A CONDIÇÃO APTERIGOMORFA DOS RELACIONAMENTOS
Informalmente pesquisado por: Angelo Magno


 
Subtraindo-se as inusitadas, indesejadas e mal amadas intempéries que sempre nos apanham de calças nas mãos, digo, os acidentes e as enfermidades, tudo o que precisamos resolver na vida está dentro dos jardins que crescem ao redor e ao derredor, às vezes, inusitadamente ou até indesejavelmente, quero dizer, dentro dos relacionamentos que cultivamos, ou que nascem e crescem como capim, isto é, sem qualquer intenção ou cuidado. Sim, aí está o grande estorvo que obsta o aqueduto por onde fluem todas as nossas bem-aventuranças.
 
Como agricultores insanos de uma horta global, plantamos a mesma espécie filogênica de comportamento da qual amarga e prematuramente colhemos e que, ao nos alimentar, não fornece as vitaminas e minerais necessários para a subsistência de uma espécie, há tempos, ameaçada de extinção – o ser humano. Leia-se, o ser de competência moral e condicionalmente humana e não apenas uma espécie metamorfa de escafandro biológico em decomposição.
 
Inexorável e paradoxalmente à cominação proposta pelos relacionamentos aos quais somos lançados, como a corça anseia pelas correntes das águas, assim ofegamos por estas mesmas relações que entretecem a trama da vida, ao mesmo tempo em que abrem frestas nos muros rebocados (ou desbocados) de nossos paradigmas culminando na ampliação de nossos quintais intelectuais.
 
Esta constatação pode ser um contrassenso ao popular existencialismo do filósofo francês Jean-Paul Sartre, ao afirmar que “o inferno são os outros”, pois, ao mesmo tempo em que somos afligidos, temos a necessidade de obter e de entregar, dar e receber, falar e ouvir, amar e sermos amados e nos completarmos nestes “outros”. A felicidade, neste sentido, é como um quadro pintado a várias mãos por pintores que preferem diferentes tonalidades, outrossim, uma construção coletiva respeitando as devidas individualidades.
 
Mas antes de sair de uma condição apterigomorfa (condição do quivi neozelandês) e alçar voos ao horizonte incerto dos relacionamentos, saiba de duas coisas: primeiro, que o melhor lugar para se encontrar virtude é no entulho dos defeitos; e segundo, que todos somos feitos de luzes e sombras; entenda, ninguém é bom o suficiente para não decepcionar e não há quem seja mau o bastante para não acertar. Como dizem: todo santo tem um passado e todo pecador, um futuro. Leia um livro e depois diga o que achou da capa e não o contrário.

 







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Angelo Magno
Enviado por Angelo Magno em 04/10/2010
Reeditado em 08/11/2013
Código do texto: T2536757
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