OCULTAMENTO DO SER E DA VERDADE

Às vezes, nem tudo é tal como aparenta ser. Nem tudo o que os nossos olhos veem e os nossos sentidos obtém de impressões, condiz com a totalidade de uma verdade. Estamos acostumados demais a olharmos somente a superfície e as aparências; enfim, estamos acostumados apenas a apreciar uma meia verdade conveniente, em vez de uma verdade total de teor desconcertante e transformador. Chegamos tão somente a crosta ou ao involucro protetor, mas não descemos ao núcleo e ao cerne de uma questão crucial que nos desvela as verdades mais essenciais da alma e do coração. Não vamos, portanto, a fundo na compreensão de outro ser humano, na com-apreensão do seu íntimo e das suas nuances psíquicas, pois temos receio de constatarmos algo que fere o nosso raso saber acerca do seu pouco cognoscível ser.

Nem sempre uma pessoa séria e que não ri muito; nem sempre uma pessoa de hábitos mais reclusos e reservados, é um ser triste e infeliz. De fato, pode ser que no mais profundo do seu ser exista uma bem-aventurança, uma criatividade e uma vitalidade que, devido a sua predisposição à introspeção, poucos são capazes de conhecer tão bem.

Do mesmo modo ocorre com o oposto. Nem sempre uma pessoa que brinca demais; nem sempre uma pessoa expansiva e de muitas companhias, é um ser feliz e bem resolvido. Pode ser que ela, devido a sua personalidade extrovertida, queira mostrar algo diferente do que é de fato como uma maneira de compensar o que lhe faz falta, para quem sabe, talvez, esconder algo de si mesma; ou ser bem vista socialmente; ou então por ser mais fácil manter esse estilo de vida.

Muitas são as possibilidades de ser; todavia, pouco fazemos para nos aproximarmos de uma outra vida humana. Somos cada um de nós indevassáveis e pouco acessíveis. Todos nós precisamos de afetos, mas poucos são os que (talvez devido a desconfiança e ao medo da ameaça que o outro representa) estão dispostos a partilhar com o seu próximo as suas vivências, histórias, sentimentos e ternuras.

Vivemos num tempo onde todos querem ter bons amigos e boas esposas, mas é irrisório a quantidade de pessoas que conseguem numa relação atingir o estágio da reciprocidade para se aperfeiçoarem mutuamente. Também poucos buscam estabelecer essa reciprocidade vital para conhecerem intimamente o seu semelhante como sinal de respeito e amizade; e, ao mesmo tempo, obterem um conhecimento mais elevado a respeito de si mesmos.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 04/02/2020
Reeditado em 16/02/2021
Código do texto: T6858076
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