Multi-Consciência
Multi-Consciência
João Carlos Holland de Barcellos, Nov/2007
Um dos modelos mais aceitos sobre a estrutura funcional do cérebro é aquele em que o cérebro está dividido em áreas funcionais. Neste modelo, cada área funcional do cérebro é responsável por uma função ou por um pequeno conjunto de funções. Estas áreas funcionais, que não precisam necessariamente ocupar um espaço contíguo do cérebro, recebem o nome de módulos funcionais. Assim, dentro desta teoria, o cérebro é um conjunto de módulos funcionais, cada qual responsável por um pequeno grupo de tarefas de processamento de informação.
Dentro desta perspectiva, a nossa consciência também seria um destes módulos. O módulo responsável pela consciência não deve estar distribuído por todo o cérebro, pois quando estamos inconscientes, partes do cérebro ainda funcionam. Acredito que uma das funções principais da consciência humana é postergar impulsos e/ou desejos para que estes possam ser submetidos ao crivo da razão (outro conjunto de módulos) antes de serem respondidos. Dessa forma, poderemos ter uma eficiência maior nas respostas em relação aos estímulos que recebemos se respondermos a eles com eficácia, com inteligência. Entretanto, a principal função da consciência, não apenas nos seres humanos, mas em todos os organismos que a possuem, é a capacidade de sentir. Mas a capacidade de sentir, como já vimos, é a capacidade de receber vários impulsos e, de alguma forma, avaliá-los antes de produzir uma resposta. Portanto, até mesmo um único neurônio teria também uma minúscula -mas não nula- capacidade de sentir.
Se olharmos cada módulo cerebral dentro desta perspectiva, de ser uma espécie de organismo autônomo e pensante, já que também processam sinais, podemos perceber que cada um deles também tem sua própria consciência. Já que sua função é exatamente receber diversos sinais provenientes de outras regiões do cérebro e processá-los antes de devolver uma resposta.
Desta forma, cada módulo cerebral poderia ser visto como portador de uma “consciência” própria. Talvez não tenham a percepção da “auto-consciência”, capaz de perceber-se a si própria, ou talvez sim. É possível que cada um destes “módulos-conscientes” que formam o cérebro sintam coisas bem diferentes do que a nossa consciência está habituada a sentir. Isto porque nossa consciência, como um dos módulos do cérebro, é capaz de sentir e perceber apenas o resultado, a saída dos sinais provenientes de outros módulos, isto é, do resultado de seus processamentos internos.
É importante perceber que este conceito de “multi-consciência” é bem diferente da “Personalidade Múltipla” da psiquiatria tradicional [1]. Nesta patologia, cada faceta de personalidade toma conta da consciência de forma excludente. Quando uma está ativa, a outra não está e vice-versa. A “Multi-consciência” não. São múltiplas consciências que estão ativas simultaneamente dentro de nosso cérebro. Aquela que chamamos de “consciência” seria apenas uma delas, e talvez NEM MESMO a mais importante, como mostra o famoso experimento de Benjamin Libet (Benjamin Libet montou um experimento mostrando que nossa consciência parece não ser a sede de nosso arbítrio [2]). É interessante pensar que podemos conviver com vários de nossos “eu”s internos, sem que saibamos o que “eles” de fato sentem e pensam.
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Vimos que a partir da nossa definição de consciência pudemos teorizar que nosso cérebro pode possuir múltiplas consciências internas, e aquela que nós chamamos de “consciência” poderia ser apenas mais uma, das várias, que habitam nosso cérebro. Talvez seja ela que possua a capacidade de monitorar as outras, escolhendo qual módulo ativar ou não. Ou então seja apenas uma área comum do cérebro a ser utilizada como uma forma de armazenar dados para que os vários módulos troquem informações entre si. De qualquer modo, vamos agora sair um pouco de nosso cérebro com múltiplas consciências e perceber, em nosso próximo tópico, que a consciência pode estar um pouco além do que estamos habituados a pensar.