a pensar que não vou conseguir trabalho para pagar aos meus colaboradores e parceiros (Sidney Falcão, Tom Figueiredo, Vitor Souza e Mariel Viana) mas, Deus sempre arranja um trabalhozinho e tenho honrado com os compromissos.
>> O que podemos esperar daqui para frente das histórias da Turma do Xaxado?
O Xaxado é meu sonho maior. Cada dia que passa mais ele ganha espaço. Para o futuro, espero fazer algum desenho animado e até ter minhas revistas em bancas. Por enquanto, vêm aí mais livros, pois os livros ficam mais fáceis de vender em escolas e feiras. Tenho atualmente três livros adotados em diversas escolas aqui em Salvador e isso já é muito bom. Vou participar da Bienal de Livros da Bahia, em abril, e outras coisinhas mais.
>> Qual sua dica para iniciantes (ou não) que querem investir seu tempo e trabalho para fazer quadrinhos?
Minha dica maior é se profissional. Mostrar o melhor trabalho que puder fazer. Estudar desenho e ler bastante. E, de preferência, nunca desistir.
>> Obrigada Cedraz, pela paciência e por sua dedicada atenção ao nosso trabalho, assim como a essa entrevista, todo sucesso a você e sua turminha.
Quem agradece sou eu. Você é uma amiga que tem prestigiado os meus trabalhos e de muitos independentes no Brasil. Continue e que Deus a proteja.
Entrevista realizada entre Fevereiro e Março de 2007.