A LUCIDEZ PRESUMIDA DE CONSIDERAÇÕES POSSIVELMENTE INSANAS ACERCA DE MATURIDADE, PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO E CONTEMPLAÇÃO/CONCRETIZAÇÃO DE SONHOS.
(Somente para quem gosta de ler e tem algum interesse em pensar)

O seres humanos, depois que completamos cinquenta anos de idade, iniciamos implicitamente um processo de nos imbuirmos do sentimento da urgência, posto que a maioria de nós, antes de atingirmos a maturidade que tal idade quase que invariavelmente trás, fazemos mil planos e temos mil sonhos a se fazerem concretos, muito embora, via de regra, com essa idade ainda não tenhamos concretizado nem cerca de dez deles.

E nesse momento é que sentimos a necessidade de nos revestirmos da sensatez e do discernimento, que nos levarão ao vislumbre dos processos que poderão ajudar-nos a não nos sentirmos frustrados pela não concretização de tais desejos.

Primeiro é preciso que concebamos um processo de seleção, o que nos possibilitará separarmos os projetos que não mais são possíveis daqueles que ainda têm alguma plausibilidade.

Feito isso, passaremos a um processo de priorização, onde buscaremos o entendimento do que nós é mais desejoso ou urgente.

Parece bem simples, no entanto, quando começamos a listagem de todos os projetos remanescentes do primeiro processo, verificamos espantados que ainda são muitos, e o tempo que nos resta, tendo em conta a expectativa de vida do homem contemporâneo, não nos aponta uma devida correspondência com aquele montante.

Então voltamos ao procedimento de concepção dum novo projeto, onde teremos que, forçosamente, procedermos à priorização dos priorizados.
Chamemos a isso, para um maior entendimento do processo, de ‘projeto de mensuração dos graus de importância dos processos do projeto de priorização’.
Complicou?
Certamente que sim.

Interessante observar que a tentativa de atribuir a essa segunda priorização uma nomenclatura que nos possibilitasse maior entendimento não incorreu no desejado.
Analisemos porquê:
Certa vez ouvi um lavrador, homem simples e de pouca instrução, o que não é premissa para julgá-lo de pouca sabedoria, dizer que
“a vida é compretamenti simpre, nóis é que faiz ela ficá compretamenti cumpricada.”

Refletindo acerca deste pensamento de meu 'simplório' amigo, verificamos que, de fato, tendemos à complicação de quase tudo, assim como aconteceu com os nossos processos já mencionados (seleção, priorização e priorização dos priorizados), tão somente porque ao invés de mantermos o conceito já capturado pela mente só no campo mental, quisemos nomeá-lo de forma que tal nome nos simplificasse o entendimento, e desaguamos na contramão desse anseio.

A língua portuguesa, tida como uma das mais difíceis de se aprender, tanto na gramática como na fonética, não foge à regra.

Na verdade, nossa língua é extremamente rica, e muitíssimo extensa, ao contrário, por exemplo, da língua inglesa, uma língua bastante reduzida.
Só para se ter uma ideia, possuímos mais de onze mil verbos registrados pelos linguistas, e não devemos usar, talvez, nem dez à vinte por cento deles.

Outrossim, se nos aplicarmos ao aprendizado dos conceitos principais da comunicação e o básico da gramática e da fonética, teremos certa facilidade em utiliza-los no nosso dia-a-dia.

Comprovadamente, é bem mais fácil ao ser humano perceber e compreender os elementos do universo que o rodeia, se dotado de uma boa capacidade de interpretação, e tal capacidade, que pode originalmente variar de um indivíduo a outro, também pode ser adquirida e otimizada através de um maior aprofundamento no aprendizado da língua que se usa rotineiramente.

Exceto os deficientes vocais absolutos, quase todos nós usamos da oratória, da hora em que acordamos até a hora em que vamos dormir, começando geralmente num ‘bom dia’ e terminando num ‘boa noite’.

E é exatamente entre esse ‘bom dia’ e esse ‘boa noite’ que exercitamos nossa capacidade de compreensão da língua, sendo através da observância de nossa fala, sendo através da observância do que nos diz nosso interlocutor, e obviamente que melhor é que pratiquemos essas observâncias concomitantemente.

Nesse ponto, o leitor arguto poderá pensar: "Mas a língua falada é muito diferente da língua escrita. Não tem como comparar."
E de fato o leitor tem razão. Existe mesmo uma grande diferença entre o falar e o escrever.

Nos processos de comunicação interpessoais, algumas vezes nem mesmo precisamos verbalizar para nos fazermos entender.
Observe que se você está num ambiente em que o silêncio é imperativo e necessário, como numa sala de aula no momento da explanação de uma matéria pelo professor, ou numa conferência, ou num culto religioso, ainda assim, você poderá passar mensagens a outra pessoa sem precisar da verbalização.

Se quero, no meio de uma missa, por exemplo, dizer a meu filho que ele não deve se dependurar no banco, basta que olhe pra ele com o cenho um pouco mais carregado e balance o dedo indicador no sentido horizontal. Ele imediatamente irá entender que deve descer do banco e portar-se como a maioria, ou seja, manter-se assentado.

Da mesma forma, existem processos de comunicação sem palavras, feitos através de símbolos, imagens ou desenhos.
Veja que quando entramos num hospital quase sempre nos deparamos com um quadro afixado num ponto estratégico do recinto, onde vemos a imagem de uma enfermeira com o dedo indicador em riste e posto junto à boca.

Esse quadro não tem nenhuma palavra nele gravada, mas entendemos imediatamente que se trata de um pedido ou uma ordem de silêncio; ou seja, nesse caso, uma simples imagem nos passa uma mensagem inteligível e completa.

É este também o caso das sinalizações de trânsito, de empresas, etc.
Se vemos uma placa que nos mostra o desenho de um cigarro soltando fumaça com uma faixa atravessando-o, compreendemos de pronto que é proibido fumar naquele ambiente, não só porque se convencionou que uma faixa, ou duas faixas cruzadas, sobrepostas à representação gráfica de um objeto, nos indica proibição, mas também porque nossa mente tem a extraordinária capacidade da interpretação inerente, e concatenada com nossos sentidos.

Setas nos indicam direção, sem que precisemos saber ou pensar naquele momento o que é direita e o que é esquerda; a seta já fez isso por nós, e por termos a capacidade de interpretá-la, e pela faculdade primordial do ser humano em crer no que lhe é mostrado, seguimos o caminho indicado tranquilos e satisfeitos, excetuando-se talvez aqueles que padecem da ‘síndrome de São Tomé.’

Os processos da comunicação são naturalmente passados a nós desde que estamos ainda no berço, e desde tal época sabemos interpretá-los da maneira devida.

Se a mamãe, ou o papai, ou a vovó, ou a titia, olham o bebê com um rosto sorridente e fazem mesuras para ele, ele responderá a essa mensagem com um sorrisinho que fará derreter o coração dos parentes corujas; mas se ao invés disso, a mamãe, ou o papai, ou os demais parentes ou amigos que o amam e o festejam, entristecerem o semblante e emitirem um sonoro “Aaaaah! Coitadinho do bebê”, certamente que ele responderá com um 'beicinho' trêmulo e uma carinha de choro.

Enfim, sendo os processos da comunicação falados, mostrados ou escritos, os temos acompanhando-nos ao longo de toda a vida, mas somente nos preocupamos em percebê-los com a devida atenção que teoricamente exigem, quando já passamos quase que pela metade dela.

Prova disso é que, se você leitor, me perguntar agora, se aos meus quinze ou dezoito anos, eu seria capaz de desenvolver um texto como este que agora você lê (e que certamente está repleto de erros de gramática) eu lhe responderia que não, pois quando eu tinha essa idade, na flor da mocidade, estava tão preocupado com os meus mil sonhos, desejos e projetos, que mal tinha tempo para me aprofundar na língua escrita, e nem para observar com mais atenção os meandros dos diversos processos da comunicação.

E então começamos a pensar que talvez uma das maiores armadilhas da vida, no que tange à busca incessante do ser humano pela felicidade, é o fato de amadurecermos num tempo em que a mente já está cansada e a máquina já está desgastada, e para muitos, já nem seria mais tão interessante assim o amadurecer.

Em contraposição a tal pensamento, temos o consolo do entendimento de que se amadurecêssemos muito antes, aos quinze ou dezoito anos, passaríamos, talvez, todo o restante da vida suprimidos do gosto pela conquista.

Quanto a mim, concluo que meu amadurecimento, independentemente de ser ele passível de ser julgado (quer por mim, quer por outros) como tardio, incompleto, ou até inexistente, para mim está perfeito, afinal, poderia eu passar toda uma vida centenária sem ter aprendido a escrever uma única palavra.

Que alegria perceber que nunca é tarde para se realizar um sonho, se é esse sonho cabível ao suposto tempo restante, ao desejo e à satisfação da alma.

E você? Ainda tem sonhos ou desejos? 
Tem? Então não se intimide! Selecione-os, priorize-os, e corra atrás, pois é bem melhor morrer tentando ser feliz, do que nunca ter tentado nada.
E quem sabe o caminho para a felicidade não seja nada mais que contemplar a beleza existente no próprio caminho?

Despeço-me aqui, deixando a você, caro leitor, além da possibilidade de alguma reflexão (espero), um abraço que já ultrapassa a casa da metade de um século.

E para não perder o hábito de dar uma punhalada na língua:
Bora lá correr atrás dos nosso sonho?
 
Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 17/04/2016
Reeditado em 06/05/2016
Código do texto: T5607627
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