O ESPÉCIME NATIMORTO

“Diz o Mestre JM, em “Cabeças Egocêntricas”, http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/5971102 : ... É sempre útil lembrar de que o poema esteticamente bom é o fruto bendito e babado do conviver, fruto que já foi lambido por muitas línguas... Moncks é sempre um alicerce para a obra poética.”.

– Nurimar Bianchi, via Facebook, em 15/05/2017.

Talentosa poetamiga e confreira! Talvez nem imagines o quanto me conforta o teu aplauso ao que ora aponto metaforicamente em relação ao bom poema. Sim, este aval do poeta-leitor corrobora a teoria literária da recepção (Jauss: História da Literatura como Provocação à Ciência Literária. Ática, 1994) e avaliza o que digo de há muito: o poema é matéria que ainda não adquiriu vida (fora até do estado anímico letárgico) antes do olhar do receptor. Simplesmente a peça textual ainda não existe, apenas temos a garatuja textual. De nada adianta o seu autor se imaginar um gênio e acreditar piamente que publicou a (sua) última obra prima... E este é o maior e o mais assíduo problema que a Crítica enfrenta nestes tempos volúveis da sociedade da modernidade líquida, sem criticidade para a análise sobre o texto, individualista, e, portanto, como consequência: consumista e globalizada. O poema da contemporaneidade, mercê de que possa conter um pontual episódio de uma historieta pessoal do autor, especialmente na poesia lírico-amorosa, não pode ser somente este relato pessoal, e, quase invariavelmente, derramado, incontido quanto à extensão verbal da peça. Neste perfil, jamais teremos aos olhos um poema com Poesia e, sim, uma explosão do psiquismo autoral que deseja personificar o amar e, com este fazer literário, sentir-se bem, tal como apontou Sigmund Freud. Destarte, Poesia é muito mais do que um surto psíquico de natureza psicótico-possessiva. E é uma lástima que os recantos da grande rede estejam grávidos de um extenso número destes espécimes natimortos, segundo o conceptual da Poética.

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/17.

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