Estética da imperfeição

Além da superfície deste dia e por trás das nossas palavras cordiais viceja um mundo que desconhecemos. Uma riqueza paradoxal. Escutar palavras não ditas, respirar com o coração, tudo isso faz de mim um ser no mínimo esquisito. Uma amante das águas profundas e dos murmúrios subterrâneos. Em que tempo vivo? No bater das horas? No primórdio dos tempos onde o tempo não se movimenta porque nunca foi e jamais será, é!? Assim, viver paulatinamente o cotidiano me faz sentir uma angústia enorme porque nada é como vemos com nossos olhos de sol, parecem os diálogos um grande teatro, pois às vezes o são. As palavras automáticas e convencionais fazem por vezes aos homens sentirem familiaridades, mas escondem por trás dos vocábulos aprendidos silêncios mortais.

O show tem que continuar, todo artista sabe disso! Em nosso tempo colhemos os frutos artificiais de distrações sem conta que alimentam um vazio. Em que ponto dessa nossa caminhada construímos o equívoco no qual precisamos esquecer que o nosso modo de vida exclui a diferença e tudo que em nossa natureza nos remete ao paradoxo, à morte, à angústia, à tristeza? Deste modo e nessa sociedade do espetáculo a cultura se degenera em consumismo de distrações, gerando um sofrimento sem precedentes. Viciamos na ditadura da alegria, da beleza, da perfeição. Droga disponível é o que não falta.

O que é a Arte na cultura de massa? Ela está a serviço do capital e isso a empobrece terrivelmente. Nos torna cansados e ávidos por algo que possa eclodir, emergir de nossa natureza humana. Amo a estética da imperfeição! A arte sublima a existência, existem evoluções e revoluções possíveis somente através dela. O homem criador mergulha em si e no mundo colhendo arrebatamentos estéticos e expressando sua inteireza através da arte. A arte é em sua essência transformadora, do contrário torna-se apenas distração a serviço da sociedade de consumo.

Sentimentos como a angústia, são extraordinariamente ricos para à arte assim como para à filosofia. A morte é fundamental na dinâmica da vida, sem ela não há transformação, movimento. Como podemos viver assim negando coisas tão essenciais? Nos entupindo de drogas mentais, de mentiras de hipocrisias? Evitamos uma reflexão sobre os concretos, as flores de plástico, a falta de amor, a degradação da natureza e das mentes mergulhando nossos olhos, ouvidos e coração em paraísos artificiais de toda a espécie.

Preservemos o direito de andar na contramão, de subverter, de desobedecer. Muito melhor uma solidão povoada de sonhos e criações a uma ilusão de felicidade, de olhos vendados, de idiotice coletiva. Vamos brindar possibilidades novas, novas formas de viver, de nos relacionarmos com a natureza e com a nossa natureza humana. A estética da imperfeição está mais ligada ao húmus da terra que à virtuoses vazias de sentido existencial. Brindemos à vida e à morte e a tudo que em nós é paradoxal, complexo, exuberante de beleza.

Juanita Sacks
Enviado por Juanita Sacks em 29/11/2015
Código do texto: T5464133
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