A ABELHA E O FAVO DE MEL

Chega o poema com sua aura de mistérios e propostas. Encanto-me com a codificação de linguagem. Contente, agradecido e lisonjeado pela confraternidade, rasgo o invólucro e abro o mimo pra fruir o encantamento:

“UMA NOVA VIAGEM

Cler Ruwer

Vertente das Palavras transparentes,

que aguçam minha sede e despertam

meus neurônios para o colorido das

Letras escondidas, nas esquinas

do teu pensamento.

Esse desejo novo, de como detetive

passear sorrateiramente, em busca da

nascente, onde ocultas a cor de cada

Metáfora. Esta é a mais desejada de

Todas as moradas, pois é o que se sente

e não deve ser confundida com a história;

porque esta, simplesmente se aprende.”

– remetido via Orkut, em 22/04/2012.

– forma sugerida pelo analista crítico e enviada à autora:

“NOVA VIAGEM

Cler Ruwer

Vertente das palavras transparentes,

que aguçam a sede e despertam

os neurônios para o colorido das

Letras escondidas nas esquinas

do pensamento.

Esse o desejo novo: feito um detetive

passear sorrateiramente, em busca da

nascente, onde se oculta a cor de cada

metáfora. Esta a mais desejada de

todas moradas, pois é o que se sente

e não deve ser confundida com a história;

porque esta simplesmente se aprende.”

Sorvidos conteúdo e forma, seguem os cumprimentos à autora. É um poema singelo, sem arranjos requintados, rítmico, cursivo e intelectivamente bem encadeado. Versa sobre tema incomum com certa codificação verbal metaforizada que, pela imagística, causa estranheza – que é aquilo que todo o poeta busca e nem sempre consegue... Num mergulho vertical, ocorre uma tentativa de metapoesia – poesia sobre poesia – e os mistérios das coisas sobre elas mesmas, como sugere Fernando Pessoa, em “Tabacaria”, poema de 1928. Trata-se de um convite à reflexão, bem ao teor da Poesia de todos os tempos, especialmente a do poema da contemporaneidade formal. Fiquei feliz em sentir a criadora viajando na Palavra como dificilmente imaginara, visto que acompanho, há algum tempo, os conceptos de criação da poetisa, que chegavam aos redutos internéticos diariamente, via Orkut e outros recantos... Na peça, ainda sobram alguns possessivos como "meus, minhas, teu", que ainda não são dos domínios autorais para chegar à ‘despersonalização’. Parece-me ser somente questão de cuidados e tempo a experimentar no garimpo, para adquirir a habitualidade. Daí que teríamos, excluída a personalização em 2ª pessoa: “onde se oculta a cor de cada Metáfora”... No título, o artigo indefinido “UM” está sobrante: NOVA VIAGEM... Aliás, em Poesia, é aconselhável usar somente o artigo definido, fugindo-se dos plurais, que quase sempre conduzem à cacofonia e aos cacófatos. O indefinido aparece, em Poesia, somente em caráter excepcional... O final do poema, em sua incisiva sentencialidade, apresenta sabedoria acumulada, como convém à magia da Palavra. Enquanto as abelhas colhem o pólen, a aprendiz de feiticeira começa a dizer a que veio, cantando em meio ao pomar, premiando a viagem em meio à floresta das Palavras...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3629939