Cada pessoa é um mundo, e as fórmulas para uma vida saudável variam de indivíduo para indivíduo e suas decisões. Muitos conseguem sobreviver relativamente bem, por causa de seu otimismo, enquanto outros sobrevivem até melhor, por causa de seu pessimismo. Tudo é relativo no tempo, no espaço, nas ações, nas eventuais influências e companhias energéticas que circundam cada ser e particularmente nas decisões tomadas por cada um em suas várias fases de vida.
Tudo gira em torno do que decidimos (ação) e do que é decidido em função do que decidimos (reação). Decisão de pensar algo, decisão de agir a partir do que se decidiu pensar. Agir a partir da decisão de agir. Decidir a decidir.
Só não podemos decidir não ir. Só não podemos decidir não aceitar a decisão contra nós na volta em função do que decidimos enquanto estávamos estávamos no braço de ida.
Mas uma questão primordial é: o que nos impele a decidir? Qual a fonte de nossas decisões mais modificativas? Nossa própria consciência maior? Uma das consciências menores de nós mesmos, inclusive o inconsciente, a mente cerebral ou intestinal? Influência externa de origem terrena ou espiritual? E como saber se a força que nos impele a decidir por algum caminho tem boas ou más intenções em relação a nossas pretensões ascensionais ou de felicidade?
O segredo é habituar-se a analisar os possíveis efeitos de cada decisão que pretendemos tomar, antes de a tomarmos e principalmente antes de cumprirmos a decisão. Temos que nos habituar ao “sim, sim; não, não”, como manda a Bíblia, mas sempre nos dando um tempo de reflexão, mesmo que de segundos, antes de proferir a nossa sentença monossilábica. Automatizando esse hábito, vamos, com o tempo, direcionando nossa inteligência decidicional para trabalhar sempre a favor de nossos interesses maiores, ligados à nossa saúde integral e a nossa reforma íntima divinizante. Isso é uma habituação de vida inteira, que deve envolver todos os nossos estados de ego, particularmente o inconsciente.
Aristóteles disse: “nós somos o que repetidamente fazemos”. E somos também, em decorrência, o que repetidamente decidimos, ou pela autodecisão (decisão oriunda de si mesmo) ou pela heterodecisão (decisão de outrem por nós).
Se nos acostumamos a decidir automaticamente em uma direção, com o tempo, ligamos um piloto automático e passamos a agir ou reagir inconscientemente, sempre que instados a agir ou a reagir diante de certos pares behaviouristas de estímulos-respostas, a partir de um padrão de decisão convergente para o crescimento de todo o conjunto espírito, corpo e mente.
Devemos ter muito cuidado com as decisões automáticas oriundas de lapsos freudianos, ou seja, como resultados de hábitos remanescentes de estágios conscienciais anteriores. Se elas foram autoacionadas para favorecer e para melhorar, menos mal. Mas se elas foram assumidas contra nossos atuais sonhos de ascensão anímica, podem ser um problemão.
Um problema eterno da nossa hominalidade é que não evoluímos simultaneamente em todos os níveis conscienciais. E é aí que mora o perigo. Normalmente, os níveis conscienciais ligados à alma tendem a se despertar e a avançar na frente dos níveis mais zoológicos de nós mesmos, ligados à nossa inerente instintualidade. Como equacionar esse desnível? Disciplina! Observância de si mesmo! Conhecimento de si mesmo em seus vários níveis – físico, emocional, intelectual, espiritual, social etc.
Isso tudo para não falarmos (se é que já não falamos) das heterodecisões à nossa revelia e que em relação às quais nem sempre temos o poder de dizer não simplesmente. Vivemos imersos num universo de ideologias normalmente mais contrárias à nossa independência decidicional do que a favor. Somos obrigados, desde cedo, a ser soldadinhos de chumbo e a atender mais ao poder decisório dos outros sobre nós, especialmente pela via das ideologias sociodominantes, do que pelo eixo da nossa própria consciência. Jung dissera que 95% de nós passam a vida inteira sem tomar consciência de si mesmo por si mesmo. Ou seja, passamos a vida inteira inconscientemente.
Ou não é bem assim? Será que estou falando mesmo em nome do meu consciente racional ou estou dando vazão à voz do meu inconsciente eventualmente mal-amado ou pessimista?
Ouso até dizer que não existe texto que não faça merchandising de alguma ideologia, de algum produto de pensamento ou de alguma corrente religiosa, filosófica, científica e mercadológica. O ideal, pois, é cada um individualmente desconsiderar os ideologemas, inseridos consciente ou inconscientemente, e ficar com a parte pura do texto, na nossa visão, que, por sua vez, tem também suas escolhas. Como diria Paulo Freire: “nada é esterelizado neste mundo”. Isso vale para os olhados e para os olhares. Normalmente há contaminações ideológicas no produtor do texto e nas influências diretas ou indiretas e próximas ou remotas sobre o produtor do texto. E há também contaminações no leitor do texto, com suas visões próprias de mundo (muitas delas mal-assombradas), formando um texto sobre o texto, a partir de suas interpretações. Mesmo uma palavra isolada é um texto, quando bate na telha do intelecto de quem a lê ou ouve. Cada texto, por sua vez, tem seu quê de criptograficidade: diz verdades que não ostentam, principalmente quando atingem não o intelecto, mas o sentimento, que costuma enxergar nas entrelinhas, ainda que a partir do que já espera enxergar.
O texto ideal para cada um é aquele em que, abstraídas as estranhezas, restam as verdades que cada um acredita, por convicção ou por educação, ou porque tende a acreditar.
 
Na escrituração diária do livro das decisões de cada um, amparado em marcos teóricos, ou não, sempre que necessário, troquem-se, adicionem-se, alterem-se ou excluam-se linhas decidicionais de pensamento, parágrafos de ideias e até capítulos inteiros de formas de pensar o mundo, sempre se esforçando para ajustar tudo isso aos postulados cósmicos evolucionais.
Aprendamos a decidir melhor, com base nas experiências pessoais e nas experiências e lições alheias, tudo para melhor patroar a embarcação físico-psicoespiritual, rumo aos horizontes pretendidos.
É como disseram Almir Sater e Renato Teixeira, em seu poema musical “Tocando em Frente”: “cada um de nós compõe a sua história”. Mas a inversão é igualmente impiedosa: cada história em si compõe seu cada um. Somos decididores, mas também somos decididos, a todo momento, a cada emocionema.
 

Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 17/03/2011
Código do texto: T2854575
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