Questão de estar em forma

observamos imagens em desenhos ou telas, fotografias e esculturas, e nos perguntamos se enfim, existe a possibilidade daquilo que se vê exprimir um pensamento, uma sentença, provocar o expectador em sua reflexão, quando os impressionistas e expressionistas começaram a fazer suas mostras, houve quem dissesse que era arte degenerada, pois, presos aos seus pequenos valores enrijecidos, não conseguiram permitir que dentro da forma brotasse um novo conteúdo, que a arte não estaria mais sujeita às puras representações de registro do cotidiano, no entanto, a arte quer dar mais de si, quer atravessar a própria margem e falar ou dançar, ela quer supor um grito preso em nossas gargantas ou dizer que toda a natureza está morta, ela quer irradiar alegria das noites estreladas pintada com toda a energia possível, em pinceladas eficazes que demonstram a negação de tudo que é sombrio, daquele lugar de onde veem os pesadelos, é necessário torcer o braço das musas para fazê-las gritar de um lugar que só o conteúdo pode exprimir. A arte não quer ser parceira da cor do sofá, ela quer ir por lugares aonde o sofá não vai, ela bate na porta e quer entrar na sua cabeça, tomar um café ou chá quem sabe, quer conversar porque se sente só, ultrapassada ou sem assunto, olha para a literatura e diz: _ ei, eu também quero falar e saber de nós!

Vamos imaginar que a maioria das pessoas sabe escrever, portanto se pedirmos que escreva a frase: o cavalo amarelo subiu a montanha; todos vão entender e escrever as frases bem ou mal escritas, bonitas ou feias.

Vamos imaginar também que a maioria das pessoas sabe ler e vai entender a frase, no entanto, poucas pessoas sabem pintar (entendendo pintar como representar fielmente o retrato da imagem requerida) e quando se pede para pintar um cavalo amarelo subindo a montanha, tentaremos o máximo nos exprimir e nos fazer entender, portanto, quando você escreve ou pinta alguma coisa, fica muito claro que o mais importante é você se fazer entender do que você desenhar ou escrever com formas bonitas (entendendo o belo equivocadamente como a imagem fielmente representada da natureza, com o mínimo de interferência pessoal da pessoa que a representa).

A forma é importante porque delimita, e decerto que estabelece um contorno que dialoga com o conteúdo, configura uma imagem no espaço reforçando a idéia poética do conteúdo, a forma sugere musicalidade, ritmo, plasticidade e também possibilita criar um campo semântico de imagens em relação a um campo semântico de palavras ou vocabulários de objetos interligados como palavras e coisas, mas a forma sempre estará sujeita ao conteúdo, talvez o seu uso se limite ao de ser uma ferramenta.

A forma pode e deve ser transgredida pelo conteúdo, como uma pessoa muito bela e bem arrumada que chega ao meio de um salão promovido por pessoas cheias de protocolos e cartilhas e de repente solta bem sorridente um peido barulhento.

Vinícius Magalhaes
Enviado por Vinícius Magalhaes em 06/02/2012
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