ESCREVER, TRANSCREVER, PRODUZIR TEXTOS

O que é escrever, transcrever e produzir textos? No meu modo de ver, o mais nobre é produzir textos. Quando uma pessoa me diz que não sabe produzir textos, eu respondo: Nós dois acabamos de produzir um texto. Se houvesse um gravador ligado, era só voltar a fita (é o novo!) e transcrever o que foi falado.

Nós passamos o tempo inteiro produzindo textos.

Vou repetir o que contei no meu perfil. Quando fui convidado a dar umas aulas de "redação" (alguém gosta dessa palavra?), tomei logo a seguinte providência: Pedi a todos os dez alunos colocados sob a minha "custódia textual" que esquecessem essa famigerada palavra. "A partir de agora vocês são produtores de textos, e não redatores”.

Logo no começo, a turma estava inibida. Pedi que escrevessem um texto sem limite de linhas, sem dar um tema, sem tamanho de letra. A única coisa que limitei foi o tempo, pois esse não tem como fazer parar. E o relógio vive-nos cobrando.

Escolhi um dos textos e dei uma lida. Tinha lá suas "inadequações", mas eu entendi tudo que o aluno quis expressar. Depois de "passar uns traços vermelhos" nos "erros", eu propus o seguinte: "Eu leio o texto, e sempre que houver uma pausa, vocês dão sinal". Mesmo estando um pouco falho na pontuação, eu li como se estivesse tudo certo. E as pessoas percebiam onde havia pausas, e davam um sinal.

Então eu disse: "Estão vendo? Vocês sabem falar, sabem onde estão as pausas. Peguem esse conhecimento e transfiram para o papel".

Outro caso digno de nota (acho que já contei) foi que uma das alunas contou naturalmente uma história envolvendo seu avô. No final da história, eu disse: Que texto bem produzido você acaba de proferir. Amanhã traga essa história por escrito.

No outro dia ela trouxe a história. O "erro" que encontrei foi a palavra ALZAIMER, que não pertence ao nosso idioma. É o nome da demência senil que vitimou o avô da história, que se escreve ALZHEIMER, nome do médico alemão Aloysius Alzheimer, que em 1901 descobriu o que era a doença e como ela agia em nosso córtex.

Foi aquela história de texto falado, texto produzido; portanto, texto escrito.

Uma das maiores provas de produtor de texto que não conhece gramática falada nem escrita é o caso de Patativa do Assaré, cujos textos, de tão importantes, viraram objeto de estudo na Sorbonne, universidade francesa. Ele estudou poucos meses. Produziu muita coisa.

Chico Xavier produziu centenas de livros. Aqui não cabe analisar o mérito de Chico, ou dos espíritos que ditaram as obras. Ele afirmava que nunca foi autor de livro algum.

Transcrever é apenas um gesto da mão, assim como escrever. A produção se dá na mente. Texto pensado, texto fonado, gravado e transcrito (grafado). Não importa quem transcreveu, e sim quem pensou o texto. Transcrever é braçal, mecânico.

Nós vivemos afogados em textualidade todo o tempo: Ao ouvir uma música com letra, ao ouvir propaganda nos carros de som, ao conversarmos. Tudo isso é texto.

Quem tinha medo de escrever, provavelmente, após ler este meu texto, ficou mais corajoso. Quem quiser escrever e enviar-me seu texto, eu o devolverei com os riscos vermelhos, não da minha caneta, mas dos recursos de sublinhar, existentes no software MS-WORD.

Um grande abraço para todos aqueles que lerem este texto, e outro para os que começarem a produzir a partir dessas minhas palavras de encorajamento.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 07/11/2009
Reeditado em 16/09/2010
Código do texto: T1909413
Classificação de conteúdo: seguro
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