Um estranho numa terra estranha

Se há uma certeza no relacionamento humano no Brasil é a dificuldade de interpretar as reais intenções dos indivíduos. A palavra aqui pouco vale: no intuito de parecer boa-praça e evitar conflitos, o homem cordial brasileiro (no melhor sentido sociológico de Sérgio Buarque de Holanda) esconde de todo modo suas intenções. Compromissos podem ser descumpridos e adiados ad infinitum, somente pela duvidosa necessidade de manter uma aparência, uma máscara, de cordialidade. É a negação da negação. O "não" é tido como uma ofensa pessoal irreparável. Quem descumprir esta regra é excluído do convívio social silenciosamente.

A conclusão desse aspecto singular do brasileiro leva a crer que a falsidade é regra e a verdade é exceção. Uma total inversão de valores. Aqueles que ousam remar contra a maré sentem-se deslocados, mas sabem que estão certos. São estranhos numa terra igualmente estranha.