Persona grata
 
Estou num mundo onde deuses e demônios interagem numa tal harmonia que fico somente observando e absorvendo imagens que jamais ousei criar em minha mente.
De repente me dou conta que gosto daquele homem que parece que não gosta muito de mim. Mas aquele homem diz que tenho personagens, eu não sabia que as possuía, ele, o homem, me fez conhecedora deste fato... Tenho personagens e elas são minhas, o que é uma grandiosidade inesperada para mim.
Do nada, e desculpo-me por chamar uma santificada persona de nada, descubro que há em algum lugar outro homem que desenha muito linda e cruamente a noite eterna. Eterna para mim que detesto dias desde sempre.
Hoje eu não quero me fazer ser entendida porque o desentendimento é a única coisa que me aquieta por enquanto e quero ficar neste por enquanto o tempo que puder, o tempo que o tempo permitir.
Minha vontade de agradar está ali, num baú que não quero e nem vou abrir, porque resolvi optar pelo egoísmo de ser eu doa a quem doer.
Também não vou roer aquele ossinho que me ofereceram num pouco caso que desprezo amplamente.
Gosto muito da palavra amplamente, tenho a sensação que tudo é espaçoso de sobrar espaço.
Nem sabia que ser individualista, ainda que por um breve momento, tem este sabor tão doce, então só me resta à conclusão de que o individualismo é salvação, doa a quem doer.
Através do cansaço cheguei a um estágio de tanto faz que tanto faz mesmo! E isto é bom demais para que eu largue assim e me alargue para que em mim caiba tudo aquilo que não quero.
Os anjos e os demônios brincam de uma forma tão alegre que quase me dou ao desrespeito de pedir licença e com eles rir tão à toa quanto os vejo sorrindo nesta misteriosa brincadeira.
Hoje uma mulher me falou do céu e da terra com tal propriedade que até quis acreditar que ela fosse de fato a dona de uma grande propriedade rural e outra urbana, mas a pobre, ah, não sabe bem o que espalha, é assim como o vento que vai carregando folhas e gravetos e causando pequenos desastres ao meio ambiente.
Eu não olho lá em cima porque eu vivo com uma borracha na mão apagando tudo que posso, então eu não olho mesmo! Estou deixando a coisa fluir livremente sem medo algum de onde ou no que irá parar, porque dar, ah, não vai mesmo!
É muito, muito importante que amanhã eu me lembre de que tenho personagens, isto fará que meu amanhecer tardio seja bem mais ameno que hoje, ontem e anteontem...
Eu queria muito saber por que chupo tanto gelo e detesto sorvete... Coisa mais esquisita! Queria muito sim, mas não ao ponto de desistir do meu gelo sagrado e me profanar em sorveterias.
Vou ali dar mais algumas voltas em mim antes que aquele sono forçado tome conta do meu corpo, porque a mente, esta jamais adormece para meu desespero final.
Vou alegre sem me importar se é bom ou não, se presta ou se devo jogar no lixo, porque tanto faz e doa a quem doer...
O ossinho? Roa você, que pelo que observei, tem o hábito, o gosto e a técnica bem apurada.

 
Ah! Sem tem muito erro aqui não se esqueça de lembrar que você sempre gostou demais de corrigir; então se divirta...