As Estações (parte final): Inverno

Desolação. Isolamento. Noites longas de palavras curtas. Escuridão insistente e misteriosa, encobrindo lembranças ternas, imagens eternas. Silêncio aflito tentando velar o que insiste em ser revelado - o vazio. Não sobrou nada para suspirar, gemer... nada para compartilhar, nada a declarar. Não há calor, apenas toques abortados, sorrisos mecânicos. Alheia a tudo, perplexa, surge uma pergunta cuja resposta fere a lógica e sangra a emoção: "Onde foi parar o amor?" Dúvida... Esquecimento... um outono apagado. Promessas... quebradas. "Onde está o amor?" Não habita mais aquele olhar, não permeia mais aquela voz. Angústia... sensação de perda. Carência... privação. Distância, cada vez maior, indiferença... descrença. É tudo passado... sem volta aparente. E o presente parece eterno, cercado de portas que levam a lugar nenhum, corpos que não conseguem fazê-lO regressar. Bocas que não saciam a língua traidora e odiosa. Olhos cada vez mais frios, cada vez mais sádicos, deixando marcas profundas, sonhos assassinados numa duradoura melancolia... Agonia... "Onde está o amor?" Frio. Trevas. Morte... Sim, pode ser que acabe desta forma. É possível, é corriqueiro, mas não fatal. Existe uma continuidade nascida num ato de esperança no renascer contínuo que é a vida. Tudo está em constante mutação, e da mesma forma que o tudo vira nada, do nada se forma um mundo. Um mundo novo. Das profundezas da terra, brotam novamente os sonhos. O ciclo se repete. A alma mais uma vez floresce com a chegada do sol, que ilumina as memórias encobertas, derretendo as mágoas e reacendendo o prazer de viver: Eis o amor.

Winter is nature's way of saying, "Up yours." Robert Byrne

* O Inverno é a maneira da natureza dizer, "Vai tomar no c*"