BREVE ILUSTRAÇÃO SOBRE POESIA

“A BOBICE

Hoje em dia, quando a rimação comparece nos poemas, as rimas consignam mera muleta estética de estreantes.”

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.

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Ritmação e Rimação são temáticas interessantes, porém pouco abordadas pelos estudiosos, no tocante ao ritmo – o andamento musical e harmônico – que se constata através da materialidade formatada no gênero literário Poesia nos detalhes de seus interessantes e/ou geniais entrelaces ou entrelaçamentos, tanto nos formatos da poesia clássica como na atual conformação estética de versos livres, sem rimas, com que se apresenta a poética da contemporaneidade.

Quanto ao sintético texto acima, que pretende funcionar como uma instigação à poesia com ritmação assentada nas rimas, é bom e útil registrar que nele, evidentemente, não me refiro aos bardos de ofício e outros consagrados praticantes da estética formal do classicismo, em suas contemporaneidades. Desta forma, evito maledicências e respeito o gosto estético de quem sabe utilizar as rimas.

Faço esta longa e cuidadosa abordagem na intenção de contribuir para com o possível processo criativo dos iniciantes ou neófitos em Poética. Sei bem o que é buscar caminhos para buscar os esconderijos da Poesia.

Também já trilhei duras e escorregadias estradas à busca de conhecimento para conseguir palmilhar a beleza que a Poesia nos proporciona em palavra, ritmo, formato e conteúdo cravejados de beleza.

Contamos hoje com mais de um século do auge de consagração do Parnaso no Brasil. Muita água rolou nos rios do memorial poético, não é mesmo?

Pretendo, com a síntese analítica ora publicada, chamar a atenção dos poetas-autores de versos ao gosto popular, que a rima é recurso estilístico, coadjuvante destacado e importante característica do ritmo, elemento fundamental para a identificação do gênero Poesia, na vertente formal do classicismo.

A dita “atemporalidade da Poesia” como gênero literário avesso ao implacável decurso do tempo, segundo alguns autores, não se estende à forma ou formato, e, sim, no meu singelo modo de ver, ao assunto, conteúdo, sugestionalidade, proposta, imagética e/ou metaforização genérica contida(s) na peça poética.

Tenho para mim que a Poesia, de per se, já é uma grandiosa metáfora, a tal ponto que nela, em todos os seus memoráveis formatos, a palavra traja o seu vestido de gala, sempre pronta para a festa dos sentidos. Em Poética, a palavra é a princesa da linguagem em qualquer idioma.

Também não se pode estender aos modismos de entremeios formais ou a serviço da mesma forma e diálogos utilizando rimas que agradam aos ouvidos. E estas, nos bons poetas, jamais fogem, excluem ou prejudicam o assunto ou conteúdo da materialidade concreta – o poema – o qual recebe linguagem cifrada ou codificada, que é naturalmente aquela congeminada no verso com Poesia.

Sim, porque há sonetos, trovas, quadras, sextilhas, décimas, etc., em que a Poesia não comparece, porque seus versos, mesmo que rimados, não utilizam figuras de linguagem, especialmente metáforas ou metonímias.

Por fim, é a isso que me refiro, quando o meu atrevimento pessoal consigna, falando que a rima é apenas uma "muleta estética" identificável nas composições poéticas dos neófitos ou novatos na arte da palavra poética.

Por fim, continuando na vertente do destemor ou atrevimento, há algum tempo descobri, depois de 50 anos de luta com significantes e significados, que, sem figuração estilística, especialmente a que resulta do uso da metáfora, há peças que se pretendem poéticas (segundo o poeta-autor) porém não conseguem atingir o patamar estético no qual se consigne ou configure o gênero Poesia.

É fácil constatar-se, sem muito esforço, que devido à ausência de metaforização, o verso componente ou o próprio soneto (peça matriz no modelo clássico), por vezes não conseguiram chegar ao sentido conotativo da linguagem, ficando, em sua usual e costumeira lavratura, na linguagem denotativa, vale dizer, aquela que utilizamos diariamente para a expressão ou comunicação entre pessoas ou grupos humanos localizados em qualquer reduto do planeta.

Por último, fica o registro, na intenção de que se possa pensar sobre a eterna Poesia, que é, segundo o sábio poeta Armindo Trevisan, a “lucidez enternecida”. Ora direis, que bela síntese, o efeito da lucidez com o chantilly da ternura caseira, do carinho nos botões da túnica inconsútil.

É conveniente e necessário estar bem lúcido de que o intérprete, ao iniciar a leitura de um texto pela vez primeira, independentemente de qualquer formato poético, não importando seja um soneto clássico ou um poema em versos brancos, com eventuais rimas ou não, e ao término da tarefa o mesmo intérprete houver “entendido ou compreendido”, sem restar nenhuma dúvida sobre o texto que acaba de ser lido, este pode ser “tudo em termos de modalidade ou categoria literária”, com imediata exclusão da Poesia como identificadora de gênero literário, porque nestes domínios a linguagem é naturalmente cifrada ou codificada, por prevalecer no conjunto verbal o sentido conotativo da linguagem poética.

Desta sorte, é deveras importante que se leve em conta que cada exemplar poético tem maior ou menor patamar de entendimento da mensagem gestada no ventre das palavras que o compõem. Portanto, necessário se torna, para um bom entendimento da peça, que se façam várias leituras, de modo que se possa melhor compreender a peça escritural lavrada em signos poéticos.

Nem sempre é tarefa fácil a decodificação da mensagem que se acrisola na peça poética, dependerá da dosagem de hermetismo que o poema contém, emite, inspira ou suscita. Por fim, sem a conotação de linguagem, no máximo o que o bom artesão da palavra logrará conseguir é a materialização de uma peça verbal híbrida, a qual costumamos chamar de Prosa Poética.

Pretendem alguns estudiosos de bom quilate, que esta seja admitida como gênero literário resultante da miscigenação dos gêneros Prosa e Poesia, todavia a corrente dominante resiste ao seu reconhecimento para o ensino em nível de formação acadêmica na área de Letras e correlatas.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=8002850