MOVIMENTO CULTURAL CONTEMP. CULTURA DE RESISTÊNCIA. A AVENTURA DE UMA GERAÇÃO.

A melhor forma de enfrentar a ditadura para quem estava à frente da resistência cultural era a exposição total. Aparecer em público, aparecer com grandes grupos, dificultar a ação ditatorial. Afinal, quem era quem, o que fazia, para quem fazia?

Desta forma, o Movimento Cultural Contemp através do seu criador Luiz Ademir Souza enfrentou a ditadura militar. Sem medo foi buscando novos adeptos e parceiros. Não buscou porões e esconderijos. Luiz Ademir Souza escancarou.Formado pela Escola de Belas Artes da UFBA conseguiu com a sua coragem acreditar no sonho e na utopia.

Foi assim que Ivo Vellame passou a permitir lançamentos em Belas Artes e galeria Canizares. Em plena ditadura, quando estudantes não podiam se reunir, quando a aglomeração não era permitida e toda liberdade de expressão proibida, Luiz Ademir Souza enfrentava tudo.

O Movimento Cultural Contemp aparece em 1974 com o desejo de retomar a liberdade de expressão e defender os direitos do cidadão.

Cada lançamento literário envolvia os demais segmentos artísticos: música, teatro, recitais.Os locais escolhidos eram sempre públicos, geralmente envolvendo a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Católica de Salvador.

Naquele tempo não havia internet e, por consequência, inexistiam redes sociais. Todos os veículos de comunicação estavam censurados. Não existia celular nem sms. Poucos telefones fixos e mesmo assim grampeados.

Então, porque os lançamentos reuniam centenas de pessoas? A resposta está na mobilização e credibilidade que Luiz Ademir Souza ofertava ao Movimento Cultural Contemp.

Tudo tinha que ser rápido. Os autores entregavam os originais que, a partir de então, circulavam rapidamente. Do autor para Luiz Ademir que providenciava prefácio, apresentação,orelhas, ilustrações. Também fazia a revisão e levava para a gráfica. Geralmente, autores novos, inéditos até. E na base grandes nomes da cultura baiana e brasileira. Todos desafiando a ditadura.

O importante era produzir, desafiar e publicar. A censura começou a ter muito trabalho: como acabar com lançamentos de grande porte? Como?

A polícia política tentava por todas as formas. As pessoas eram ameaçadas, os livros censurados e apreendidos. Mas Luiz Ademir Souza não desistia.

O Movimento Cultural Contemp crescia cada vez mais com a franca adesão de jornalistas, artistas plásticos, atores, compositores, músicos. Os escritores foram abrindo as possibilidades de todos se expressarem.

Ao observarmos hoje, verificamos que o Movimento Cultural Contemp lançou desde autores agora famosos até autores de um único e inesquecível livro.

O importante era combater a ditadura, era incomodar a ditadura. Quando havia apreensão dos livros com ou sem auto de apreensão, os músicos e cantores se apresentavam, os atores também faziam interpretações relâmpago.

Naquela época Luiz Ademir Souza tinha 22 anos de idade. Ao seu lado sempre esteve Jorge Amado que enxergava nele a mesma vontade e o mesmo sonho libertário. Quero citar também o jornalista Antonio Loureiro de Souza, diretor geral da Faculdade de Jornalismo da UFBa;

Jornalista Jorge Calmon do A Tarde/UFBA; Jornalista João Carlos Teixeira Gomes do Jornal da Bahia/UFBA.

Assim, as gerações se completavam. Isto fazia com que a ditadura respeitasse Ademir. Quer se esconder? Então se mostre!

1979: CINCO ANOS DO MOVIMENTO CULTURAL CONTEMP

Texto da edição comemorativa.

Apresentação de Horagá

Edição comemorativa dos cinco anos da Contemp.

Por Luiz Ademir Souza

“Horagá é mais um lançamento especial da Contemp e tem como objetivo reunir o que há de mais recente na literatura baiana,em particular no campo da poesia. A seleção dos poetas foi feita com rigorosidade a fim de que se pudesse conseguir uma equilibrada estrutura poética, pelo menos em termos de mensagens, e altamente criativa – o que muito interessa a todos nós diante de uma poética atual -, refletindo assim a evolução das letras baianas, sobre forma nestes dez últimos anos, vez que esse estado de criação e força e vida (em função da necessidade cultural dos homens) consegue realmente facilitar o acesso dessa produção de arte a todas as camadas,mesmo as menos privilegiadas pela disposição econômica-social do país.

Ao todo – onze autores baianos vêm de mostrar o que se tem feito em termos de poesia. Todos preocupados em acenturar a vida e a liberdade do homem (como todos os direitos básicos) e o que há de mais novo em suas mensagens e sobretudo fortalecer o caráter de

“direito humano’, de emancipação literária – no que diz respeito, especialmente, à ação de criar e preencher o espaço físico de que têm direito. Horagá então seria o momento próprio dessa decisão tão séria – contudo muitíssimo natural para todos os homens.”

O nascimento da Contemp em plena ditadura.

Como estamos estudando o período de 1974 a 1984, abaixo citamos os dois ditadores que comandaram o Brasil naquele decênio.

30/10/1969 a 15/03/1974

24º Presidente: Ernesto Geisel

Vice: Adalberto Pereira dos Santos

15/03/1974 a 15/03/1979

25º Presidente: João Baptista de Oliveira Figueiredo

Vice: Antônio Aureliano Chaves de Mendonça

15/03/1979 a 15/03/1985.

Vera Mattos
Enviado por Vera Mattos em 27/03/2014
Código do texto: T4745569
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