quarentena - março de 2020

tenho começado a pensar que quarentena é propício, embora o motivo que leva a necessidade de isolamento social seja péssimo. Digo propício porque a realidade que estamos de quarentena é um fato e, portanto, apesar das dificuldades que isso nos impõe socioeconomicamente, é preciso encarar e enfrentar. E encarando e enfrentando essa quarentena, que confesso economicamente está me destruindo, tenho estado em permanente confronto comigo mesmo. Tal confronto me permite estar a todo tempo construindo profundas reflexões e escrevendo as afetabilidades que delas provêm a minha consciência de poeta. Daí que tenho feito da minha quarentena o lugar propício do (des)encontro de mim com eu, de mim com a minha escrita, de mim com a minha poesia, de mim com a minha prosa, de mim com a consciência de quem eu estou sendo na minha existência. E é exatamente isso que faz o poeta: caminha entre a construção das existências, aplica amor ou revolta para entender e fazer-se entender a vida e se deixa consumir pela sua escrita, a sua poesia, que é quem ele é!

Whallison Rodrigues

Pentecoste, março de 2020.

TU ME BASTA!

a completude da minha existência está na tua presença ao meu lado. Basta-me o teu olhar profundo, basta-me a tua voz doce, basta-me a tua pele macia, basta-me teu sorriso encantador, basta-me tu! Não houve e não haverá escolha melhor que a minha de dedicar a experiência única da minha existência a compartilhar o quotidiano dos meus dias contigo. Basta-me tu! Pois que acordar ao teu lado deixa mais belo, estimulante e potente a experiência diária do amanhecer; ter meu dia ao teu lado torna a dádiva do presente ainda mais valiosa e bonita; dormir nos teus braços faz da silenciosa e misteriosa noite aconchegante e tranquila. Basta-me tu, que é a paz da revolta de quem eu sou!

o que escrevo a ti atesto e dou fé! e ainda é pouco, mas que fique sempre enegrecido nas nossas consciências: o que sinto não é obsessão, é amor!

Whallison Rodrigues,

Pentecoste, 21 de março de 2020

são realmente tempos difíceis. Em meus 20 anos de existência nunca havia convivido com tão destruidora e terrível desgraça mundial que é esta pandemia do mortal e letal coronavírus. Pensei que esse ano de 2020 o pior que eu viveria seria o (des)governo de Bozonaro, inimigo do povo, alinhado aos interesses do capital estrangeiro e instrumento manipulável e manipulado da agenda imperialista neoliberal estadunidense, com o objetivo da destruição dos direitos conquistados historicamente pelos oprimidos desse país.

então surge na China uma epidemia de um vírus mutante, novo, sem cura. Logo o vírus se espalha e hoje é uma pandemia global e generalizada, matando centenas de milhares de gentes ao redor do mundo e apavorando toda a humanidade.

o maldito vírus acaba de chegar ao meu município. De ontem para hoje, dois casos suspeitos com quase certeza de estarem infectados. Logo sairão os resultados com a confirmação.

estou com medo. Medo de contrair a doença e mais medo ainda de minha mãe, meu pai, meus irmãos, meus sobrinhos, minhas família de modo geral ou Rebeca contrair o maldito coronavírus. Não tenho até agora visto muitos resultados de cura. Há poucos notícias nas redes que informem cura e 99%de tudo que há informação nesse momento versa sobre o COVID-19. (O outro 1% é o BBB. Uó!) Não ver muitas curas é o que mais me assusta e apavora, pois que o vírus exste e é uma pandemia é uma realidade que precisamos encarar e enfrentar, mas o pensamento da possibilidade de morte por ainda não ter cura eficaz caso contraamos é desesperador. E cadê deus, o tão bom, no meio disso tudo?

Whallison Rodrigues,

Pentecoste, 21 de março de 2020.

o quotidiano é mais agradável com menos barulho. Tranquilidade possibilita a reflexão permanente de quem a gente é e de qual o papel que a gente desempenha em casa, nas ruas, no mundo a partir da nossa existência que ocupa essa realidade momentaneamente. Essas palavras não são sobre paz, pois paz não existe na vida do pobre. Não confundamos tranquilidade com paz. Eu nem quero paz. Ela acontece sempre mediante a desgraça de outres. Paz é coisa de branco, eurocristão, neocolonial! Eu quero tranquilidade! Basta-me!

Whallison Rodrigues,

Pentecoste, 22 de março de 2020

que saudade da infância

quando eu não tinha ansiedade,

quando não entendia o mundo,

não sabia da desigualdade;

quando era possível sorrir

e acreditar em felicidade.

ai! que saudades que eu tenho

dos tempos de criancice,

da minha meiga inocência,

da intelectual burrice.

tempo que havia alegria

e se acreditava todo dia

que seria bom ir pra velhice.

ai! que saudades que tenho

quando pensava que o amor

era só felicidade,

igual a beleza da flor;

que eu pensava em me casar

e ter filhos pra educar

que fossem da mesma cor.

poxa vida! que saudade!

de ao meu pai esperar.

ficava feliz no terreiro

esperando ele chegar.

vendia camarão na praia

e sua volta era um festejar.

poxa vida! que saudade!

do olhar apaixonado

de minha amada mãe,

que sempre estava ao meu lado

e me ensinava sobre o mundo:

dizia preu não ser vagabundo

e ser um advogado!

ai! que saudades que eu tenho

de com meus irmãos brincar,

de assistir televisão

e de baralho jogar;

de juntos construir sonhos

de que as coisas vão melhorar.

que saudade da escola,

onde eu passava a tarde inteira.

gostava dos professores

e conversava com as merendeiras.

que saudades do meu bairro!

que saudades da Ombreira!

Whallison Rodrigues

31 de março de 2020

Pentecoste

Whallison Rodrigues
Enviado por Whallison Rodrigues em 05/04/2020
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