O tempo, sua voz e seus ventos

Estou vivendo dias nebulosos,obscuros, anoréxicos e mórbidos.

Talvez eu soubesse que algum dia ele chegaria, assim, com essa boca escancarada, engolidora de paz.

Toda manhã, quando acordo, tenho a impressão de que tive um pesadelo... MAS NÃO! É verdade, é real a falta de tranquilidade pela qual estou passando.

Tenho no sofá da sala uma estátua viva, com olhos arregalados que lamenta-se dia e noite sobre a própria existência.

Sua mente e olhares são maquiavélicos, avarentos e sórdidos. E sua sombra me cobre de horrores.

Não sei quanto tempo vou suportar essa nuvem de tempestade que entrou em minha casa, e sinto que perco as forças a cada dia. Entretanto não me deixo seduzir totalmente pela maldade e falsidade exaladas daquela figura que, num momento pede a morte, noutro celebra a vida. COMO ASSIM?

A primavera se aproxima, e ela era tão bonita, tão colorida e feliz, mas eu não consigo mais ver sua face rosada me acariciando em tardes outras, que agora são apenas matizes numa tela em desgaste.

Tento desesperada não ser engolida por esse baixo astral que me encara negativamente e logo em seguida mostra um sorriso metafórico e totalmente sem perspectiva.

Tudo é farsa, tudo toma grandes proporções, quando na verdade, sabe-se... que não.

Ser teatral é privilégio do artista. Um artista/cênico pode alegrar ou entristecer... Mas tudo nele é utopia, porque ele apenas encena e volta para a realidade, mas a estátua em questão precisa sempre de platéia, até na vida real ... Porque a utopia é seu lema.

Lucinha Oliveira
Enviado por Lucinha Oliveira em 02/02/2017
Código do texto: T5899975
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