Nosso tempo

Com frequência, escuto dizerem "Não pertenço a esse tempo" ou em uma versão mais saudosista "No meu tempo". No entanto, o nosso tempo é o que está ocorrendo agora! E é comum que nossa mente, diante de alguma dificuldade, em alguma área, encontre refúgio no passado (especialmente momentos anteriores à vida adulta, nos quais as responsabilidades eram menores) ou viaje para o futuro (sonhos), visando fugir do presente momento.

Comumente, a esfera afetiva é a que mais se reveste de fantasias pelo imaginário coletivo, cultuando um romantismo e um amor quase impossível. Neste amor, nenhum dos dois tem defeitos, ambos são capazes de renunciar a tudo e de fazer tudo pela felicidade alheia. Isso na melhor das hipóteses, pois na maioria dos casos, se espera isso apenas do outro, sem avaliar o que nós estamos dispostos a

oferecer.

E têm dois períodos na história da humanidade, que contribuíram muito para essa idealização de períodos anteriores ou situações ideais.

O primeiro deles com Platão e a sua filosofia do Mundo "Perfeito" das Idéias. Uma forma tão pura e essencial, além das ilusões da terra e das questões materiais. Ideal que seria revivido no Renascimento com a reconstrução de um mundo, que sobrevivia às sombras da peste, da fome e das lutas medievais, e posteriormente, pelos hippies no sonho de "Paz e Amor" em um mundo envolvido na triste guerra do Vietnã.

O segundo período, nasceria na era Romântica, que faria uma "releitura" dos tempos medievais. E talvez, este período encontre raízes profundas até hoje. Os antigos mercenários foram elevados à categoria de cavaleiros honrados! Camponesas maltrapilhas foram enobrecidas e viraram princesas, esquecendo que apenas a nobreza e seu "sangue real" poderiam por "direito" almejar essa condição! Os castelos abriam suas belas pontes levadiças, esquecendo as ruínas destruídas após tentativas diversas de invasões e dominações. Os românticos definitivamente coloriram uma história que era "preta e branca". E esse colorido, se tornou definitivo, quando viraram os desenhos mundialmente famosos da Disney com seus desfechos "E foram felizes para sempre..."

E essas ideologias de perfeição foram absorvidas culturalmente pelo mundo. Inconscientemente, neste desvio do presente, passamos a fazer releituras de quase todos os períodos da humanidade! "Bom mesmo era o final do século XIX e início do século XX". Será? Casamentos sustentados, na maioria das vezes, por fachada. A mulher sem direito de ir e vir, sendo obrigada a ser do "lar" e muitas vezes, se silenciando a escapadelas do marido..."Eu preferia o fim do século XVIII e o início do século XIX". Será? Casamentos arranjados de acordo com o interesse da família, não havia opção, havia um dote! E quanto mais voltarmos, mas percebemos, que felizmente, o mundo evoluiu!

Os problemas sempre existiram e em todos os tempos! Cada geração, certamente bebia da fonte da anterior. Negava seus defeitos e idealizava suas qualidades. Mas o presente, sempre esteve ali! Convidando cada um para sua mudança pessoal e a própria transformação. Os gênios, se tornaram atemporais, sabiam fazer essa leitura do momento, ainda que muitas vezes, devido a uma forte pressão social, acabassem sendo auto-destrutivos. É difícil nadar contra a correnteza.

Mas até hoje, suas palavras, exemplos e criações são imortais e todas elas nos convidam para viver o agora! Este é o momento exato de fazer a diferença! Não espere um amanhã que depende de hoje para existir e nem um ontem que lhe trouxe até aqui! A melhor forma de não ser devorado pelo tempo é vivê-lo! Não importa quantas histórias foram escritas antes da sua, mas que neste instante, escreva a sua!