Desminto. Desmito: sentido horário - giro do mingau (dois em um: uma convenção e um mito)

Levante seu braço. Aponte enriste seu indicador. Agora gire a ponta de seu dedo, em círculos completos, 360 graus. Gire, gire, gire, pinceladas no ar... Mestre de telas de ventos, redemoinhos, pequenos tornados, crie e domine ondas... Ah claro, não se esqueça, gire sempre para sua direita! Nessa direção estaremos controlando o tempo, para frente, rumo ao futuro... Sentido horário!...

Então quer dizer que se invertermos esse sistema estaremos dominando de vez o tempo... Senhores do passado e do futuro...

É claro que estou apenas brincando com o que se convencionou, o dito sentido horário. Precisávamos a princípio de uma convenção para organizar nosso pensamento em relação ao tempo. E assim foi e tem sido.

Mas um sábio relojoeiro, amigo meu, me chamou a atenção para essa intrigante realidade sobre o tempo. Me contou de um relógio curioso que fabrica, onde o mecanismo trabalha ao contrário: ponteiros girando sentido ¨anti-horário¨, números invertidos... Ele o chama de ¨Relógio Maluco¨. Outros o batizaram de ¨Relógio do Cabeleireiro¨...(o espelho esclarece este ponto de vista...). Mas então, no fim, o tempo continua correndo como sempre, qualquer que seja a direção. Dado um ponto de referência, em relação ao tempo, tudo é para frente e para trás, concomitantemente. Não existe direção para o tempo... Direita, esquerda, para frente, para trás, para cima, para baixo...

Será que aquele relógio é mesmo maluco? Será que o tempo é maluco? E nós que convencionamos tudo, somos normais? Tão controladamente encaixados em modelos formatados, podemos mesmo compreender o tempo, ou somos limitados e medíocres em sua relação?

Convencionou-se a marcação do tempo, assim como o mito convencionou o giro do mingau ou do angu...

Acreditar que mexer a colher na panela do mingau ou da polenta em direção contrária à que Dona Maria começou vai desandar ou talhar o creme, seria o mesmo que acreditar que metendo o dedo nos ponteiros do relógio, adiantaríamos o futuro ou traríamos o passado de volta, e esse caldeirão fervendo, seria nada mais, nada menos, que a própria máquina do tempo!...

Talvez por isso as Donas Marias, nossas mães, avós e tias, tenham essa crença mitológica sobre essas iguarias... Talvez seja mesmo verdade a necessidade de manter esse giro e em sua infinita sabedoria, nossas madonas nunca esclareceram o mito... Porque ali na beira do fogão com a barriga no caldeirão como feiticeiras, tenham compreendido e guardado em segredo de confraria, o giro mágico de controle do passado e do futuro, na guia de uma colher de pau!...

E eu sou apenas o cara-de-pau que sempre questiona e caça mitos, perturbando ás vezes até as matriarcas:

- Ô minha mãe, minha tia, pega um descanso, deixa que eu giro. Deixa de crendice e cuida apenas pra que um dedo sorrateiro, uma lambida de colher ou uma nuvem de perdigotos, não tomem assento no seu fubá!

Poque aí sim, o mingau vai desandar, vai talhar!...

Nota: a abordagem do tema, ¨sentido horário¨, foi sugestão do amigo Roberto Fantini, relojoeiro de ofício, em Belo horizonte - MG, a quem dedico homenagem.

Cassio Poeta Veloz
Enviado por Cassio Poeta Veloz em 02/11/2016
Reeditado em 14/09/2023
Código do texto: T5811323
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