A maçã e a consciência quântica.

Imagine uma maçã.

Imagine que agora, a mesma maçã pode estar dentro de uma caixa de sapatos.

A caixa de sapatos está amarrada, com fitas verdes, ao chifre esquerdo de um cervo pantaneiro selvagem, correndo numa floresta tropical, em direção contrária de um asteróide, envolto em uma estrutura geodésica irregular, simulando tragetórias de partículas neutrinas em um horizonte de eventos.

Apesar da aparente complexidade da cena, isso não interfere no dilema inicial: Até que ponto o fato da maçã estar, ou não, dentro da caixa é relevante para a existência de toda cena?

A maioria das pessoas pode compor representações imaginativas de uma maçã, mesmo sem qualquer referência gráfica imediata. Aumentando gradativamente o nível de abstração, é possível traçar descrições visuais cada vez mais complexas, avançando comodamente em situações tri, quadri, penta ou até quanta-dimensionais.

Por mais simplória que seja o significante, em análise semiótica, há um pequeno infinito número de formas de ordenar simbolicamente o reflexo introspectivo para cada arquetipo perfilático, ao qual, por instantes justapostos, passa a ser constantes em uma referência observacional experimental.

Em cadências devidamente segmentadas, cada moda segregada de informações coletadas, se comportadas por direto cunho pessoal, tanto metalinguístico ou de repertório imagético, finda a prover um descuidado desvio proposicional irrelato, viciando, mesmo que vagamente, a tendência perceptiva dos estímulos devidamente qualificados. Além de apartar a objetividade, passa a reconhecer como relativos, detalhes peremptivos do próprio resultante prático, mesmo em contrapartida ao curso mensageiro interrompido do próprio interlocutor.

Desde a extroversão racional de nossa contemplação metafórica, o poder cognitivo de correlacionar a percepção refletida de nossa própria imagem, aos olhos analíticos de uma referência externa, ganha conotações subjetivas marginais, que primam por sua integração à mesma consciência da grande diversidade dos elementos agregados que outrora fazem parte de um todo causal.

De forma análoga, conceitos quânticos de realidades puramente opcionais, também adotados por ideais positivistas, beirando um chiste tecnicista provavelmente proveitoso à apenas seletos acadêmicos versados em ciências físicas, como de posse da ideia de uma constante cosmologica, tal como imaginado, pode considerar que um macrouniverso, assim como a própria compreensão que temos dele, não está simplesmente se expandindo, permitindo, em contrapartida, pensar que o dilatamento espaço-tempo, é um mero afastamento próprio referencial cêntrico.

Tal conjectura apóia a volatividade do momento, o instante único e singular vivido e sequencializado em uma seta invarialmente apontando para o futuro, cujas determinações são resultantes de um conjunto infinitesimal de combinações aleatórias, que transformam possibilidades perenes em firmados eventos postulados, facilmente comprovável se observado em devidas condições favoráveis, com variáveis restritas, confinados a utópicos sistemas ideais.

No primado da consciência, o universo experimentado vivido, o chamado universo possível, não simplesmente valoriza o reflexo de uma imagem interna, mas também a parcial disformidade de uma dimensão independente e intrapessoal de um protótipo escolhido, que pode, em casos raros e extremos, punir veementemente o desprezo à qualquer co-relação com fatos de um sistema exterior, em parte, para contemplar possibilidades de amostras pré-compostas de resultados ideais, forçados para forjar a correção da punjante questão, e não o contrário como seria o devido.

Apesar de serem importantes passos evolutivos, proposições fracas infelizmente ocludem potenciais investidas individuais fadados ao ridículo, que irremediavelmente partem pela premissa da dúvida, como a esperada unificação da relatividade geral e a quântica. Fato que poderá, certamente, calçar a umbra fractal completamente, ou pelo menos, até que alguma nova fração momentânea existencial nos livre de nossa prepotente ingenuidade.

Irrelevante ao extremo, aqueles que paciente e louvavelmente trespassaram as excessivamente extenuantes linhas de pensamento aleatórias acima, cabe apenas um desfecho irônico equivalentemente fútil e abstrato.

A maçã, com ciência de quanto, é a massa escrita com cedilha e til.

Miguel do Lucari
Enviado por Miguel do Lucari em 28/07/2010
Reeditado em 06/12/2010
Código do texto: T2403892
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