O exercício do poder no rito de sacrifício

Há em algumas pessoas uma necessidade de matar para comer,de alguém comer, pois sejam na mesa ou em cerimônias não cristãs, postos sobre as ruas, bois, bodes, galinhas, enfim, e não se fala do período paleolítico ou de tribos indígenas, mas da vida cotidiana como ela se apresenta para nós e dos cujos tem o hábito de rigorosamente matar uma criatura para comer;

O ser humano quer estar em contato íntimo com a morte ou com a violência que propicia a morte tornando possível uma satisfação gratuita e escondida onde se pode despejar o imenso volume do desejo, não basta ir ao supermercado ou nas lojas especializadas em carnes de animais abatidos, porém criados para esse fim, o que já em si pode ser considerado uma extravagância, para cozinhar; falta-lhe algo, o arbítrio sobre a vida, é preciso matar a criatura pelo prazer da morte que conduz ao prazer do apetite e em seguida ao prazer do sabor; no entanto o ritual de sacrifício mais do que o próprio saborear da carne é o momento mais palatável do processo, é a instância da vingança contra o mundo no momento em que a vida é efêmera tanto para a vítima quanto para seu algoz, é lugar onde em nenhum outro este homem delibera, é o momento de lançar sobre a criatura o ódio contido, transfigurado em poder, o poder que o algoz tem em seu micromundo sobre sua vítima, de executar o requinte da morte por uma cerimônia alimentar, é o momento também de deter-se ou executar, é o instante único e pontual.

O homem sublima no ritual o seu prazer pela morte do outro homem, exerce a força e pela vontade de matar transfere no animal seu instinto e desejo de morte propondo um contraponto entre a doçura da criatura com sua fragilidade em relação à energia impositiva do homem e seu exercício de poder, ou seja, a sujeição do fraco diante do forte, e poderá ser de forma restrita como de forma simbólica onde uma cultura devora a outra como um prato especial ou uma instituição consome os valores de um grupo social.