A Prática dos Orientadores Educacionais

Em virtude de mudanças sócio-econômicas e culturais ocorridas na sociedade brasileira, a escola teve de reformular suas funções tradicionais, redefinir o seu papel e criar novos serviços, aumentando-se, assim, o número de pessoas envolvidas no processo educativo, bem como o nível de complexidade dessas instituições. Desse modo, acabou por assumir, gradativamente, a responsabilidade pelo desenvolvimento integral do educando, em seus múltiplos aspectos e em reação aos quais as crianças e os adolescentes se desenvolvem, entretanto nela permanecem.

Por ser um ser em formação, o aluno necessita de orientação de diferentes modos, desde a família até a igreja ou o clube que eventualmente possa freqüentar. Porém, nem sempre, e cada vez menos, elas têm conseguido executar a contento a parcela que lhes cabe na educação.

No que se refere à família, que podemos ver como principal instituição educativa, que muitas das vezes podemos notar o despreparo dos pais e a possibilidade cada vez maior de que a mulher se ausente de casa a fim de trabalhar contribuem para que os genitores ou responsáveis tenham menores condições e disponibilidade na orientação dos filhos.

Noutra vertente, como o aluno passa, quase sempre, um grande número de horas na escola, e como esta é a instituição mais bem aparelhada para exercer influência sistemática e científica na educação dos jovens, esperam-se dela, hoje, bem mais do que a transmissão de conhecimentos. Entretanto, algumas características do nosso sistema educacional, como baixo rendimento da aprendizagem e, consequentemente, altos índices de repetência e de evação, revelam que a mesma não está sequer realizando, a contento a sua tarefa primordial, que é o ensino. Dada à complexidade dessa problemática e considerando que são numerosos e diversificados os fatores que causam o fracasso escolar, conclui-se que a educação não pode se esgotar unicamente na relação professor-aluno. Outra função, complementar ao processo ensino-aprendizagem é a orientação educacional, que atualmente é concebida, por especialistas, como um processo sistemático e contínuo que se caracteriza por ser uma assistência profissional realizada por meio de métodos e técnicas pedagógicas e/ou psicológicas, exercida direta ou indiretamente sobre os alunos, levando-os ao conhecimento de suas características pessoais e do ambiente sócio-cultural, a fim de que possam tomar decisões apropriadas às melhores perspectivas de seu desenvolvimento pessoal e social, torna-se cada vez mais necessária.

Para a formulação de objetivos em orientação educacional temos que buscar redefinir alguns conceitos, buscar assistir o aluno no desenvolvimento de sua capacidade de fazer opções, levando-o a identificar suas potencialidades e limitações, as do meio, e a adquirir habilidades necessárias ao processo decisório. Na prática poderá colaborar com a direção e professores na realização do processo educativo visando o desenvolvimento integral e ajustamento do educando; coletar e sistematizar informações necessárias ao desenvolvimento das atividades do orientador; colaborar com a família no desenvolvimento e educação do aluno; contribuir para o processo de integração escola-familia-comunidade, atuando como elemento de ligação e comunicação entre todos; colaborar na análise dos indicadores de aproveitamento escolar e evasão; desenvolver uma ação integrada com o corpo docente e a coordenação pedagógica, visando à melhoria do rendimento escolar, por meio da aquisição de bons hábitos de estudo; desenvolver no aluno atitudes de cooperação, sociabilidade, respeito, consideração, responsabilidade, tolerância e respeito às diferenças individuais; desenvolver a compreensão dos valores, das implicações e das responsabilidades; despertar no educando a consciência da liberdade, o respeito pelas diferenças individuais, o sentimento de responsabilidade e confiança nos meios pacíficos para o encaminhamento e solução dos problemas humanos, dentre tantos outros.

Portanto, a criança de modo geral, se desenvolve na instituição familiar que é encarregada de prover os recursos necessários à sua sobrevivência; de propiciar-lhe uma base afetiva; de dar-lhe assistência na área de saúde e de ministrar-lhe os primeiros ensinamentos. Por sua vez, a instituição escolar está incumbida de realizar a educação formal das crianças e dos jovens. Cada família alimenta expectativas diferentes em relação ao papel da escola. O mesmo ocorre com a escola em relação à família. Acrescente-se, ainda, que tanto a escola como as famílias possuem características próprias. Surge, então, como condição básica para que possam ser cumpridas as finalidades educacionais, a necessidade do conhecimento mútuo entre ambas para a compatibilização das expectativas e da integração entre as duas instituições.

Desse modo, como elemento de ligação entre a escola e a família, esse profissional deve manter uma comunicação constante com a mesma, respeitando os seus valores e procurando obter sua colaboração, já que ambos têm por objetivo o bem-estar, o desenvolvimento e a formação do educando. Assim, ao planejar o trabalho na área de orientação, é necessário levar um conjunto amplo de informações, seus valores e suas expectativas. Conhecidos os dados básicos, ter-se-á maior facilidade para manter um canal e um fluxo permanentes de comunicação, além de ter elementos para melhor compreender o comportamento do aluno. Pois, sabe-se que, em educação, é bastante prejudicial à existência de conflitos de orientação por parte daqueles que educam embora essa situação não seja nada incomum, tanto entre os próprios pais como também entre esses e a escola. Como tem sido enfatizada, a atuação da escola em relação ao aluno é bastante ampla e diversificada, não se atendo apenas aos aspectos de aprendizagem de conteúdos escolares. São, pois, inúmeros os aspectos, em que é necessário haver concordância de princípios e de atuação entre a família e a escola, buscando sempre uma ação harmônica e integrada.

Bibliografia:

GRINSPUN, Mirian Paura Zippin (Org.) A Prática dos Orientadores Educacionais. São Paulo: Cortez, 1998.