Pesquisa social e materialismo histórico no Paraná - 1ª parte

Ensaios do Diário dos Campos foram objetos de rica e pretensiosa análise histórica de autores ponta-grossenses como demonstra a Revista História e História, setembro-2009, num artigo “Silêncio, a ação e o sagrado: a diocese de Ponta Grossa-PR durante o episcopado de Dom Geraldo Micheletto Pellanda – (1965-1990) nos jornais “Diário dos Campos” e “Plano de ação pastoral”. Em se tratando de dois pesquisadores, de nível científico, e pertencendo ao quadro de pesquisadores paranaenses, seu esforço traz à baila uma das mais vergonhosas deficiências dos cursos de História, Ciências Sociais e congêneres, o descaso com a História das Religiões, e especificamente, do Cristianismo. Não há cátedra universitária para essa matéria, professores especializados, preparados, bibliografia relevante, nos currículos de graduação e pós-graduação. A matéria está diluída em esparsas citações no rol de aventureirismo ao qual gerações de estudantes bem intencionados são submetidos nas faculdades. Incontestável a importância do Cristianismo no pensamento e modo de produção cultural do Ocidente, indesculpável esse buraco acadêmico nas grades curriculares. Provavelmente, nem os autores do artigo pretenceram dar-se a importância do assunto. É possível que, a moda dos rituais acadêmicos, seu trabalho tenha se reservado as publicações inacessíveis e não tenham se dado ao trabalho de devolvê-los à sociedade paranaense em forma de palestras, seminários ou pequenos cursos.

É um artigo interessante, se aventura a entender uma das fases mais obscuras do processo social paranaense, aquele que estabelece entre nós, o autoritarismo político e religioso. O recrudescimento do atraso sob todos os aspectos. Os autores até tentam captar isto, mas os rituais suntuosos das bancas examinadoras, a influência dos especuladores teóricos, pode tê-los impedido de se aproximarem mais da verdade ou de coragem para tê-la dito. Os apreciadores da Teoria da História constatarão como o preconceito historiográfico, principalmente em relação ao materialismo dialético, se faz presente nas universidades locais, na formação dos intelectuais e professores, observe-se as “dicotomia”, “dualismo conceitual”, ao se referir ao importante trabalho do antropólogo Luiz Mott. Os autores foram temerosos em não pertencer ao grupo herético que pratica tais pecados. Aqui ou ali a situação não lhes oferece alternativa e uma pitadinha de materialismo histórico vai bem, como a impossibilidade de negar o papel da religião no “mascaramento da opressão de classe” ou empreitada perigosa de compreender o fenômeno religioso princesino fora da exclusividade do campo religioso dogmático, denominam cultural, para não afirmar “histórico”, já que falar em “campus e hábitus” se tornou moda acadêmica e tem sido ausente em nosso terreno ideológico. É provável que esse risco que se permitiram correr, lhes fez acertar em, metodologicamente desprezar o irrelevante papel de uma suposta burguesia local e para enfatizar os verdadeiros sujeitos ativos na fabricação ideológica dos Campos Gerais, os senhores feudais, o latifúndio, cuja influência está longe de ser rompida, mas nada definitiva, porque a História desconhece coisas eternas. A História é a ciência das transformações sociais, estudo da dinâmica desse movimento e este sentido aparece misturado no texto e contexto do artigo.