POESIA E FILOSOFIA, HETERÔNIMOS DA ALMA...

Não passaria a lógica do pensamento pela métrica da emoção?

O que me traz aqui é um auto questionamento.

Não faz muito tempo, conversando com um amigo universitário de FILOSOFIA, enveredamos por uma discussão a respeito dum possível entroncamento entre a FILOSOFIA E A POESIA.

Ele me foi taxativo.

Dizia-me ,fresquinho de aprendizado recém adquirido na universidade, que ambas, digamos... "as artes", são excludentes e de gêneses totalmente distintas.

Obviamente, não me caberia discutir com ele, posto que não sou filósofa e estou muito longe de ser poeta.

Mas o fato é que sinto e penso...."Logo existo!"

E acredito que o sentir me faz mais existente do que o apenas pensar.

Mas aqui, tenho liberdade para sentir o que penso, pensar o que sinto, e confessar a todos, que não consigo sentir sem pensar, mas muito menos pensar sem sentir...

A mim, me seria impossível escrever, se não tiver um posicionamento próprio do meu sentimento, a respeito do que quero pautar.

Entendo sim, que a filosofia talvez seja a mais exata das ciências humanas posto que “pensa” através de fatos concretos,é uma ciência que se baseia na evidência obtida através da lógica do pensamento e ponto.

A poesia não. A poesia divaga, voa, talvez enfeite o pensamento muito mais do que a filosofia, mas não nega fatos! Muito pelo contrário,constata-os... os denuncia ou os ratifica.

Mas, não consigo concordar que ambas são excludentes.

Talvez faltem-me conceitos.

Se a filosofia é a ciência mãe, do pensar lógico, aonde pensa e repensa a vida...o que dizer da poesia...que é o pulso da vida?

Por acaso não há poesia... no pensar dos filósofos?

E não há filosofia no versejar dos poetas?

Seria possível a separação entre sentimento e pensamento?

Vou mais longe. Percebo que a poesia vem antes da filosofia.Um filósofo jamais faria questionamentos se não sentisse algo pulsando em si.

E um pulsar forte, propulsor, quase um incomodo...uma obrigação de elucidar um sentimento, então, recorre ao pensamento.

Daí, é só decidir o caminho que trilhará.Ou se expressará com a forma da ciência filosófica, ou versejará figurativamente...embelezando... como faz a arte poética.

A poesia é o lirismo do questionamento.

Querem um exemplo? Eu conto o milagre e mostro o Santo!

Reportemo-nos a FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS.

Alguém refuta que ali há um filósofo de mãos dadas com um poeta?

Vejamos:

-CAIERO...UM POETA...de alma simples, um FILÓSOFO da natureza, de sentimentos puros.

-RICARDO REIS...um poeta de alma letrada.

-ÁLVARO DE CAMPOS...UM CRÍTICO FERRENHO DE SUAS CONCLUSÕES FILOSÓFICAS do mundo que se lhe apresenta.

E Fernando Pessoa? Um administrador dos conflitos, entre o ser, o pensar e o existir. Uma rebeldia nata que o reparte em vários personagens.... OS HETERÔNIMOS DA ALMA...

Um pêndulo que ora oscila para um lado, ora oscila para o outro.

Mas uma coisa é certa: A poesia é arte, vai além, repito, pois enfeita o pensamento e torna a realidade menos dolorosa.Para mim, a expressão artística da ciência do pensar.

Adorna os campos de batalha desta guerra fria denominada...VIDA!

ILUSTRANDO...

Tabacaria ...ÁLVARO DE CAMPOS

Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Alguém duvida que isto não é um fato...descrito com poesia?