meu pai.

ontem, fui ver meu pai.

de fato! de verdade verdadeira...

este foi o terceiro momento mais intenso que tive com ele. antes de chegar aonde quero preciso situar tais momentos...

primeiro encontro com meu pai, foi quando fui numa excursão que organizou (coisa doida, meu pai fazendo isso... pelo menos foi o que entendi na época). fomos pra paraty/rj (única vez que fui até lá, mas que sempre prometo voltar... inesquecível).

neste momento, logo após não estar morando mais conosco, no calor das emoções. ele convidou, a mim confesso que me pareceu como algo de ver a aceitação dos eventos, mas como não sou de julgamentos tão acirrados fui.

foi a primeira vez que se deu, de certa forma nossos trocares de olhar. foi bom para entender um pouco deste homem.

segundo episódio inesperado, foi quando me chamou para ir a itabuna/ba, sua terra natal, que acabei pegando umas estradas magníficas da bahia e onde também passei pela primeira vez na rio-niterói (que me fez voltar ao rio, alguns anos depois e passar pela segunda vez por ela).

este convite, veio inesperado mesmo, despencou no meu colo, mas não poderia jamais dizer não.

confesso que tive um frio na barriga, passaria muuuuuuuitas horas ao lado dele, e tendo que discutir assuntos, ver estratégias (planos de viagem) e tantas coisas mais. foi tudo!

consegui ver um pai zeloso (coisa que sempre foi, mas eu não conseguia ler no seu jeito fechado esta característica marcante, ao se preocupar que não desvirtuassemos na vida, em atitudes que dá um outro texto, pois é cheio de pequenos símbolos).

logo na rodoviária, me deu uma orientação (que hoje sei que quis me resguardar, mas que com certeza teve que se despir de tudo dele, para acolher-me como de fato sou).

tive liberdade, mas por não conhecer o meio fiquei temeroso de andar por itabuna só (e me perder). e vejo hoje que ao me prevenir, tinha muita razão e sabedoria no gesto.

vi a sua história, os seus e o vi criança (pois apesar de meu pai já estar na época com seus quase setenta anos), os baianos vivem muito, então vi-lhe menino...

dividiu e me inseriu dentre os seus, em seu mundo e universo, pemitiu que pudésse entender um pouco mais dele.

sem contar que tive a oportunidade de ir a ilhéus duas vezes com ele, e consegui ver aquele primor também. pude trazer na bagagem de itabuna, o gosto do suco de cacau.

inesquecível. o primeiro tomei receioso, mas depois...

as coisas correram tranquilas entre eu e ele, e fui feliz em itabuna, com todas as pessoas maravilhosas que conheci. destaque para os idosos de itabuna...

são os melhores do universo. me diverti muito com eles.

ontem, pela primeira vez, fui aonde ele mora. novo encontro de almas, pai e filho.

daí, apesar de prestar muita atenção em detalhes e nisso também, ví como o tempo passou.

sentamos e conversamos tanto, como converso com meus amigos. e acho que ele também, mas ainda com o zelo de pai. pois quando estamos com eles sentimos que nos vêem como crianças, ou mais inexperientes.

no fundo essa sensação de ser protegido/amparado por alguém, ainda que psicologicamente falando é muito boa.

mas se permitindo receber por outro lado, o afeto e atenção que tinha disponível dentro de meu ser, ainda que minguo perto de todo que gostaria ter para dar-lhe, pois é uma conta que não tem reserva. não dá para acarinhar o tanto que se deseja de alma, pois é algo ilimitado. e mesmo assim,o que é devido e o limitado parecem números restritos a carga emocional que temos de acalentar aos nossos pais.

acredito que nossas almas ficaram mais felizes, pois os anos trazem nova consciência e amadurecimento.

os anos conseguem nos colocar em pés de igualdade.

pude novamente olhar em seus olhos, num espaço dele, entender um pouco mais desse homem fabuloso, que tenta costurar sua colcha de retalhos.

resolvemos um probleminha (desses idiotas que ocorrem aqui no brasil, no caao de telefonia, numa batalha de nervos para se conseguir falar com a operadora, esclarecer tudo o que estava acontecendo, conseguindo uma solução. solução esta que ainda não sei se ideal ou melhor, mas solução).

e pude ser filho. lógico que devo confessar que houve sempre empurrãozinho de minha mãe, para me colocar neste lugar. acho que ela percebe nosso medo de não sabê-lo como ser.

e ao olhar em seus olhos, pude ver refletida sua vida, sua condição idosa, sua bondade, pois quando novos, não conseguimos ou não temos tempo de ler as manifestações de bondade dos outros, ocupados conosco mesmo e nossas vontades e dores.

pude ver, como sempre gostei, de estar perto de uma pessoa idosa, com sua calma que lhe é peculiar e mais ainda, como é bom poder ouvir o pai.

minha vontade foi de pegá-lo no colo, e tirar todo o peso do cansaço que se faz... nos seus quase setenta e cinco anos.

mas me senti ainda mais revigorado pela força de vontade de existir e fazer, que este e tantos idosos tem. ainda realizando coisas e conseguindo refletir sobre tudo.

seus olhos depois de setenta anos trazem isso. mergulhei de corpo e alma e vi que passamos muitas coisas em comum, mesmo que distantes agora, pois nossos sentimentos estarão eternamente ligados.

me dei conta, que hoje ele é mais um excelente amigo que meu DEUS me deu. assim como minha mãe.

me dei conta que estou inteiro. completo nunca seremos. e que também estou chegando à meia-idade, com minhas histórias e talvez terei a honra, se assim for permitido de refletí-las em meu olhar.

DEUS me concedeu o tempo de fazer ajustes que precisavam ser feitos e prosseguir a vida agora, mantendo tudo isso, sem correr com tanta pressa e sem preocupações com o que virá. o crucial já veio: o entendimento de tantas coisas que não alcançava.

e agora me cabe, olhar ainda com maior carinho as mensagens que emanam dos olhares idosos, curtir muito da minha maneira tosca e rude, meu pai e minha mãe.

meus irmãos e minhas sobrinhas (assim como todas minhas cunhadas, pois para mim não deixarão de ser nunca, com respeito a cada uma), nós temos essa linguagem própria desse tempo de se amar distantemente. mesmo por que sou uma pessoa que sumo... grudo num momento, sumo em outro. e para alguns também nunca apareço, mas amo de verdade.

demais, fica o gosto do doce do suco de cacau, as estradas sinuosas de vitória da conquista - itabuna, as praias de paraty e seu vilarejo e o despertar próximo da ponte rio-niterói.

paulo jo santo

coisas da zillah

Paulo Jo Santo
Enviado por Paulo Jo Santo em 10/09/2014
Reeditado em 10/09/2014
Código do texto: T4956274
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