Sus ojos, mis ojos

Então ela disse: “quer trocar seus olhos com os meus?”.

Simplesmente há coisas que queria vê-lo fazendo. Tudo bem que poderia até estar sendo injusta comigo. Mas há vezes que penso que talvez ele fosse mais feliz se pudesse ver melhor. É claro que esta percepção ele perdera aos poucos, mas antes havia coisas que ele não pudera fazer, e agora, agora ele pode. Mas não deve. Não deve porque não consegue. Simplesmente porque não há mais perfeição em seus olhos. Em sua visão.

Fico às vezes pensando em como seria bom pra ele fazer o que sempre quis, puder dirigir, puder ir além de seus limites. Eu sei que não vi o bastante como ele já vira, mas poderia suportar tudo que ele vive agora, só para vê-lo em minha frente e feliz com uma nova visão. Porque sei também que a mais linda visão não é aquela visível aos olhos. E sim, aquelas as quais muitas vezes não podemos enxergar.

Conheço os sonhos do meu pai, sei que ele crê que um dia pode ter sua visão de volta. Perfeita, sem manchas em raio-X, sem que possua impossibilidade de puder enxergar ao seu lado. Sem exames mensais para ver se houve agravamentos.

Só queria que ele pudesse tê-la de volta.

Quando eu perguntei se ele queria meus olhos, vi em seu semblante, um olhar que nunca...

Ah, foi como se nada pedisse. E então ele só sorriu. Mas foi um sorriso que não lembro bem, mas talvez o sorriso que dera quando pronunciei pela primeira vez: “papai”.

Fiquei sem chão. Ser ar. Sem sentido. Só queria dar-lhe um abraço. Senti um conforto tão imenso e tão bom.

Deus Meu, dá-me forças para acreditar no milagre. Todos os dias, cada vez mais.

Elisângela Feitosa
Enviado por Elisângela Feitosa em 03/02/2013
Código do texto: T4120901
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