Sobre borrachas e Grafite

Incrível como a imprensa sensacionalista toma espaço e ganha a atenção de um público acostumado com essa passagem rápida de manchetes polêmicas e que até chegam a ficar enfadonhas de tão exploradas na mídia.

Do calvário e agonia à morte do Papa João Paulo II, do conclave ao veredicto final sobre o novo nome a figurar como o Todo Poderoso da Igreja Católica, até a morte do príncipe Rainier II, percebe-se que é tudo questão de furo de reportagem, talvez até promoção para aquele que chega primeiro e, portanto, tem notoriedade e ascensão profissional. A outra imprensa, séria, informa, é impessoal, anti-partidária e ética, em uma democracia da injustiça e da impunidade, que fazem seu papel com competência.

O fato em questão, mesmo entremeio a estes últimos em ordem cronológica, foi o episódio entre o jogador Grafite e o argentino Leandro Desábato, este indiciado por injúria qualificada e por preconceito racial. Seu mundo quase desabou na última semana.

Não vai aqui, de maneira alguma, apologia ao racismo.

O caso, que tomou repercussões e comentários internacionais, foi a manchete do momento em jornais e TVs de todo o mundo.

Negar que atitude de Desábato foi preconceituosa, repugnante e motivo para retaliações seria burrice.

O que vale ressaltar é a decorrência tão presente desta e de outras demonstrações de preconceito, principalmente em estádios de futebol sem a mesma repercussão e atenção jornalística e por parte das vítimas.

Grafite, no exercício de seus direitos de cidadão, fez valer a justiça que o apoiou sob os culhões de um juiz valente e cumpridor de seu dever, levando às últimas consequências. Ponto para ele. Mas, quantos negros já não foram chamados disto ou daquilo em detrimento do momento de insensatez e da falta de equilíbrio psicológico dos jogadores em campo?Por que não procuram seus direitos e delatam em campo ainda, como fez Grafite? Seria diferente o jogo não fosse contra os argentinos? Talvez.

A pergunta que não quer calar é: - Por que todo negro, o da favela, o da vila, os descamisados, por que estes não seguem o exemplo? Por que, nesta famigerada desigualdade social, em um processo semelhante, o máximo que conseguiriam é serem ouvidos? Engavetariam o processo depois por provas ou testemunhas oculares.

Afinal, não era jogador de futebol. Profissão que é o sonho de muitos meninos que, sem perspectiva do feijão de cada dia, correm atrás de uma bola no campinho do bairro para um dia ser jogador. Eles não são poderosos? Ganham muito dinheiro, dormem com as modelos mais lindas e fazem filhos como quem ganha troféus. E pagam pensões. Pobre nem isso. Vai para a cadeia.

Já não se fala mais nisso. Umas poucas linhas apenas resolverem indenização por parte do acusado. Novamente o poder de uns prevalecendo.

Não houve exagero no ato em si, e sim na valorização mundial e a aplicação da lei foi justa e irrevogável. O indômito Desábato, com certeza levará para sempre este fato em sua memória. E pensará duas vezes ao dirigir palavras preconceituosas a alguém. Ou não, se a vítima for menor na escala social.

E assim, passa-se mais uma vez uma borracha nos últimos acontecimentos nacionais para recomeçar uma nova maratona na corrida em busca de novas manchetes. Qual será o próximo?

Silvinhapoeta
Enviado por Silvinhapoeta em 10/06/2017
Código do texto: T6023953
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.