Quanto tempo dura o seu luto?
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Quanto tempo dura o seu luto?
O luto é necessário. A percepção e assimilação de alguma situação que envolva objetos, animais e pessoas que transpassaram a fronteira do Ser presente para o Não ser presente da mesma forma como se conhecia, como se representava antes, é necessária. Desde sempre foi importante para a estruturação do ser humano em vários aspectos.
Vida e Morte são um eterno elo de um ciclo, que só se completa, ganha força e continua, com a finalização do outro.
Quanto tempo demora o luto?
Depende da percepção que se tem, porquê talvez represente uma situação pontual que durou 15 minutos ou um ciclo de perdas de meses e anos, ou enquanto lê esse texto agora a pessoa perceba que ainda está de luto, ou talvez lembre-se de alguém que após a perda de um ente querido viveu e morreu em luto.
Um dia, em uma palestra sobre o luto, do palco do Teatro mesmo com a baixa iluminação, pude ver duas pessoas queridas chorarem na platéia do início ao fim da minha apresentação. No final, vieram agradecer e compartilhar que a mãe delas havia falecido naqueles dias. Por isso, foi importante estar ali porquê fez sentido para elas, naquele momento, ouvir a palestra e entender uma perspectiva sobre o luto.
Outro dia em uma estação, entre chegadas e partidas, uma cena: um pessoa que ia, em prantos, encontrou duas pessoas que nem chegavam nem partiam, iam ficar.
Deu para ver que uma delas perguntou para a pessoa em prantos:
- Está tudo bem fulana?
- Não, minha cachorrinha morreu.
- Nossa realmente ela deve ser importante para você porque em razão das circunstâncias, a gente se apega muito aos bichinhos.
A outra pessoa observava a cena em silêncio.
- Boa viagem, fique bem.
Podemos pensar que a pessoa que estava partindo, na janela, refletia que após um ciclo de anos de perdas de pessoas, situações, objetos e até de sanidade em razão da dor, a perda da cachorrinha era contabilizada como "mais uma" parte desse saldo negativo e que daquela conversa ninguém entendeu nada pois, às vezes, o que se diz não representa 1/8 do que realmente é. Isso é muito comum em relação ao luto e outras situações.
Comum também é essa falta de comunicação, porquê às circunstâncias não permitem a clareza mental para uma longa explicação e mesmo que permitissem, a pessoa que sente a perda, a sente de forma tão particular que a outra pessoa que está ouvindo não percebe, ou se solidariza brevemente, ou passa a querer sofrer no lugar da pessoa, ou simplesmente está pensando em outra coisa, ou ... etc.
Então... se você compartilhar um luto com alguém e esse alguém simplesmente demonstra "nada" ou uma grande empatia, saiba que de uma forma ou de outra, essa pessoa não terá a real ideia do que está passando dentro de sua cabeça.
Portanto, fique perto de pessoas, converse ou fique em silêncio, mas não transfira a sua expectativa de que ela deva sentir o que você sente, (isso somente grandes empatas conseguem fazer), e mesmo se ela não sentir, está tudo bem, porquê a dor é sua, é você que a está vivendo. Não queira colocar a todos na sua dor e fazer com que todos vivenciem o luto da forma como você o faz.
Luto é diferente para cada um. Além do tempo variam quanto a forma... uns ficam em silêncio, outros disparam a falar, outros ficam em casa, outros saem, mas lembre-se: não julgue o luto do outro, porquê você também não sabe o que se passa na cabeça dele e como ele está reagindo a isso.
Evite expectativas também em relação à sua família, que, por ser família "deveria ser"... no plano ideal do "dever ser" apesar de caber tanta coisa, talvez não comporte a realidade em si, de que a sua mãe, pai, irmão ou avó/avô são pessoas tão prestativas que conseguem cuidar mais do luto de outra família do que da sua própria. Bom... essa é a família que se tem. Mas também, considere que você possa receber mais conforto e solidariedade da família de amigos que reuniu ao longo da vida ou até de ilustres desconhecidos que surgem em seu caminho... a vida é cheia de possibilidades e de pessoas maravilhosas.
Talvez você vá ver um grande sorriso nas pessoas que conhece mas não tem ideia do que se passa atrás dele.
Ninguém é para o outro aquilo que ele realmente é. Você é para o outro aquilo que ele representa sobre você.
O pai terá representações diferentes na cabeça de cada filho, da esposa, do tio, dos irmãos, etc., a cachorrinha também, e até aquele vaso que se espatifou no chão e era presente da sua bisavó.
"Mas era só um vaso, não precisa de todo esse 'drama'?!" Não para você, mas talvez seja para aquela pessoa que recebeu o presente e tinha vínculos emocionais com o objeto em questão.
Luto é individual. Viva o seu. Respeite o luto do outro. Se quiser 'ajudar' pergunte como a pessoa quer ser ajudada. Faça o que ela pedir, se estiver tudo bem para você, mas não faça o que 'você acha' que é "certo".
"O que está vivo é inacabado. Os mortos são completos. A ânsia por perfeição é, na verdade, em profundeza, uma ânsia pela morte. Para quê fiquemos em vida, temos que respeitar o inacabado" (Bert Hellinger).
Só quando o luto termina, que se encerra o ciclo e volta a se ter forças.
Como se termina um luto? Quando se desiste de ter no presente o passado.
Quando for possível liberar a pessoa, a situação ou o objeto no passado, o luto caminha para o seu fim, pois se compreende que a atitude de querer controlar a vida e até a morte do outro, que está explicada nessa frase bem comum: " 'nem que ele tenha que voltar da morte', volte, porque eu quero que esteja aqui comigo agora", ou se vire para os pedaços do vaso e diga: "se juntem porque eu quero você inteiro!!".
O passado só pode estar no passado.
Só conseguimos fazer isso quando deixamos o outro seguir o próprio caminho.
E a gente seguir com o nosso.
E se puder se sentir grato por todas as experiências trocadas e aprendidas, tudo bem. Se não, tudo bem também.
Não estou dizendo que seja simples, essa é apenas uma perspectiva, um ponto vista que racionalmente pode parecer lógico mas talvez emocionalmente precise de mais tempo para fazer sentido. Tudo certo, por isso a pergunta: "Quanto tempo dura o seu luto?"
E está tudo bem se você responder:
"Durou 2 anos".
"Durou 2 dias".
Ou dizer...
"O meu luto ainda não terminou".
"Ainda" mas irá...
Sim, depois do luto há alegria e a leveza.
Talvez os mexicanos sejam o povo que mais entenda disso ao "comemorar os seus mortos" com respeito e alegria por cada um, da sua forma, ter cumprido a sua jornada.
A alegria é quase aquela alegria infantil da descoberta. É a alegria que nos abre para o novo. É importante estar alegre para a novidade chegar até você. É a alegria que precipita o futuro.
Olhem para mim e para essas palavras com amor:
Por que, às vezes, a boa solução é difícil?
Porque nos faz perder a importância.
E quanta importância se dá em "ter razão", em terminar uma simples conversa, fechando a sua última fala com o peito cheio de razão para que tudo aconteça como "você quer".
Reflexão:
"E se eu não tiver razão"? Tudo bem, estou aprendendo.
Somos muito novos e pequenos diante da Vida e da Morte. A Vida e a Morte são maiores e mais antigos do que nós.
Nesse tempo de grandes mortes de pessoas, de animais e da natureza, saiba:
Eu vejo a sua dor e o seu luto... por que eles também são meus, eles são nossos. E por serem nossos eu me libero/permito e libero/permito que cada um seja e siga como é.
Então me diga... quanto tempo dura o seu luto?