GUARAGI: educação e história na ditadura militar

Em 1º de abril de 1964, conspiração burguesa-militar, ligeiro golpe de Estado, anti-democrática, derrubou o presidente, legitimamente eleito, João Goulart. Instaurou-se tenebroso período cultural de efeitos nefastos até hoje. Fascismo brasileiro que cairia em 1984. Historiadores reconhecem que o Jango foi derrubado pelas virtudes, defesa intransigente do direito à dignidade dos excluídos e dos princípios nacionais. Assistiríamos a proliferação de mentiras pela indústria do anticomunismo, a deificação do latifúndio, distorções conceituais, ilusório fervor religioso, fumaça densa cegando o povo da verdade.

A euforia do golpe nos Campos Gerais espera dos pesquisadores a consultada a rara literatura disponível e a coleta do depoimento dos que presenciaram pavoroso atentado à nação e aos humildes. Se nunca atingimos às Luzes, era esperado que aceitássemos sem resistências, defendendo-o, combatendo dos que lutavam por um novo Brasil, com reformas de base que incluísse a população empobrecida no processo de produção material e cultural. Temos figuras manchadas pela violência e espírito antipopular que marcou as velhas raposas dominantes. Isso amedronta tanto que sequer se especula em aula de História do Paraná.

O regime contou, no Paraná, com notáveis colaboradores, a reitoria da UFPR e nos campos gerais, instrumentais, obtiveram a docência universitária, prática que estabelecia controle ideológico nas faculdades de humanidades, imerecida designação, até agentes do SNI. O movimento popular pelas reformas de base foi presente em Ponta Grossa. Avistavam-se engajados no cruzamento da Rede, nas proximidades do Germano Krüger, bandeiras, coletando assinaturas pelo nacionalismo, enfrentando a virulenta campanha de difamação do clero conservador. Pais apavorados apontavam-nos aos filhos como comunistas. Ônibus, bares, praças, rodoviária, terminal e escolas exibiam apavorantes cartazes conclamando a delação dos considerados terroristas. Sensacionalismo forte na alma do camponês, temeroso levassem seus filhos para o nordeste ou para a URSS. Comunistas não gostavam de família nem de Nossa Senhora Aparecida.

Estudantes do primário foram atingidos na formação. Militarizada a educação. Os rituais militares como a forma para entrar em sala, professores e diretores reproduzindo a hierarquia institucional. Estudos Sociais, que de sociais nada possuíam, para decorar. Era arriscado questionar a versão oficial. Os livros rigorosamente recomendados pela COLTED. O professor obrigava-se a esquematizar a aula submetendo-a ao visto do diretor. Catecismo e santo anjo nas escolas, para sermos protegidos do demônio comunista. Incutiu-se na mente frágil da juventude, um falso nacionalismo e diversos entretenimentos da época, obrigando o cidadão a deixar com os generais o cuidado com a política. Nunca o monarquista Duque de Caxias esteve tanto na pauta da idolatria ideológica que marcou nossa história. Cantava-se mais o hino ao Duque de Caxias que o hino nacional. Mas toda essa parafernália ideológica não foi unânime e de tão hermética que era, vazou pelos dedos da ditadura dúvidas, questionamentos e revoltas. O regime caiu, deixando o país sem cultura política, sem intelectos, sem nenhum patriotismo, mais pobre, mais corrupto e menos participativo. Produziu uma geração que caminhou do medo para a indiferença.