Arte conteúdo contra artesanato forma

Jackson Pollock lança seus respingos de tinta sobre grandes telas buscando ao mesmo tempo uma dramaticidade e o acaso que elimina qualquer traço ou vestígio da gestualidade direta humana, linhas formadas por rodas de bicicleta, manchas de tintas que se misturam provocando uma efusão autônoma pictórica.

Vincent Van Gogh tinha essa dramaticidade, seus sinais tem um estilo nervoso de pinceladas drásticas provocado por mãos derradeiras; sua pintura em vida durante o seu processo de execução e hoje diante de nossa visão é o acento grave, não fica sem ser percebida a emoção provocada e as pinceladas não falam uma simples palavra como “aqui”; mas sim, “aqui mesmo neste lugar”.

A pintura de Pollock expande a potencialidade de ser um acento grave, não como um ato enérgico de mãos e olhos emotivos e não necessariamente por causa de suas enormes dimensões.

Há nelas um grito descomunal que não se traduz através de uma figuração, de um desenho que irá imitar a natureza e dilatar as cores e traços do objeto representado, ainda que isso também represente ou possua uma carga emotiva, mas na explosão genitora do caos e na sua própria ordenação criativa.

No entanto deixadas de lado as considerações particulares a respeito das obras de cada artista é interessante observar que por ser uma representação contínua da natureza buscando capturar os objetos ao redor ou usando um recurso repetidamente como o respingamento de tinta dá às obras de arte o caráter aparente de recorrentes, ou seja, o de ser repetitivos e por isso parecer ser muito próximo do artesanato, no entanto, sempre existe uma nova experiência vivida no fazer e viver a intensidade de se executar a arte sem ficar focado no na reprodução mecânica do artesanato.

A preocupação do artesanato é ser igual ou semelhante, é se reproduzir infinitamente mantendo assim suas mesmas características e seus mesmos valores, ao contrário da arte que procura ser sempre diferente, superar-se, portanto renovar-se.

São tradições diferentes, o artesanato mantendo o uso de determinados materiais, às vezes de maneira condicionada por causa do seu nicho cultural, seu contexto e a importância de manter viva a memória dessa atividade com raras mudanças que não interferem no aspecto geral do objeto, por exemplo, o uso de resinas ou colas diferentes; a arte, porém, por ser dinâmica se articula com ilimitados materiais e conceitos, muda suas configurações no passar do tempo e da história, revê a sua necessidade diante da vida á medida que se insere nesta.

A idéia de artesanato está muito presa ainda ao conceito “FORMA”, ou seja, mantém sempre a regularidade de sua forma e de suas linhas, limitando-se a se relacionar com o exterior, o mundo em si, de maneira superficial, sujeito ao uso acionado e utilitário; a arte está ligada a idéia de conteúdo que sempre provoca a reação e a mudança, seu diálogo visual é mais profundo, atinge o expectador intelectualmente e também pode interferir na forma.