DEUSES & REVOLUÇÃO ALÉM DA CAVERNA
Era uma vez um Homem que possuía uma fazenda. Decidiu Ele criar macacos.
No início, tudo corria bem; os macacos tomavam conta das terras e das plantações, além de nomearem todos os outros bichos e árvores e pedras e rios e montanhas que faziam parte do território da fazenda. Vez ou outra o Senhor das terras aparecia para manter contato com Suas criaturas, dando a eles um código de regras de convivência legal: tudo o que podiam e não podiam fazer estava descrito naquele código.
Entretanto, com o decorrer dos tempos, os macacos começaram a desobedecer as ordens dadas pelo Proprietário, além de passarem a viver em constante discórdia entre eles, chegando, em alguns casos, à consequência fatal, inclusive entre pessoas da mesma família, chegando ao cúmulo de irmão dar fim à vida do próprio irmão!
Arrependido, completamente arrependido do grande mal que havia feito, o Homem optou por dar um fim aos macacos. E escolheu o afogamento como meio de exterminar a vida daquelas criaturas rebeldes. Além de extinguir a raça símia, pretendia destruir também a fazenda, provocando um grande alagamento. Seria a enchente do século. Águas e mais águas pra todo lado. Bastava abrir as comportas da represa, situada no topo da colina, e toda a terra ao derredor estaria completamente inundada. Ele, como Dono e Mentor, obviamente que estaria em um lugar seguro. Estava arrependido, mas não fora de Si.
Uma noite qualquer, já nas vésperas do grande momento, doeu-Lhe o coração. Arrependido novamente, chamou para perto Dele o macaco que achava estar mais coadunante com as suas propostas. Revelou-lhe os planos e concedeu ao macaco uma oportunidade de construir uma embarcação e nele colocar as pessoas de sua família e os animais de sua preferência. Deu-lhe, também, tempo devido para a construção da embarcação salvadora.
Passado a grande inundação, depois de todos os outros símios da fazenda estarem mortos, foi indicado ao sobrevivente e seus familiares e seus animais preferidos um outro lugar para viver, ainda em propriedade do fazendeiro, que era Dono de muitas terras.
Corria a vida normalmente, até que, novamente, sobreveio ao Homem o arrependimento, pois tudo voltara a ser como nos dias precedentes à grande inundação; bebiam, comiam, dançavam, matavam, guerreavam! A maldade represada voltara com força total.
Restou, então, ao Dono das terras uma única decisão: chamou Seu único Filho, aquele que habitara com ele desde o início, para tomar conta da fazenda. Talvez seu Filho conseguisse salvar tudo aquilo que Ele quisera destruir um dia, mas, que, por ter tão grande amor, não conseguira!