Todo Regime É Democrático

O mundo está cheio de exemplos de regimes de governo considerados ditaduras, entre os quais se destacam aqueles cujo chefe de governo é um lider espiritual ou religioso. Existem também os que são chamados de democracias, e estas assumem os mais variados matizes, desde democracias forçadas até democracias que se apresentam com total aparência de liberdade, igualdade e outras "ades", como é o caso da Ilha de Vera Cruz, que fala tupi-portugês.

Sejam teocracias, sejam monarquias ou ditaduras com aparência de ditaduras mesmo, todos os regimes refletem exatamente os mais recónditos desejos do povo "dominado".

Se alguém não entende o que digo, vou usar uma analogia de Patativa do Assaré: O boi zebu sentou as quatro patas em cima de um formigueiro. O boi representa o aparato do governo, aparentemente muito poderoso. As formigas são comparadas à massa popular. Quem vence a luta: O boi ou as formigas? Elas são numerosas. Seu poder (estando juntas) é maior do que o do touro. Elas vencem a luta com certeza. Mesmo que elas não matem o touro, fá-lo-ão fugir em desespero.

O mesmo não acontece com o governo ao cravar seus tentáculos nas costas do povo. As massas não costumam reagir a absurdos a elas impostos, como é o caso dos próprios "impostos" atirados como fardos nas costas de cada um de nós.

O Brasil tem quase duzentos milhões de "formigas", mas não tem lideranças para conduzi-las a um movimento para afastar ou forçar a melhorar esse touro bravo, que no caso dos impostos, se chama Leão. O último governo da ditadura militar iniciada em 1964 tentou mudar a figura do leão, colocando em seu lugar uma sedutora mulher. Não pegou. É melhor um leão mesmo, pois o povo não quer se dexiar enganar por uma sedução. É melhor saber mesmo que o bicho-governo é bravo, sem disfarces, que precisamos enfrentá-lo. Mas ao mesmo tempo, não queremos enfrentá-lo, pois somos covardes.

Será que temos a consciéncia de que somos capazes de governar? De que todo governo é democrático? De que, no final das contas, somos nós que governamos ao aceitar o que vem, sem questionar? Essa é nossa posição. Queremos viver sob o jugo do governo, em vez de trabalhar ombro a ombro com ele, fazer parte dele, governar de maneira mais direta, com intervenções lá dentro de seus palácios, suas cámaras, seus castelos, ou seja qual for o prédio onde ele se instalou.

Nós temos a força de quase duzentos milhões de formiguinhas, contra um touro muito menos poderoso. Esse "touro" pode ter as armas, mas não tem o número de formigas, com todo o poder de cada uma delas.

Mas força, por si mesma, não vence batalha. É preciso inteligéncia e união. Tem-se que criar estratégia, para que algo possa ser feito. A diferença entre um exército e uma turba é a estratégia que o primeiro tem, sua inteligencia aplicada à luta, em suma, a organização. O exército tem seus líderes. Suas hierarquias. A turba é um monstro sem cabeça. Isso lhe retira o poder.

Quando alguém se arvora de lider, a tendéncia é que seja eliminado, principalmente se a forma de governo for aquela que se conhece por ditadura. A solução está na música de Raul Seixas, Mosca na Sopa (mata-se uma e vem outra em seu lugar). É preciso que um lider tenha sempre um substituto.

O que está faltando no Brasil para que as formigas façam isso? Inteligéncia. Essa pode aflorar junto com a educação. Por essa razão é que não se faz muita coisa neste país para melhorá-la. Ela aumentaria a capacidade das formiguinhas de lutar, de se revoltar contra as coisas impostas de cima para baixo, sem consulta popular.

As formiguinhas estão dormindo, sonhando com riquezas, sorte no jogo, ganhar na loteria. Elas não sabem do poder que já têm agora. E às vezes penso que nem querem saber. Preferem deixar os problemas se resolverem por si sós, sem esforço da parte delas, numa obediéncia à Lei do Menor Esforço.

Todo regime é democrático. Vox populi vox Dei. A voz do povo é a voz de Deus. Nós representaríamos melhor a Deus se tivéssemos consciéncia da presença desse Deus em tudo, inclusive dentro de cada um de nós. Tudo posso naquele que me fortalece (disse o apóstolo Paulo em sua carta aos filipenses). Prefiro esse versículo como ele é traduzido por uma outra versão das escrituras: Para todas as coisas tenho forças em virtude daquele que me confere poder (Tradução Novo Mundo). Dito dessa maneira é bem mais ilustrativo da nossa capacidade de luta.

Façamos, por conseguinte, o que fez Mahatma Gandhi. Ele e seu povo (os hindus) se livraram do domínio inglês sem violência (sua palavra característica era AHIMSA (não-violência). Estratégia, inteligência, força interior, entusiasmo: Temos essas armas em potencial. Falta apenas utilizá-las.

Obs.: Não quero que o leitor me veja como um rebelde ou revolucionário, pois todas as revoluções deram resultados que não se sustentaram. O que eu defendo é que entendamos as palavras do Mestre de Nazareh quando disse: "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Portanto, se todos nós pensássemos que não precisamos desse malfadado e famigerado governo para nos atrapalhar, se tivéssemos a consciência do potencial que se abriga dentro de nós (entusiasmo = EN-THEOS-IASMÓS = Deus dentro de nós) faríamos uma revolução mais maravilhosa do que a de Mohandas Karamchid Gandhi na Índia.

António Fernando
Enviado por António Fernando em 20/06/2009
Reeditado em 18/08/2011
Código do texto: T1659030
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