Etimologia da Língua Portuguesa Nº71

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº71

Mágico, o que muitos precisam ser no mundo ainda hoje para sobreviver, veio do Grego magikós, que encanta por realizar feitos cuja lógica desconhecemos. Essas pessoas, aliás, merecem uma taça, do Persa tasht, bacia, pires, pelo Árabe vulgar tâsa, vaso de pé para beber.

Champanha: do Francês champagne, por influência da região chamada Champanhe, a leste de Paris, onde a bebida foi originalmente fabricada. Designa vinho espumante, em geral branco, podendo ser também rosado, quando, por influência do Francês, é mais conhecido como rosé. Vinhos do mesmo tipo, ainda que fabricados em regiões, passaram a ser conhecidos pelo mesmo nome e chegaram a outros países. Assim, o Brasil, grande produtor de vinhos, também fabrica champanha.

Mágico: do Grego magikós, pelo Latim magicus, que encanta por realizar feitos cuja lógica desconhecemos, como tirar um coelho da cartola. Há mágicos profissionais , mas os há também amadores, como é o caso do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. Em seu livro de memórias. A Sociologia como Aventura, o cientista social paulista José de Souza Martins narra este episódio: “ Sem dizer nada, pegou uma laranja e cortou-a ao meio, sem descascá-la. Tirou de dentro da fruta uma nota de um dólar americano, devidamente molhada pelo caldo. Os circunstantes ficaram boquiabertos. ( ... ) João Ubaldo explicou-lhes que Cuba estava perdendo dinheiro. Exportava laranja a preços ínfimos, quando bastava cortá-la e extrair de dentro o dólar que cada uma continha. Puseram em dúvida o que haviam visto. João Ubaldo cortou outra e tirou de dentro outro dólar. Desafiado, cortou uma terceira e novo dólar saiu de lá. Os cubanos devem estar até hoje procurando entender como é que ele conseguia

Fazer aquilo. Eu estou.”

Naipe: de origem obscura, provavelmente do Catalão antigo naip. Designa sinal gráfico para distinguir cada um dos quatro grupos das cartas do baralho ouros, copas, paus, espadas. Aplica-se também na aferição de qualidades de profissionais, separando-se: não são do mesmo naipe, isto é, têm talentos ou valores diferentes. Uma curiosidade dos quatro reis do baralho é que as figuras foram baseadas em soberanos muito conhecidos na História: Davi ( 1015 – 975 a. C. ), rei de Israel, é o de copas; Carlos Magno ( 768 – 814 ), rei dos francos e imperador dos romanos, é o de espadas; a Alexandre, o Grande ( 356 – 323 a. C.), rei da Macedônia e um dos maiores generais da Antiguidade, coube o de paus; e o general romano Júlio César ( 101 – 44 a. C. ), que jamais foi rei nem imperador, mas teve muito poder, ficou com a carta de ouro.

Pauta: do Latim pacta, plural de pactum, pacto, tratado, contrato. Designa lista de assuntos sobre os quais se vão fazer reportagens. Também a pauta musical, conjunto de um a cinco linhas ( ou mais) horizontais, paralelas e equidistantes, entre as quais e sobre as quais são escritas as notas, tem origem no mesmo étimo, uma vez que o verbo latino é pangere, cravar, espetar, fixar, marcar. Nos dicionários, são encontrados muitos outros significados, daí lemos: “ pauta de exportações”, onde aparece a relação dos produtos; folhas com pautas, para diferenciá-las das folhas brancas destinadas à impressão e não a manuscritos. Na escola antiga, era usado um tipo de caderno cujas linhas semelhavam uma pauta singular. Eram os cadernos de caligrafia, cujas as folhas traziam marcados e separados os lugares para as letras minúsculas e maiúsculas, e limitavam a extensão dos caracteres acima e abaixo, de modo a garantir uma boa mancha para o manuscrito.

Rádio: da redução de radiofonia, palavra composta de étimos latino, radius, e grego, phoné, voz, som. Designa preferencialmente o conjunto de emissora e receptor, juntos ou separados, obra do engenheiro eletricista italiano Guglielmo Marconi ( 1874 – 1937 ), inventor do rádio e do telégrafo sem fio.

Taça: do Persa tâsht, bacia pires, pelo Árabe vulgar tâsa, designando vaso provido de pé, para beber. Tornou-se em muitos contextos sinônimo de copo. Acerca dos dois modelos clássicos de taça de champanha, há uma curiosidade sobre o copo mais largo, apoiado numa haste: o molde teria sido um dos seios da rainha francesa Maria Antonieta ( 1755 – 1793 ). Ela teve destino trágico, ao final de tantas festas regadas a champanha, especialmente no Palácio do Trianon, presente de seu marido, o delfim, que se tornaria o último rei francês sob o nome de Luís XVI ( 1754 – 1793 ): ambos foram decapitados na Revolução Francesa.

Deonísio da Silva, da Universidade Estácio de Sá e da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo ( USP ), autor de 34 livros, alguns publicados também em outros países, como os romances Avante, Soldados: Para Trás ( Prêmio Internacional Casa de las Américas ) e Lotte & Zweig, e os livros de referência De Onde Vêm as Palavras e Palavras de Direito. Apresenta na Rádio BandNews, com Ricardo Boechat. Sem Papas na Língua, e com Pollyanna Bretas, Pitadas do Deonísio. E-mail: deonisio@terra .com.br

Revista Caras

2013

Doutor Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 12/03/2017
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