O Médico do sertão 
 
          E quem foi que disse que os anos vividos são ancoras nas costas? Não para o aguerrido caiçara. Para ele nem mesmo o passar das centenas, e até mesmo dos vinte mil, duzentos e cinco dias transcorridos até ali, recheados de surpresas e atribulações cotidianas fizeram com que aquele bravo sertanejo perdesse seus hábitos.  A dura labuta diária que Carlos travava aquela altura da vida, não o fez se afastar de suas ervas medicinais, de suas infalíveis casca de pau, regadas a mel e vinho morgado, matérias prima para composição de suas famosas garrafadas que levantavam até defunto. Muito pelo contrário, as mantinha ali, pertinho dele. E sempre que alguém solicitava algum remédio, o médico do sertão receitava.
 
          Já estava quase anoitecendo quando Maria de jacaré chegou até a residência de Seu Carlinhos, estava um tanto debilitada, pálida quanto o véu do plenilúnio. Além de gripada, sentia fortes dores por todo o corpo. Estava com febre e sentia a garganta arder em chamas, doendo muito. Maria já haviam vividos algumas dezenas de anos, se encontrava entre os seus 53 para 54 anos. Ainda preservava a beleza natura de sua cor de jambo, tinha estatura mediana e olhos amendoados, dona de uma silhueta típica da miscigenação de raças portuguesa, negra e índia, dos trópicos e nuances de cores brasileiras.
 
– Valei-me Seu Carlinhos que eu tô ruim – Implorou ao se aproximar.
 
– Vixe, e o que danado foi muiê? – Indagou.
 
– Num sei, só sei que estou mal. E vim aqui pro mode o Sinhô me fazer um remedeio pra essa zonzeira toda. A cabeça dói, a garganta arde, o corpo todo dói. – explicou ela.
 
– Minha fia venha cá chegue, sente aqui que vou preparar um chá de ervas pra mode você tomar. – Pediu apontando para um banco de madeira de três penas.
 
          A enferma morena se sentou, e ficou aguardando o bravo curiboca preparar o chá. O que durou entorno de uns quinze minutos, logo Seu Carlinhos estava de volta, trazendo em sua mão direita um velho bule de estanho, e em sua mão esquerda uma xícara de louça contendo o “fabuloso” chá de ervas medicinal. A quantidade e variedades de ervas e casca de pau que continha na efervescente mistura, até hoje é um enigma, apenas o sábio sertanejo é conhecedor. Enquanto Maria de jacaré ingeria aos poucos, e vagarosos goles. Nisso, o atilado mameluco foi até seu quintal e colheu varias espécie de plantas misturou com outra variedade de casca de pau, adicionou água, vinho branco e mel. Em seguida adentrou a cozinha e foi elaborar os “ajustes” finais para preparar a tal “garrafada” infalível.
 
– Pronto Maria! – Falou ao se aproximar e entregar a mulher, uma garrafa contendo um escuro líquido – Pra mode você ficar boa, você vai tomar uma cuié de sopa dessa garrafada três vezes ao dia, certo? Uma di manhã, outra dispois do armoço e outra dispois da janta. Num isqueça. – afirmou ele.

– A bem da verdade, adispois desse chá, mi sinto bem mio. – confessou. – Agora mi diga quanto lhe devo? – quis saber ela.

 
– A minha a sinhora num deve nada. – foi a resposta.
 
– Qui Deus lhe pague entonce, brigado e boa noite. – agradeceu e se despediu.
 
E, por incrível que possa parecer, ela saiu dali aparentando ser outra pessoa. A pele estava corada, os passos mais firmes que quando chegou e cabeça erguida. Talvez estivesse “ainda” sobre o efeito do fabuloso chá do médico do sertão. Aquele caboclo era, e o é, mesmo fantástico em seu saber. E como ele sempre diz: “eu num sei lê, mais devo ser doutor em arguma coisa”, e o era , com mestrado e doutorado na arte de discernir sobre qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida se apresenta a partir do conhecimento próprio e rotineiro, o extraordinário saber popular. Em suas mãos as ervas medicinais, pareciam aumentarem seus poderes de cura, e se curvavam diante a sua sabedoria e manuseio.
 
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Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 01/11/2017
Reeditado em 19/01/2018
Código do texto: T6159551
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