"MANOEL DE BARROS,O POETA DOS DELÍRIOS"

Foi Mário Quintana quem percebeu que "todos os poemas são o mesmo poema e que todas as horas são horas extremas".

O retorno à ancestralidade da palasvra é do que falam os poetas, é a

linguagem lírica. Eles atribuem a linguagem dos seres animados e inanimados dando-lhes voz, tornando-os viventes, reificados nos seus

direitos líricos de existirem.

As palavras são desvestidas de seus significados semânticos, como se,cansadas de ser elas mesmas, assumissem uma nova dimensão de significados, retornando à meninice, isto é, em rebeldia as palavras

assumiram-se em linguagem de nuvem, de passsarinho ou de árvore,

ou de rio, ou de pedra, transformando o Universo num receptáculo de delírio de coisas e verbos misturados. É a linguagem primordial, a linguagem da infância da observação que o poeta pantaneiro desenvolve com temas caros à lírica moderna.

Há um sentido lúdico em sua linguagem que desenvolve a estética do fragmentário, a linguagem do "des", da desconstrução, da celebração do ínfimo das "nadezas", próprio do estilo baudeleriano:

"Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará.

Ele está comprometido de monge.

De tarde deambula no azedal entre torsos de

cachorro, trampas, panos de regra, couros

de rato podre, vísceras de piranhas, baratas

albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos,

linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em

gotas de orvalho, etc. etc..

Pote Cru ele dormia nas ruínas de um convento.

Foi encontrado em osso.

Ele tinha uma voz de oratórios perdidos."

(Barros, 2oo2)

Barros utiliza metáforas e metonímias com originalidade quando diz: "Um passarinho me árvore."; "Os jardins me borboletam."; "Uma rã

me pedra."

A poesia de Barros consiste na reificação lírica das coisas que despertam o "DELÍRIO", e devolve à linguagem cotidiana ao seu sentido original.