SOBRE A ARTE DO POETAR

Não pretendo aqui discursar sobre nehuma teoria literária nem tão pouco ditar ou repetir regras cartesianas na forma de se fazer poesia, mesmo tendo a consciência de que elas existem de fato. O que me chama à atenção neste fascinante mundo da poesia é exatamente o processo de se compor poesia. Tal qual a Revolução Industrial no final da século XIX, criar poesia passou-se a obedecer a técnicas tais quais utilizadas na industria, a que posso chamar de industrialização intelectual, onde a métrica soa como uma idéia herméticamente fechada, impondo-se regras rígidas e seletivas, o que garantia um privilégio para bem poucos gênios poetas. Pois bem, devo confessar que sempre fui um anarquista no que se diz respeito a desrespeitar a disciplina versejada. Devo assim uma explicação urgente para toda essa rebeldia para com a arte da poesia matematicamente metrificada, e devo iniciar, subjetivamente falando, que acredito piamente que o verso em si não se constitui em arte, ele é apenas uma ferramenta, um artifício que o fazedor de verso lança mão. Percebo que a verdadeira arte está imersa no que chamamos de subjetividade humana, dentro do espírito que habita a forma, que se constitui na própria poesia. Dentro deste contexto, facilmente passamos a perceber que há modos de versejar, mas nunca teremos modos de poetar, porque o poeta é quem sente a vida, que vivencia o amor, possui forças e seus desejos apenas a ele pertence; o poeta está mergulhado na amplidão da vastidão do universo de suas percepções, ele se reveste de cólera e demonstra piedade e perdão, assim como se apaixona perdidamente, e chora, e rir, e inventa as asas de sua saudade em seu próprio vôo.
 Cada poeta é um mundo habitatdo por suas cores próprias, com sua música, com sua dança, com seu ritmo, com sua forma, detentor de uma personalidade  iluminada por mãos divinamente abençoadas. Por isso não acredito em regras e formas pré-concebidas, justas, inflexíveis e padronizadas, que podam a criatividade e a espontaneidade do verdadeiro poeta, livre, liberto destas amarras inventadas. Escolas? Isso soa como um eco perdido em cavernas de medíocres. Nunca irão compreender nem entender a beleza dos mistérios da alma de um poeta, nem o mistério que cerca esta beleza da criatividade. Para o verdadeiro poeta a única força que o faz criar e o leva para a redenção através de seus versos é a dor, à sua sensibilidade em manifestação imediata. Para encerrar esse pensamento, compartilho  da opinião que a única regra de escrita para o escritor é a apoderação de sua lingua pátria e saber utilizá-la de acordo com suas manifestações individuais do sentir. Se iluminado for, certamente será um magnífico senhor das letras , um escritor. Mas se não for abençoado com esse facho de luz divina, nunca deixará de pertencer a grupos, associações e escolas inflexíveis que lançam mão dos processos de exploração da forma pela forma, juntamente com toda a sarabanda peculiar dos escrivinhadores.

 

 

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 12/01/2011
Reeditado em 20/02/2022
Código do texto: T2725087
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