Homo Mortalis

Homo Mortalis

Dificilmente encontramos alguém que já não pensou sobre a morte, pois querendo ou não é um fenômeno que abarca todo o ser humano. É fato incontestável que todos morremos, mas nem todos concordam sobre o que é a morte. Batista Mondin em seu livro “o homem, quem é ele?” nos apresenta três dificuldades de falar sobre o problema da morte, primeiro porque faz parte do problema da vida e este em si já é árduo tratar, em segundo vamos falar sem tê-la experimentado e por último pela quantidade de respostas contraditórias que se tem sobre o assunto.

Três considerações importantes:

1- É fato incontestável de que o ser humano morre;

2- Que esse acontecimento diz respeito a um ser dotado de autoconsciência;

3- Que mesmo ainda não termos experimentado não nos foge completamente do nosso conhecimento.

Como nós devemos nos sentir em relação à morte? Oque é a morte? Morre todo ser humano? Algo dele ainda sobrevive? Perguntas como essas surgem em relação à morte. O ser humano tem consciência desse fenômeno, por isso indaga a respeito. Tomas Nagel no livro “Uma breve introdução à filosofia” diz que dependendo da nossa concepção de morte, é que nós iremos sentir algo.

A morte no sentido mais universal possível significa “cessação do processo vital em um organismo vivo”. Na linguagem da biologia molecular, a morte é definida como “a dissolução da estruturação molecular necessária para o fenômeno da vida”. Do ponto de vista filosófico, mas também na linguagem ordinária, uma definição muito comum da morte é a que diz que “a morte é a separação da alma e do corpo”.

Dois tipos de morte: a clínica e a absoluta.

Clinica: É o “morrer” graças ao qual se verifica no homem a cessação das funções essenciais do corpo.

Absoluta: É a separação definitiva da alma e do corpo.

Junto ao problema da morte vem a questão da imortalidade, se há a possibilidade de vencer a morte ou se após a morte do corpo algo ainda sobrevive. Imortalidade significa “perenidade da vida”, ou limitando-nos ao sentido etimológico do termo, “in-(não)-mortalidade”, “ falta de morte”. Segundo são Tomás “imortalidade significa certo poder de viver sempre de não morrer ” .

Algumas divisões de imortalidade:

Absoluta: É própria de Deus;

Condicionada: Das criaturas;

Natural: Procede dos princípios que constituem uma coisa dada (ex: imortalidade dos anjos);

Sobrenatural: Esta é conferida a um ente que por si deveria perecer (ex: o corpo humano).

Ao longo da historia da filosofia ouve muitas teorias sobre a morte e a imortalidade, e Platão foi o primeiro a enfrentar o problema de modo sistemático (nas obras do Fédon e no fedro). Para Platão a morte era a libertação da alma do corpo, a alma estava presa ao corpo e deveria se libertar. De Platão até Kant a maioria dos filosóficos não considerava a morte como a extinção de todo homem, mas apenas de uma parte, o corpo. A outra parte, a alma, continua a subsistir no mundo dos espíritos.

Agostinho, Tomás e outros pensadores cristãos entreviram no conhecimento intelectivo um sinal de espiritualidade e dele tiraram um argumento em favor da imortalidade da alma. Agostinho nos “solilóquios”diz que “a alma atinge a verdade no conhecimento intelectivo. Ora, enquanto sede da verdade, a alma é imortal do mesmo modo que a verdade” .

Para Kant a razão especulativa é expulsa da metafisica: ela se deve limitar ao mundo dos fenômenos, sem poder dizer nada sobre o seu sentido profundo, sobre seu significado último. Todavia do ponto de vista da razão prática, Kant deve reconhecer a imortalidade da alma como uma exigência essencial da moralidade. Enquanto antes de Kant a maioria dos filósofos afirmava a imortalidade da alma, depois de Kant a grande maioria negava-a.

Freud considera a morte como um instinto próprio de todo ser vivo. Ora dado que a vida teve origem no mundo inorgânico, ela tende a retornar para a substância inorgânica: a vida tende para a morte, o escopo da vida é, portanto a morte. Para Nietzsche a morte é a suprema possibilidade da liberdade humana.

Quanto ao sentido da morte, os pensadores do nosso século estão divididos em duas tendências opostas:

Tendência niilista,para qual a morte é o fim total do homem, de toda a sua realidade psicossomática;

Tendência não niilista, para a qual a morte não assinala o fim total do homem.

Para Heidegger que é um existencialista, a morte pertence à estrutura fundamental do homem. “A possibilidade, mas própria, não relativa e não ultrapassável do homem é a morte. Ele não a procura posteriormente no curso de sua vida, mas mal começa a existir e já está lançado nessa possibilidade” . Para Sartre o homem é essencialmente liberdade, mas é uma liberdade finita, limitada. Um de seus limites intransponíveis é a morte.

A solução niilista do problema da morte hoje está na moda não apenas entre os existencialistas, mas também entre os marxistas e os neopositivistas. Alguns pensadores como Garaudy e Bloch, consideram insatisfatória a solução marxista clássica segundo a qual a morte do individuo é um evento necessário para o progresso da sociedade e para o triunfo da classe proletária. Bloch distingue na morte um aspecto social e um aspecto natural.

Gabriel Marcel filósofo francês está persuadido de que não existem provas da imortalidade da alma. Para Karl Jaspers outro existencialista assim como Gabriel Marcel exclui que a filosofia pode fornecer provas sobre a imortalidade da alma “é a melhor das hipóteses, a expressão de uma fé inconfessada” . Teilhardde Chardin não admite a imortalidade no sentido “espiritualista”, platônico de cunho tradicional e, todavia, sustenta que a morte total seja uma hipótese absurda.

Algumas características do fenômeno da morte:

Individualidade: A morte é um acontecimento que cada individuo deve enfrentar por conta própria. Ninguém pode assumir a morte do outro. Cada um “pode morrer por outro”... Mas esse morrer por outro não pode nunca significar que a o outro seja substituída a sua própria morte.

Universalidade: Todos caem sobre a foice da morte: ricos e pobres, brancos e negros... Ela não olha a face de ninguém antes de desferir o seu golpe e, portanto, não toma em consideração nem a posição social, nem a raça, nem a idade, nem o sexo, nem a religião.

Inelutabilidade: contra a morte não há nada o que fazer.

Iminência: a morte pode vir a qualquer momento.

Inexorabilidade: diante da morte toda oração, súplica é vã.

Temibilidade: por causa das características precedentes, a morte parece assustadora. Ela suscita horror, aversão, angustia o homem.

Apenas pela observação e pela filosofia não temos elementos para provar a sobrevivência da pessoa humana após a morte. Ulteriores luzes a respeito podemos obter apenas depois da morte, ou então também durante a vida presente, mas não por via filosófica, mas confiando, como sugere Platão, na divina revelação.

Assis Silva
Enviado por Assis Silva em 09/09/2016
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